Estão sendo cumpridos 22 mandados de prisão preventiva e 32 mandados de busca e apreensão em cidades do Tocantins, Rio Grande do Sul e São Paulo. No Tocantins, os mandados estão sendo cumpridos nas cidades de Palmas, Paraíso do Tocantins, Cristalândia, Dueré, Aliança do Tocantins, Colinas e Araguaína. “Pois é pô, aquele cara lá, mano ele mora bem aqui na cidade onde é que eu tô , num tem, de Dueré? Aí ele me viu aqui, falou que me pegava, num sei o que, que me matava e nois corre junto aí, tá ligado, tio? Tudo três, passa nada, tá ligado, daquele jeitão! Eh meu mano, o cara tá aqui, tá pagando de doido, meu mano. O cara mostrou foi uma arma pra mim, meu mano, falando que ia pipocar eu agorinha. Eu tô até no pânico, doido”. Relata um membro da facção criminosa em um dos áudios gravados pela Polícia Civil.
Por Redação
A Polícia Civil do Tocantins, por meio da 1ª Divisão Especializada de Repressão ao Crime Organizado (1ª DEIC – Palmas), deflagrou na manhã desta segunda-feira, 23, a segunda fase da operação “Rosetta” contra membros de uma organização criminosa. Objetivo é cumprir 22 mandados de prisão preventiva e 32 mandados de busca e apreensão em cidades do Tocantins, Rio Grande do Sul e São Paulo.
No Tocantins, os mandados estão sendo cumpridos nas cidades de Palmas, Paraíso do Tocantins, Cristalândia, Dueré, Aliança do Tocantins, Colinas e Araguaína. No Rio grande do Sul, uma pessoa foi presa na cidade de Taquara. E em São Paulo, as buscas foram feitas na segunda maior favela da zona leste de São Paulo, reduto da facção paulista na cidade.
Março Violento
A primeira etapa de investigação, deflagrada em outubro do ano passado, objetivou a desarticulação da cúpula feminina da facção (à época, 14 mulheres líderes da organização criminosa foram presas). Nesta segunda fase e a partir da análise do material colhido na fase inicial da operação, os policiais civis da 1ª DEIC Palmas angariaram elementos contra os membros da faceta masculina da facção, responsável por vários homicídios em Palmas e tantos outros crimes violentos na capital.
Conforme o delegado-chefe da 1ª DEIC Palmas e coordenador da operação, Eduardo Meneses, a operação desta segunda-feira é uma resposta da Polícia Civil ao violento mês de março deste ano, quando foram registrados vinte homicídios, oito em único final de semana. Segundo o Delegado, um dos integrantes da facção responsável por coordenar esses ataques foi preso em Palmas durante a ação policial desencadeada hoje.
O Delegado explica que a investigação apontou também um poder ação cada vez mais abrangente da facção. “Ela expandiu seu poder de atuação para mais diversas modalidades criminosas, ficando responsável, assim, por boa parte do crimes violentos em Palmas e nas demais cidades do interior do Estado”, observou.
Conforme investigado, os dirigentes da organização criminosa perceberam que seria muito mais interessante financeiramente não se limitar ao comércio de drogas (sua principal geradora de recursos financeiros). Viram que se voltassem para a prática de crimes patrimoniais, em especial roubos a residências de luxos e ataques contra estabelecimentos bancários, seria mais uma poderosa fonte renda para o bando.
Durante o período de trabalho investigativo foi identificada uma conta bancária de São Paulo que recebia boa parte dos valores oriunda de todas essas práticas criminosas. Um dos presos na operação foi um dos responsáveis pela fuga na Casa de Prisão Provisória de Guaraí, em março deste ano. Na ocasião, o fugitivo levou fuzis da unidade prisional e fez um agente penitenciário refém.
Cargos
As principais lideranças atuantes no Tocantins, os chamados “Gerais”, foram presos na operação desta segunda-feira. Cita-se, dentre as figuras de maior envergadura, a prisão do “Geral do Estado, Geral do Progresso, Geral da Capital, Geral do Interior, Geral da Rua, Geral da Oeste, Geral Da Sul, Geral da Norte, Geral de Porto Nacional, o Salveiro, entre outros cargos.
