Por Wesley Silas
Na próxima segunda-feira, 19, às 19h, o professor e doutor, Adônis Delano, receberá na Câmara Municipal o título de Cidadão Gurupiense. Em entrevista, estilo ping pong, ele comenta sobre sua vida em Gurupi e os casos que envolvem sua história de vida antes e depois que chegou a Gurupi.
Onde você nasceu?
Nasci na cidade de Santa Vitória do Alto Parnaíba (Sul do Estado do Maranhão).
Em que lugares você morou além de Gurupi?
Quando chegamos em Gurupi, eu e meus familiares, não tínhamos casa própria. Por isso, é difícil enumerar endereços. O certo é dizer, que moramos em todas as regiões da cidade, onde meus pais podiam pagar aluguel. Morei também em sítios próximos da cidade, por algum tempo. Guardo ótimas lembranças desse período. Além de Gurupi, morei em Brasília, São Paulo, Goiânia, Anápolis/Go, Cuiabá-MT, Porto Velho/RO, Rio Branco/Acre também em algumas cidades da Bolívia, Peru, localidades fronteiriças com o Chile e Equador, além de Asunción/Paraguai e Buenos Aires/Argentina.
Senti saudade de um desses lugares? Qual e por quê? Sou um saudosista inveterado e convertido.
Você foi aluno do Colégio Estadual de Gurupi? Sim. Naquela época, só existia o Ginásio Estadual de Gurupi nessa região do norte goiano, onde se localizava Gurupi. Além de Gurupi, o outro Ginásio mais próximo ficava em Porto Nacional (sudoeste do estado, e para aquela cidade, somente ia, quem possuía poder aquisitivo).
Foi um aluno levado, aplicado ou tímido? Tímido? Nem tanto, nem tanto (risos). Carinha de anjo, mas rebelde aos extremos. Até gostava de trocar socos, com meus desafetos. Nem pareço né?
Você sempre foi um artista? Sim. Justifico minha rebeldia juvenil, justamente por ser muito afeito ao canto e a escrita. Por isso era muito criticado, e por essa diferença, muitas vezes tive que confortar situações vexatórias, porém jamais levei desaforo pra casa (risos) Compus inúmeras canções, (solo) e em parcerias. Sou um dos autores do HINO OFICIAL DE GURUPI. Espero encontrar intérpretes que queiram gravar minhas músicas inéditas.
Quando começou a compor e a cantar? Ainda criança.
E quando começou a escrever poesias? Também ainda criança, inspirado em poetas como Gonçalves Dias, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes e Castro Alves.
Quando aconteceu o primeiro festival de música popular brasileira em Gurupi?
Em julho de 1972.
Já ouvi dizer que você sempre vencia os festivais, é verdade? No primeiro festival, fui o grande vencedor com a música de minha autoria, intitulada FIM DE MUNDO. Nos seguintes, se não me engano, sempre estive entre os cinco finalistas.
Como você explica que uma cidade do interior do Goiás (na época) conseguiu, naquele tempo, promover eventos culturais desse porte?
No primeiro festival, fui o grande vencedor com a música de minha autoria, intitulada FIM DE MUNDO. Nos seguintes, se não me engano, sempre estive entre os cinco finalistas Explico: possuímos um grupo teatral de vanguarda, denominado (TEMOPI) que quer dizer, (Teatro Moderno Piauiense), cujo diretor e autor dos textos, era um piauiense de Terezina, que viera residir em Gurupi, pois era funcionário do Banco da Amazônia. Chamava-se José Carlos de Santana Cruz. O Zé Carlos, era sobrinho em primeiro grau, do então reitor da UNB/Brasília, naquela época. Zé Carlos era um jovem cultíssimo. Seus textos eram inspirados no Glauber Rocha, e outras feras da dramaturgia nacional, como Dias Gomes, entre outros. (Bom lembrar esse tempo).Como a repressão e o medo de sermos pegos por agentes do governo era algo horripilante, a maioria dos atores foram se afastando do grupo, talvez por precaução. Com o desfalque e por motivos alheios ao nosso conhecimento, em uma certa tarde do mês de maio de 1970, sugeri aos poucos companheiros reunidos que restava na equipe, que fizéssemos um festival de música, para que fosse preenchida essa lacuna, criando um concurso inspirado nos grandes eventos da Tv. Record de São Paulo e no FIC, Festival Internacional da Canção. A princípio a sugestão pareceu a todos, um absurdo. Sugeri que devíamos tentar. A idéia vingou. Fomos a primeira cidade do interior do país de que se tem notícia, a promover um movimento dessa magnitude. Ressalto, que após a 3a. edição do nosso festival de MPB, a rádio Brasil Central de Goiânia, passou a transmitir todas as edições, via ondas médias, curtas e tropicais, por isso, começou o chamamento que posteriormente trouxe inúmeras participantes dos mais longínquos lugares da Pátria, e dentre essas gratas revelações, surgiram Juraildes da Cruz, antes, denominado da Luz, Genésio Sampaio, agora Tocantins, entre outros.
É verdade que você é um dos compositores do hino da cidade de Gurupi? Como foi criar algo assim? Com o sucesso do festival, começou a aparecer na cidade, muitos aventureiros em busca de promoção. Quando percebi essa movimentação, convidei dois parceiros de luta musical, Milton Ferré e seu irmão Adão Ferreira (in memoriam), compramos um litro de cachaça 51 no Mercado Municipal, onde hoje se situa o Centro Cultural Mauro Cunha, fomos para o quintal de minha casa, lá, eu fiz uma redação que posteriormente transcrevemos em versos, daí nasceu a letra e a melodia do HINO DE GURUPI, composto por nós três.
Do que você sente mais saudade quando relembra essa época dos festivais das canções? Sinto saudade de tudo. Muita saudade. Como falei, sou um saudosista incurável (risos).
Havia outras iniciativas culturais? Sim. Por causa de nossas crises existenciais, sugeri à Irmã Cléci, freira da Ordem de São Carlos, proveniente do RS, que também era minha professora de Língua Portuguesa no ginásio, que criássemos um grupo, para debater nossos conflitos juvenis. Ela aceitou. Convidamos todos os alunos do Ginásio, alguns aderiram, outros não, daí nasceu o primeiro grupo de jovens católicos de Gurupi, denominado IJUCA=Instituição Juvenil de Cultura e Arte.
Se você pudesse deixar um recado para o futuro, qual deixaria?
Que ninguém desista de sonhar, porque sonhar é melhor que não sonhar.