O ano de 2020 começou e os ataques das disputas eleitorais também. Isso não é novidade para ninguém, pois basta acompanhar postagens falsificadas compartilhadas nas redes sociais sem a devida checagem da veracidade. Sobre este assunto o Portal Atitude leva ao leitor dicas de especialistas como a jornalista, sindicalizada e mestranda em Fake News e Campanhas eleitorais, Glês Nascimento; o jornalista Cleber Toledo; a presidente do Sindjor, Alessandra Bacelar, o presidente da AVECOM, Márcio Rocha; a coordenadora do curso de Jornalismo da UnirG, professora Alessandra Duarte e o jornalista e mestre em Comunicação e Sociedade, professor Paulo Albuquerque.
por Wesley Silas
Em Gurupi, o ano eleitoral começou tumultuado e umas das primeiras novidades de 2020 é um site fake com piadas de mau gosto sem identificação de seus idealizadores na intenção de confundir os desavisados com seu conteúdo temperado com indicativos de crimes contra a honra das pessoas e mensagem de manipulação como se fosse texto jornalístico. Nas redes sociais não é diferente, mentiras estão sendo alimentadas pela emoção eleitoreira e muitos as consideram como regras, num universos em que 79% dos brasileiros usam as redes sociais para receber notícias, tendo o WhatsApp como a principal fonte de informação em um ambiente que possui mais de 136 milhões de usuários no Brasil, conforme apontou uma pesquisa realizada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, publicada em dezembro de 2019.
Medir o que é informação e o que é boato
O jornalista e mestre em Comunicação e Sociedade, Paulo Albuquerque, tem experiência não só na academia, mas como empresário e proprietário de jornal impresso o online. Ele considera que a maravilha da comunicação ‘todos para todos’, tão comum na atualidade, traz muitos desafios.
“Um deles é a necessidade que a sociedade tem de atualizar seus marcos legais para dar conta de estabelecer contrapesos às liberdades individuais. Há uma revolução tecnológica em curso, que eleva o cidadão comum à categoria de ‘comunicador’. Ele, aturdido entre tantas possibilidades e ferramentas, tem metido os pés pelas mãos quando se trata de ‘medir’ o que é informação e o que é boato. O processo de aprendizagem neste caso é lento, e o Estado precisa assumir, sim, sua responsabilidade, que passa por educar, esclarecer e delimitar. O aprofundamento da comunicação em rede, total, penso, é sem volta. Neste sentido é preciso a compreensão de todos. Quisemos um dia ter poder, força e liberdade para nos expressarmos com mais desenvoltura. Estamos vivendo esta realidade, para o bem e para o mal”, considera Albuquerque.
Pois bem, as redes socais e sites são ambientes para o exercício da liberdade do ser humano. Debates sobre as eleições, partidos, proposta liberal ou conservadoras, ideologias de direita e esquerda estão sendo consumidos pelo relativismo populista de um jogo em que a soma é zero e o debate sadio passou a ser substituído por agressões e mentiras virtuais como se as pessoas do outro lado da tela não tivessem capacidade intelectual de discernimento, valor ético e moral e fossem criaturas sem família e amigos.
Ludibriar a população para eleger candidatos inescrupulosos
Para restabelecer a confiança nos veículos de comunicação que produzem conteúdos confiáveis foi criado no Tocantins a Associação dos Veículos de Comunicação do Tocantins (AVECOM), presidida pelo jornalista, Márcio Rocha. Ele comentou ao Portal Atitude sobre o desafio do jornalismo profissional como fonte de notícias confiáveis em ano eleitoral.
“Esse tipo de subterfúgio é utilizado principalmente em períodos eleitorais por diversos candidatos, como o que teremos em 2020, e conta cada vez mais com mão de obra especializada, que não se intimida com leis e barreiras. Apenas uma fiscalização muito séria por parte dos órgãos competentes como Ministério Público e Tribunais Eleitorais, aliada à imprensa profissional e atenção por parte do leitor, pode reduzir os efeitos nefastos dessa prática que busca desinformar para ludibriar a população para eleger candidatos inescrupulosos”.
Evitar ser cúmplice da propagação de notícia falsa
Com 15 anos de experiência em cobertura política no Portal CT, o jornalista Cléber Toledo, defende a importância do leitor “ter espírito democrático elevado” e não compartilhar notícias que sabe que são falsas, mesmo que atinja o candidato que não é de sua preferência.