Operação
A operação contou com a presença de cerca de 200 policiais civis. No Tocantins, participaram os efetivos da Diretoria de Repressão ao Crime Organizado (DRACCO) e das divisões a ela subordinadas como as DEICs de Palmas, Paraíso do Tocantins, Gurupi e Araguaína; Delegacias de Polícia de Cristalândia, Dueré, Aliança do Tocantins e Colinas. Além dos efetivos do Grupo Operacional Tático Especial (GOTE) e do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer). No Rio Grande do Sul, a participação foi dos policiais do setor de investigações da Delegacia de Taquara e das delegacias de Parobé, Igrejinha e Três Coroas. Em São Paulo, o apoio ficou por conta dos policiais civis da 5ª Delegacia de Investigação sobre Roubos a Bancos.
O nome Rosetta refere-se à Rosetta Cutolo, irmã de Rafaelle Cutolo, chefe da Nuova camorra Organizatta, uma facção criminosa de atuação na Itália. Rosetta teria orquestrado, em 1978, a fuga com requintes de ficção cinematográfica a fuga de seu irmão de uma unidade hospitalar psiquiátrica. Até aquele momento, não se tinha registros da participação feminina em altos cargos de decisão e gerenciamento de organizações criminosas. O nome foi mantido nesta segunda etapa da investigação porque a partir das prisões das mulheres em outubro chegou-se à cúpula masculina presa hoje.
A hierarquia na facção
Geral do Estado: É mais alta representação da organização no Estado. É quem dita as ordens, convoca reuniões e decide em conjunto com a representação nacional a inclusão e exclusão de novos faccionados. Também dá direcionamentos e preside julgamentos de faccionadas ou não, quando infringem algumas das regras.
O Salveiro: responsável por repassar as informações – os vulgarmente conhecidos “salves”. É quem capta todas as informações em decorrência de fatos relacionados à facção, tais como: brigas, inserção ou exclusão de faccionados, relatórios, ordens emanadas e recebidas.
Geral de Capital: Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção para a alta cúpula da organização.
Geral do Interior: Responsável por repassar as atuações dos membros do interior para a alta cúpula da organização.
Geral de Porto Nacional: Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção na região de Porto Nacional para a alta cúpula da organização.
Geral da Rua: Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção para o geral da região em que atua.
Geral da Oeste : Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção para o geral da região especificada.
Geral da Sul: Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção para o geral da região especificada.
Geral da Norte: Responsável por repassar as atuações dos demais membros da facção para o geral da região especificada.
Geral do Progresso: Responsável por angariar recursos para a facção.
TRANSCRIÇÃO DOS ÁUDIOS
ÁUDIOS HOMICÍDIOS
Áudio 1 – Cuidado aí meus irmãos, oh o Gongo roubou uma menina aí, num tem? Tá usando o Face dela, num tem? Marcou um encontro com um irmão lá na 122 lá e deu uma ataque no irmão lá, oh!”
Áudio 2 – Eeh moço… e esse cara não morreu não? Não acertou nem um tiro na cabeça desse bicho não?”.
Áudio 3 – “Oiaa e vei, agora que era a hora… agora que era a hora moço! Se tivesse o… Cade o Pirata mermo moço? Coloca ae essa ferramenta (Ferro: Arma) ae, agora que era a hora… Pra nois matar ae esse safado. Penso ae que nois não tem… não tem diálogo aqui pra nois, ta arrumando uma ferramenta (Ferro: Arma) pra nois não matar ele!”.
Áudio 4 – “Iae meus irmão, uma boa e um abraço ae. Deixa eu perguntar uma coisa ae pros irmão ae, quem que tem caroço (munição) ae de oitão (revolver cal.38), pra nois ta metendo bala nos cu vermelho (CV- Comando Vermelho) agora, mas tem que ser pra agora mermo!”.
Áudio 5 – E como é que foi mesmo, pô? Fizeram foi matar esse bicho aí de tiro, foi? Como é que foi o proceder mesmo?
Áudio 6 – mulher falando – Pois é, tipo do seguinte, esse cara aí corria com nois, tá ligado? O Capitão aí? Aí tipo do seguinte rolou uma treta lá, num tem? Ele foi e passou lá pro CV lá, tá ligado? Aí nois peguemos e fumo cobrar lá no Formoso lá, nós descemos lá no bagaço dele lá.”
Áudio 7 – mulher falando- “O cara botou até polícia atrás , num tem? Moço o neguim aqui tá peidado. Só que vai dar bom. Nois vai descer lá. Nois já sabe onde é a quebrada dele. Nois sabe onde ele fica lá. Nois vai descer lá e vai ser daquele modelo. Moço esse cara é muito é um safado. Não, se tu vê, se eu for contar essa caminhada dele aí, vocês fica é encabulado com a desgraça desse cara. Esse cara é muito é um safado esse CV vei incubado”
Áudio 8 – “Tá ligado aí então, né família? Tá ligado que que tá rolando aí né? Vamos abrir o olho aí em questão de marcar saidinha de qualquer dona aí que pode ser que o cara tá usando o dela, já troca, bota de outro. Ninguém nunca se sabe como é que é, entendeu? O moleque tá fazendo uma casinha através do celular de uma chegada. Ninguém tem o entendimento direito, mas tem que ter cuidado com esse moleque aí, já que ele tá fazendo assim; facinho dele abraçar um irmão aí!”
