“De uma hora para outra, profissionais da área da Educação foram obrigados a adaptar os seus conhecimentos e práticas pedagógicas, outrora devidamente comprovados de um ambiente presencial e partindo para um ambiente virtual e, para alguns, essa transição foi fácil uma vez que já possuíam um pouco de conhecimento na área tecnológica. Contudo, para outros, esta transição foi até mesmo traumática, pois além de não receberem capacitação, não dispunham de meios tecnológicos para colocar em execução o que seus empregadores, nesse caso, entes públicos e privados exigiam”. Helio Buenaga
Por Helio Buenaga Sevilha
Conforme já dizia Jean Jacques Rousseau, o sofrimento humano se iniciou com o surgimento da propriedade privada e consequentemente começaram a ocorrer as diferenças entre os detentores de maiores bens e as pessoas comuns, dando início ao processo de corrupção do bom selvagem que não se opôs ao famoso pedaço de terra que fora cercado por alguns.
Com o crescimento das diferentes sociedades posteriores, o acúmulo de riquezas e a concentração da propriedade privada foi criando classes diferentes até que com o advento do capitalismo, a concentração dos bens e dos meios de produção em propriedade dos burgueses fizeram com que uma grande quantidade de pessoas, ditos proletários, ficassem em segundo plano, apesar de serem a força de trabalho dominante.
O intuito não é tecer elogios ou críticas à figura e o pensamento de Karl Marx, contudo a defesa de que a propriedade privada se concentra na mão destes usurpadores e torna-se muito perceptível, nos dias atuais, sobretudo na área da Educação por conta da forma como os professores das redes pública e privada vêm sendo tratados neste período tão controverso: a pandemia.
De uma hora para outra, profissionais da área da Educação foram obrigados a adaptar os seus conhecimentos e práticas pedagógicas, outrora devidamente comprovados de um ambiente presencial e partindo para um ambiente virtual e, para alguns, essa transição foi fácil uma vez que já possuíam um pouco de conhecimento na área tecnológica. Contudo, para outros, esta transição foi até mesmo traumática, pois além de não receberem capacitação, não dispunham de meios tecnológicos para colocar em execução o que seus empregadores, nesse caso, entes públicos e privados exigiam, ou seja, uma educação de qualidade, processo de aprendizagem constante, pouca evasão escolar e aulas muito interessantes, tornando os profissionais da Educação praticamente YouTubers e influenciadores digitais associados à figura de educadores.
Em meio a toda essa situação, muito são ouvidos, contudo menos os professores. Escuta-se opinião de Secretário de Educação, de pais, de alunos, de políticos, de donos de escolas, mas os professores mesmos, esses se encontram em uma espécie de invisibilidade, afinal são vistos apenas como ferramentas.
A máxima defendida por Karl Marx acerca da propriedade dos bens dos meios de produção aplica-se de maneira bastante interessante, nesse contexto, tendo em vista que os professores de ambas as redes agora utilizam os seus celulares, seus computadores, sua internet e até mesmo a sua energia elétrica para alimentar um sistema em que, muitas das vezes, não são reconhecidos não só pelo esforço, bem como pelo gasto, tendo em vista que não recebem um centavo a mais pelo trabalho o qual não foram contratados e ainda precisam gastar de seus proventos para melhorar seus equipamentos e poder lograr êxito nos anseios de seus gestores, que tal como consumidores da força de trabalho alheia, tiveram seus gastos reduzidos, porém não repassaram isso de forma alguma aqueles que tiveram seus gastos ampliados.
Posto isso, torna-se mais preocupante a postura de muitas pessoas que exigem redução dos valores das mensalidades, quando se trata do ente privado, uma vez que alegam que os gastos foram menores, contudo acabam por se deleitar na hipocrisia de buscarem a defesa de uma educação de qualidade, mas não buscam a defesa de uma transferência desses valores para os professores, nesse caso, quer seja no ente público ou no ente privado.
No tocante ao ente privado, é mais fácil de perceber essa situação nas planilhas de gastos, mas no tocante ao ente público, enfim para onde vão os recursos a mais de energia, limpeza, manutenção e infraestrutura que não estão sendo investidos nas escolas? Onde estão sendo utilizados tendo em vista que não é no treinamento, na capacitação ou até mesmo na concessão de equipamentos para que os professores continuem trabalhando da melhor forma possível?
Está mais do que na hora de serem informados, sobretudo pelos entes públicos o destino das verbas da educação já aprovados e direcionados para o ano letivo de 2020. E você que pensa que professor está ganhando em casa sem fazer nada, convido-te a passar o dia na casa de um professor para verificar em que se tornou o que outrora foi um lar.
Cabe reflexão.