“O documentário questiona o processo de escolarização do mundo a partir da perspectiva ocidental cujo intuito é dominar as diferentes culturas para atender uma lógica do mercado baseada no consumo, no individualismo e na competição.” João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Miracema do Tocantins. Trabalha como projeto em cinema e educação
Até que ponto a educação pode ser benéfica? Se é benéfica, quem se beneficia de fato? Tais questões motivam o documentário Escolarizando o mundo- o último fardo do homem branco, dirigido por Carol Black- EUA/Índia ( 2011).
O filme apresenta uma narrativa construída a partir de imagens do mundo asiático em contraste com o ocidental. Com isso confronta o processo de ocidentalização em várias partes do mundo.
Especificamente, Escolarizando o mundo trata de Ladack, uma região situada no sudeste da Ásia, também chamada de “Pequeno Tibet”. Essa região, que é palco de disputas entre Índia, Paquistão e China, fica no Himalaia e é marcada pela tradição tibetana budista.
No oposto da tradição budista há na vizinha cidade chamada Leh, uma escola baseada na cultura ocidental que tem atraído cada vez mais várias pessoas da cidade tradicional budista.
Os moradores mais antigos de Ladack reclamam da invasão da cultura ocidental tendo em vista que os mais novos que são atraídos para Leh perdem suas origens e não conseguem se adaptar em nenhuma cultura, ficando assim a mercê da sorte.
O documentário questiona o processo de escolarização do mundo a partir da perspectiva ocidental cujo intuito é dominar as diferentes culturas para atender uma lógica do mercado baseada no consumo, no individualismo e na competição.
Intercalando imagens dos diferentes mundos que se contrastam, o filme de Carol Black denuncia a globalização da educação que tem sido difundida até mesmo por meios do que podemos chamar de “boas intenções”, quando no fundo trata-se de uma forma de colonização legitimada por intermédio de campanhas missionárias, programas educacionais com o intuito de formar as crianças de diferentes culturas para uma cultura de massa.
Programas como a “Educação para todos” se colocam nessa perspectiva e são incentivados pelo Banco Mundial, pela ONU e apoiados por grandes corporações do mercado, como o Mc Donald.
Em geral as grandes nações econômicas, que atuam claramente com objetivos de ampliar sua dominação no mundo e consolidar a economia global a seu favor, incentivam ações e programas voltados para a educação com vistas a incutir valores ocidentais e, com isso “tiram as pessoas de suas independências, suas culturas e autorrespeito” para torná-las dependentes, conforme denuncia Vandana Shiva, Navdanya, da Fundação de Pesquisa pela Ciência, Tecnologia e Ecologia.
Para outra entrevistada, Helena Norberg, da Sociedade Internacional pela ecologia e pela cultura, essa educação globalizada é responsável por “introduzir uma monocultura humana ao redor do mundo, pois, o currículo ensinado ignora as diferenças culturais”; é o que chamamos de tentativa de homogeneização cultural.
Na escola de Leh, onde predominam os valores ocidentais as crianças oriundas da cidade de Ladack, da cultura tradicional, são proibidas de falar sua língua de origem, a hindu, e são punidas a pagar 5 rupias (moeda local) caso se expressem em sua língua nativa.
Com o documentário de Carol Black temos a possibilidade de questionar os diferentes modelos de educação, suas reais intenções e pensar como lidar com essa realidade de globalização da educação.