O volante Gerson, do Flamengo, prestou depoimento nesta terça-feira (22) sobre a acusação de injúria racial contra o meia Índio Ramirez, do Bahia, durante a partida entre as equipes no domingo passado (20), pela 26ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro, no estádio do Maracanã. O camisa 8 rubro-negro compareceu à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central do Rio de Janeiro. Ele esteve acompanhado pelo vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee de Abranches.
“Quero deixar bem claro que não vim só para falar por mim, mas também pela minha filha, que é negra, pelos meus sobrinhos, que são negros, pelo meu pai, minha mãe, meus amigos e por todos os negros que têm no mundo sobre o fato que aconteceu. Hoje, graças a Deus, tenho status de jogador de futebol, onde tenho voz ativa para falar e dar força para que outras pessoas que sofrem racismo ou outro tipo de preconceito possam falar também”, declarou Gerson, em vídeo divulgado pelo Flamengo no perfil oficial do clube no Twitter.
“O Flamengo está junto do Gerson, como está junto de todos os atletas do clube. Ele cumpriu o papel de cidadão e agora a questão está entregue à Justiça. A gente espera que ela seja feita”, emendou Dunshee, no mesmo vídeo.
O caso ocorreu após Ramírez marcar o primeiro gol do Bahia na partida de domingo, aos sete minutos do segundo tempo. Segundo Gerson, o meia teria dito a ele: “Cala a boca, negro”. A acusação foi registrada na súmula, apesar de o árbitro Flavio Rodrigues de Souza afirmar não ter presenciado o episódio. O duelo terminou com vitória rubro-negra por 4 a 3. Depois do jogo, o camisa 8 do Flamengo publicou um manifesto contra o racismo no Instagram.
Ramírez se defende
Em nota divulgada na segunda-feira (21) pela manhã, o Bahia comunicou o afastamento de Ramírez até o caso ser apurado. No mesmo dia, à noite, o clube publicou um vídeo a pedido do próprio jogador, com a versão dele sobre o ocorrido no domingo. O colombiano disse não falar bem português, negou ter sido racista com Gerson e afirmou ter pedido ao volante que jogasse “rápido”.
“Em nenhum momento fui racista com nenhum dos jogadores, nem com Gerson, nem com qualquer outra pessoa. O que passa é que quando fizemos o segundo gol, levamos a bola para o meio, para recomeçar o jogo rapidamente. Então, o [atacante] Bruno Henrique finge [sair jogando], eu saio a correr. Digo a Bruno: ‘jogue rápido, por favor, jogue sério’. Ele toca a bola para trás e o Gerson não sei o que me fala, mas eu não compreendo muito o português. Não compreendi o que me disse e falei: ‘jogue rápido, irmão’. Passo por ele, sigo a bola, não sei o que ele entendeu. Ele jogou a bola e passou a me perseguir sem eu entender o que se passava. Passei por trás dele, pois não queria entrar em briga com ninguém. Depois ele saiu falando que o tratei com um ‘cale a boca, negro’, em português, quando eu realmente não falo português, assim fluente. Estou há apenas alguns meses no Brasil e sobre ser racista, não estou de acordo, porque não é bem visto em nenhuma parte do mundo e sabemos que todos somos iguais. Em nenhum momento falei isso e menos ainda usei essa palavra”, declarou o atleta tricolor.
Edição: Carol Jardim