(Ricardo Gondim) Vez por outra as sinopses dão curto-circuito e, independente de erudição, riqueza ou adesão religiosa, pessoas falam bobagem. Não muito tempo um professor universitário afirmou que os baianos são tão estúpidos que só conseguiram inventar o berimbau – instrumento de uma corda só. Para ele, com três cordas, uma cítara, seus conterrâneos não conseguiriam tocar. Considerando que o magno professor tem doutorado, não há outra explicação: a corrente elétrica cerebral pifou.
Quem não lembra do então ministro Rubens Ricupero? Ele soltou um monte de asneiras ao ser entrevistado. Como supunha os microfones desligados, passou a tecer loas sobre si mesmo. Gabou-se da esperteza, deu currículo, rasgou seda na primeira pessoa do singular. Depois de constranger quem assistia ao programa, perdeu o cargo.
Ouço religiosos, campeões em metáforas, oradores onomatopeicos e noto com que frequência acabam mordendo a própria língua. Quem usa e abusa de figuras de linguagem na oralidade, parece matraca.
Tribunos deviam ler o provérbio bíblico: Quem guarda a sua boca guarda a sua vida, mas quem fala demais acaba se arruinando (Pr 13.3). Bush não guardava a boca; sempre que ele se pronunciava o mundo tremia de medo.
Mas, antes de jogar pedra nos cabotinos, admito: já falei besteira. Há pouco, enquanto pregava, mencionei algumas metáforas que a Bíblia usa para expressar a brevidade da vida. Me referi à mais famosa: somos pó – simples poeira que o vento dispersa. Sem pensar, sapequei uma tolice monumental. Eu disse que nossa condição de poeira nos torna pueris. Achei inteligente associar pueril com poeira. Errei feio. Pueril tem a ver com infantil. Logo fui corrigido e passei vergonha.
É fácil perder-se quando a soberba nos inebria de certezas. Acreditamos em nossa versão absoluta da verdade, que entendemos final. Na pressuposição de manejarmos o conhecimento, tropeçamos. Entre a alucinação da onisciência e nossa condição finita, virar motivo de chacota é um pulo.
Tiago escreveu que domar a língua é virtude universal. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero (Tg. 3.9). Drummond aconselhou: Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. A palavra afiada merece ser contida na aljava assim como o dardo venenoso. Juízos apressados refletem não apenas descontrole mas a acidez de uma alma azedada pelo ressentimento.
Precaução para a soberba vem de amigos. O cuidado de quem ama o suficiente para mostrar a nudez do rei que se esconde em cada um de nós pode ajudar. Assim como o ferro afia o ferro, o amigo afia o seu amigo (27.17). Além de amigos leais que não deixam passar nada, admitamos: mais cedo ou mais tarde tropeçamos no falar. Resta, então, acreditar que um retalho de humildade ainda sobre dentro da gente. Ela nos ajudará a pedir perdão. E seguir adiante.
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim é escritor e teólogo, presidente da Convenção Betesda Brasil.