Movimento Participa Gurupi vai muito além da defesa do PL de autoria popular da redução de salários dos vereadores e mostra ser uma ferramenta voltada,não para eliminar o poder dos políticos, mas para acompanhá-los, no sentido de prestação de contas e da construção de uma cidade mais justa, democrática e sustentável.
por Wesley Silas
A sociedade brasileira vive um momento de transformação marcante, deixou de ser aquele rabo de cachorro em constante movimento, personifica uma nova postura e faz um contraponto ao comodismo em defesa de uma governança justa, democrática e transparente.
Neste sentido, alguns movimentos surgem no país e despertam para um novo conceito considerado como indicador da nova democracia. Um exemplo deles é o ‘Movimento Floripa te Quero Bem’, coordenado pelo Instituto comunitário Grande Florianópolis (ICOM) que tem a missão de promover o desenvolvimento comunitário por meio da mobilização, articulação e apoio a investidores e organizações sociais e; aliado ao seu amadurecimento, se tornou um exemplo de accountability social.
“Tudo é muito novo. Advogados, professores, estudantes, assistente social, com média de idade 45 anos, formam um grupo que não se conheciam até a bem pouco tempo; mas, movidos pela consciência cidadã, tem conseguido superações, conviver e trabalhar naquilo que lhes é comum”, avalia o empresário e presidente da ACIG, Jaime Xavier sobre o movimento Participa Gurupi.
O primeiro ato do movimento Participa Gurupi mostra os efeitos colaterais da distância criada entre o político e a comunidade. A resposta foi a ideia do PL, de iniciativa popular, que prevê a redução dos salários dos vereadores da cidade. No entanto, o ato popular, até agora, não foi digerido por parte dos vereadores que mostram insensível com aquilo que eles poderiam ter como aliados na própria projeção política e futuro da cidade.
“A maior certeza que tenho no momento é que me sinto bem no meio deles, me identifico e tenho esperança. A possibilidade de cansaço preocupa: é muito serviço, desgaste, despesas e, principalmente, a falta de consciência da sociedade. Lamento que, até o momento, lideranças importantes não tenham aderido, mas vou repetir, ‘meu convívio no meio deles é melhor que entre empresários’. É um grupo bem intencionado que precisa de ajuda!”, relata Jaime Xavier
Dentre os episódios marcante nos confrontos, estão os comportamentos, considerados despóticos do presidente da Casa, Wendel Gomides (PDT), que ainda não amadureceu para aceitar o debate bem fundamentado em bons argumentos, aliado à necessidade de medidas curativas de recuperação, não só da imagem da casa, mas tambem do papel do político como “representante do povo” para romper a decadência tradicional e instigar uma governança democrática-qualificada, capaz de identificar e solucionar problemas comuns da sociedade por meio de mudanças na cultura política.
“Vieram para cá fazer baderna, quebraram a caixinha do extintor. Então, eu tive que chamar a polícia para manter a ordem nesta Casa. Ninguém pode ‘xingar’ o vereador porque aqui é uma Casa de Leis de respeito e não aceitaremos mais este tipo de baderna nesta casa”, verberou Wendel Gomides na última Sessão ao justificar a presença da Polícia naquela Sessão, um dia após aos protestos do movimento Participa Gurupi. Em seguida ele lembrou que é policial civil e citou sua experiência como chefe do Presídio de Cariri e da Casa de Prisão Provisória de Gurupi.
Outra ação do movimento é acompanhar o Projeto de Lei 033/2016 que debate a previsão de gasto da Lei Orçamentária de 2017, com foco no aumento dos investimentos voltados ao combate as drogas (R$ 594.343,75), desenvolvimento da criança e do adolescente (R$ 391.320,88), amparo aos idosos (R$ 391.320,88) e preservação ambiental (R$ 200 mil), juntos somam R$ 1.278.996,88 – num orçamento (Fiscal e Seguridade Social) estimado em R$ 324.335.859,75.
Accountability social
Você já ouviu falar em accountability social? Ainda sem tradução para o português, mas, alguns estudiosos, como Francisco Gabriel Heidemann, defende que na língua português a palavra que mais se aproxima do significado de accountability seria responsabilidade. Para este autor, etimologicamente, ela deriva de dois termos da língua latina: ad + computare, significando “prestar contas a”, “dar satisfação a”, corresponder à expectativa de”.
Apesar de ainda ser muito cedo para afirmar se há um início de desenho para formação de accountability social em solo gurupienses, o professor da IFTO, Francisco Cláudio, defende que o movimento Participa Gurupi tem chances de se tornar um exemplo de accountability social.
“Sim, pode ser um exemplo de accountability social, a nós interessa a maior e melhor participação do cidadão no combate de abusos de seus representantes e no pensar solução aos problemas novos e acumulados que imperam a otimização da qualidade de vida do cidadão”, avalia o professor do IFTO, Francisco Cláudio Lima Gomes.
O crescimento da Accountability social chegou ao ponto do Banco Mundial sinalizar parcerias voltadas à sua prática e, caso o movimento Participa Gurupi, cresça neste sentido mostrará um bom exemplo de sociedade organizada ao Tocantins e ao Norte do Brasil.
“Em 1980 o Banco Mundial começou a incorporar a noção de Accountability social em sua agenda de projetos e programas sociais realizados em diferentes países voltado para o desenvolvimento dos países, o combate à corrupção, às desigualdades e à pobreza, possibilitando assim às vozes dos cidadãos chegassem até os governos, tornando as instituições mais receptivas às demandas da sociedade”, lembra Jeferson Dahamer em sua dissertação de mestrado em Administração na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).