Antes de atirar a primeira pedra: “Nutro inveja? Quando noto outras pessoas preferidas acima de mim fico amuado? Me ressinto de que exista gente mais inteligente, mais rica, mais bem relacionada e mais saudável que eu?”
“Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra…”.
João 8:7
Para ganhar o direito de apontar o dedo, cabe a cada um o dever de olhar para dentro de si. Para julgar é preciso ter consciência de que a régua que mede os demais também mede o juiz. Quem deseja manter contabilidade dos erros alheios tem que estar ciente do livro que vem sendo redigido sobre os próprios pecados.
Antes de atirar a primeira pedra convém fazer algumas perguntas:
- A injustiça social, tão condenada na tradição profética da Bíblia, me incomoda? Eu a considero pecado?
- Consumismo e materialismo me fascinam? Perco a tranquilidade por não alcançar os desejos suscitados pela propaganda?
- Amo o resplendor do poder, a pompa da glória e a espetaculosidade que o dinheiro promove?
- Minha vida se caracteriza por frivolidade? Os novos ricos superficiais me consideram um dos seus?
- Gasto quanto tempo de minha vida engajado em procurar o direito do órfão e da viúva – metáforas vivas do pobre?
- Sou intolerante e raivoso com os diferentes? Perco a paciência ao perceber outras pessoas com a razão que, outrora, eu entendia estar comigo?
- Nutro inveja? Quando noto outras pessoas preferidas acima de mim fico amuado? Me ressinto de que exista gente mais inteligente, mais rica, mais bem relacionada e mais saudável que eu?
- Me sinto ofendido com facilidade? Quando outros parecem não perceber minha presença ou sem valorizar o tanto que eu acho merecer, fico chateado?
- Orgulho se insinuou em minha alma? Dou excessiva importância a posição, título e reputação? Tenho medo de perder dinheiro, audiência, respeitabilidade e bom trânsito entre meus pares se expor honestamente minhas convicções?
- Meus negócios e minha vida profissional precisam de anonimato? O meu metro tem cem centímetros? O meu quilo tem mil gramas?
- Divulgo bisbilhotices? Nutro um prazer mórbido de conversar sobre fracassos alheios? Fantasio histórias inverídicas sobre a vida particular dos outros?
- Critico sem amor? Minha fala vem com ranho?
- Sou verdadeiro no que falo, ou antes exagero, procurando dar uma impressão falsa sobre mim e sobre minhas convicções?
- Vivo sem compromisso com o futuro, na lógica do “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”?
- Caminho sob a bandeira da gratidão, constantemente reconhecido das inúmeras pessoas que me deram a mão, investiram, perdoaram e cuidaram de mim? E que sem elas eu não seria quem sou hoje?
Só depois desse olhar introspectivo alguém pode ser atrever a sentar na cadeira de Moisés, julgar e sentenciar um apedrejamento.
Eu não me atrevo.
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim é escritor e teólogo, presidente nacional da Igreja Evangélica Betesda