da redação
Quatro meses após o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que ligava Estreito (MA) a Aguiarnópolis (TO), galões de agrotóxicos que caíram no rio Tocantins foram localizados a mais de 300 km do local do acidente, em municípios do Pará.
O incidente, ocorrido em 22 de dezembro de 2024, resultou na morte de 14 pessoas e deixou três desaparecidos, além de derrubar três caminhões – um deles transportando 25 mil litros de pesticidas à base de substâncias como 2,4-D, picloram e acetamiprido.
Até o momento, apenas 29 dos aproximadamente 1.300 galões caídos no rio foram recuperados. A ausência de barreiras de contenção e o aumento da vazão do rio contribuíram para que as embalagens se dispersassem, enquanto o monitoramento oficial se limita a apenas três pontos ao longo do curso d’água.
Documento do Ibama obtido pela Repórter Brasil em fevereiro confirmou que galões foram encontrados em Nova Ipixuna e Itupiranga (PA) a partir de 10 de janeiro. As operações de resgate, no entanto, foram suspensas em janeiro devido ao aumento do nível do rio após a abertura das comportas da Usina Hidrelétrica Estreito, localizada três quilômetros acima do local do acidente.
Embora Ibama, ANA e DNIT afirmem não ter identificado contaminação acima dos limites legais, especialistas questionam a falta de transparência. Fábio Kummrow, toxicologista da Unifesp, critica a ausência de dados públicos: “É muito fácil dizer que a vazão alta diluiu os agrotóxicos, mas sem divulgar os laudos, é um discurso vazio”.
Entre as substâncias envolvidas, o 2,4-D é classificado como possivelmente cancerígeno pela OMS, enquanto o picloram pode persistir no ambiente por anos e o acetamiprido apresenta alta toxicidade para organismos aquáticos. O Ibama estima que serão necessários 145 dias para completar a retirada dos galões, mas não há previsão para o reinício dos trabalhos.