Por Wesley Silas
No dia 29 de dezembro o Portal Atitude publicou uma matéria (leia aqui) sobre a falta de água nos principais córregos e rios da região, aliado com a falta chuva, relatando a preocupação de fazendeiros e empresários do segmento do agronegócio.
“Chegamos aqui no dia 18 de dezembro de 2004 e este rio tinha uma largura imensa, chovia direto e com os anos foi diminuindo, cortava, mas não secava. Neste ano secou completamente. O gado que bebia no rio agora está bebendo a água da cisterna e na água que ainda temos em uma represa”, alertou o produtor Hélio Gonçalves Reis sobre as condições do Rio Gurupi.
Foi o suficiente quase um mês a chuva, para as águas dos córregos e do Rio Gurupi, assim como todo o Tocantins, voltassem a correr com abundância; mas, quando refletimos o passado recente, chegamos a conclusão de que falta de água é um caso que merece reflexão profunda para mudança de comportamento do homem voltado à manutenção do bioma do Cerrado e sobrevivência das futuras gerações.
Em recente entrevista publicada no Jornal Opção e reproduzida no Portal Atitude, (leia aqui) o professor Altair Sales Barbosa, uma das maiores autoridades no estudo de cerrado, explicou que o cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos chegou ao seu clímax evolutivo. “Ou seja, uma vez degradado não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade. Por isso é que falamos que o Cerrado é uma matriz ambiental que já se encontra em vias de extinção”, informou o professor.
Ele denunciou que não encontra mais neste bioma as populações plantas nativas, pois foram degradadas e que a ação humana modificou o solo da vegetação que não brota mais. “Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, melhorando sua qualidade, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo”.
Água
Para o professor as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas (nascentes) que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano e quando substitui a vegetação nativa, substituindo por outras altera o ambiente, a vegetação introduzida como a soja ou qualquer outro tipo de cultura, tem uma raiz extremamente superficial prejudicando os lençóis freáticos.
“Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano”, alerta o professor.
Como conseqüência, segundo levantamento do pesquisador, uma média de 10 pequenos Rios do Cerrado desaparecem a cada ano.
“Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado. A água, então, é outro elemento importante do bioma que vai se extinguindo”, alerta o professor.
Mundo mais sustentável
O professor mostrou um cenário doloroso e que a perspectiva para um futuro melhor estaria na pesquisa dirigida, especialmente, para este bioma e assim a ciência possa mostrar como recuperar uma nascente do Cerrado.
“As escolas têm de trabalhar a consciência e não apenas o conhecimento. Uma coisa é conhecer o problema; outra, é ter consciência do problema. A consciência exige um passo a mais. Exige atitude revolucionária e radical. Ou mudamos radicalmente ou plantaremos um futuro cada vez pior para as gerações que virão”, apontou o professor.