Áudio 9 – “E aí meu mano , Bata, só de boa, tio? Então meu mano, te dá a ideia aqui, papo reto aqui, num tem? Hei meu mano, aquele bagulho lá do grupo lá, num tem, meu mano? Pois é pô, aquele cara lá, mano ele mora bem aqui na cidade onde é que eu tô , num tem, de Dueré? Aí ele me viu aqui, falou que me pegava, num sei o que, que me matava e nois corre junto aí, tá ligado, tio? Tudo três, passa nada, tá ligado, daquele jeitão! Eh meu mano, o cara tá aqui, tá pagando de doido, meu mano. O cara mostrou foi uma arma pra mim, meu mano, falando que ia pipocar eu agorinha. Eu tô até no pânico, doido.”
ÁUDIOS EXPLOSÃO
Áudio Explosão 1 – Pois é paizão, pois é moço! Caçar uma ideinha massa aí! Se liga! Tô com umas ideias ali, num tem, mano? Uns moleques ali vai testar uns explosivos ali, tá ligado? Umas bananas ali. Qualquer coisa alí, pô, vou uma ali, nois vamo ver aí: umas duas , três com eles e nós vamos ver aí se topa ao menos um caixa aí!
Áudio Explosão 2 – Não pô, eu to falano, o canal que eu tô falando é dos explosivos, num tem, pô? O mano aculá tem, vai testar amanhã. Amanhã num é sexta, pô? Se amanhã for sexta ele vai testar amanhã. Sexta vai testar, num tem? Aí disse que vai me fortalecer uma e tinha um trampo também, num tem? Qualquer coisa ia me chamar, num tem? Eu pegar essas bichas aí nois vamos ver aí, caçar um interiorzinho que tem aí, menino. Nois arrebenta um caixa com alavanca aí, bota lá e sai fora, menino! Pega o dinheiro, éh. É isso aí!
ÁUDIOS CASA DE LUXO
Aúdio 1 casa de luxo – Mano o Oxalá mais o Miguel conhece o cara, mano. O cara é um veinho, pô, tá ligado? Ele é humildezinho pra carai. Nois encosta na esquina, eu vou lá trocar ideia com ele: chega aí tio, tio e tal, vou puxando assunto com ele o mano chega e enquadrou, pronto, cabou parceiro.
Áudio 2 casa de luxo – Pois é pai! É um cara e uma mulher, num tem? Essa fita tá assim, num tem? Povo tá falando, mas disse que tem, pai. Tem o dinheiro lá, pai. Os caras que tá dando a cena mesmo, num tem? Disse que no mínimo, mínimo pra nois pegar é cento e cinquenta mil. Fora isso, o ouro e os relógios, os Rolex lá,num tem? Diz que é dez Rolex, parece, ou é oito, tá ligado? Oito Rolex, tá ligado? Cada um avaliado em dez mil, ou mais, pô! Parece que o bichim lá é meio zinca, num tem? O bicho lá, pô. O cara que tá dando essa fita, colava mais esse cara. Esse bicho virou pilantra, tá ligado? Esse cara que tá com esse dinheiro tudo aí parece que patolou o moleque lá, aí o cara tá dando essa cena aí. O moleque tá preso.
Áudio casa de luxo 3 – Mano, tem o dinheiro mesmo. Tem o ouro. O Oxalá se ligou nas ideias do moleque lá, num tem? O cara também, pô, o cara daquele jeito, dá um trabalho também pra querer entregar o dinheiro e parece que o bicho tem uma PT também, num tem, pô? Mas tem o dinheiro, o cara falou que o cara tem o dinheiro mesmo, num tem? Tem o dinheiro, o ouro, o rolex do doido, dez mil conto, tá ligado? Nois viu a casa lá, moço, mas o negócio que é embaçado demais, pai, essa cidade aqui, num tem pô? Câmera demais, pia! Câmera, doido! Aí pro cara ficar esperando esse cara entrar, mano. Na frente da casa é embaçado, pô! Tá ligado? Tem que arrumar uma estratégia pra tá coisando lá, num tem?