“Para evitar ser cúmplice da propagação de notícia falsa, o leitor precisa, em primeiro lugar, clicar no link para conferir se o que o título diz coincide com o conteúdo da página. Muitas vezes quem quer enganar as pessoas envia um título sem qualquer relação com o conteúdo do link. Isso porque apostam no fato de que a maioria comenta e compartilha o link sem acessá-lo. Outra medida fundamental é a credibilidade do veículo que está divulgando a informação. O link precisa ser de sites noticiosos de credibilidade. Se o site é desconhecido, desconfie da informação que está divulgando”. Cléber Toledo.
Verdade relativizada
A coordenadora do curso de Comunicação Social/Jornalismo da UnirG, professora Alessandra Gomes Duarte Lima, considerou que a prática de espalhar notícias falsas em troca de audiência política faz parte do florescimento da pós-verdade, na qual a verdade passou a ser relativizada.
“Temos uma sociedade aparentemente cada vez mais informada, entretanto menos crítica e munida de informações superficiais. Nesse período eleitoral que se aproxima, o cidadão/internauta deve aguçar a sua visão crítica, lendo com mais profundidade, buscando informações complementares em veículos confiáveis, tendo a cautela de ponderar o que compartilha e estando ciente de sua (ir)responsabilidade ao disseminar notícias falsas. E, diante de todo esse cenário, creio que a formação em Jornalismo vem ganhando cada vez mais papel de destaque, pelo resgate da credibilidade das notícias, na busca pela checagem, objetividade, clareza dos fatos e aspectos éticos”, considera a professora.
Fonte segura de informação
A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Tocantins (Sindjor), Alessandra Bacelar, argumentou sobre o papel do jornalista profissional na elucidação dos fatos.
“O jornalismo é fundamental no combate às fake news, principalmente em períodos eleitorais onde há muita desinformação e muitos interesses em jogo, e outras formas de comunicação, a exemplo da publicidade”. Defendeu.
A representante do Sindjor ressalta, ainda, que cabe ao jornalista profissional a elucidação dos fatos, a publicação deles e sua divulgação, sempre em busca da verdade. “O jornalismo sério, bem apurado e de compromisso com a sociedade, a comunicação social propriamente dita, deve reforçar seu papel de fonte segura de informação”, Alessandra Bacelar.
Brasil, o lugar onde há maior circulação de notícias falsas do mundo
No entendimento da Jornalista, sindicalizada no Sindjor e Mestranda em Fake News e Campanhas eleitorais, Glês Nascimento, é preciso deixar claro que o fenômeno da desinformação (fake news) “não é algo recente na história da humanidade, o apogeu foi no século XVIII quando os jornais aumentaram sua circulação. Mas também é inegável que com a internet e as redes sociais o fenômeno se espalhou com maior rapidez e descontrole. O Brasil hoje é considerado um dos países com maior circulação de notícias falsas do mundo, segundo relatório de Segurança Digital de 2018”. Relata.
Glês Nascimento ressalta que dentro do ecossistema da desinformação, estabelecido pelo First Draft (metodologia criada pela Universidade de Harvard) o uso enganoso de informações para enquadrar um indivíduo, no caso uma figura pública, um político, configura-se o tipo de fake news de “conteúdo enganoso”.
Com este entendimento, Glês Nascimento lembra que há uma falsificação de fontes genuínas, ou seja, “sites que existem, mas cujas logomarcas ou nomes são imitados para parecer verdadeira a desinformação, se enquadra no ‘conteúdo impostor’; há também o ‘conteúdo fabricado’ quando o conteúdo é 100% falso, criado para ludibriar”.
Ela alerta que, sem surpresa alguma, “numa campanha eleitoral há normalmente a persuasão no intuito de convencer o eleitor a votar no candidato A ou B, já as fake news fazem a dissuasão, usando subterfúgios de desinformação para fazer os eleitores desistirem da decisão do voto. O objetivo é prejudicar, macular e denegrir”.
Mecanismo para barrar as Fake News
A jornalista defende que os estudos avançam para poder afirmar se realmente as notícias falsas influenciam ou não no voto. “Ainda não se pode afirmar isso, porém, já se sabe que causam muitos ruídos e prejudicam o processo eleitoral, por isso as instituições (TSE, Polícia Federal, e inclusive as plataformas de Facebook, Instagram e WhatsApp) já estão buscando mecanismos de barrar as fake news. A recomendação é que a população também esteja atenta para não ser enganada pela desinformação”, conclui a jornalista.