“Foi eleito Prefeito de Gurupi, de 1982 a 1988. Na sua brilhante e histórica gestão, construiu o Aeroporto de Gurupi. Fundou a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – FAFICH, hoje, UNIRG. Construiu a Usina de Beneficiamento de Leite de Soja. Fundou e implantou o Parque Agroindustrial de Gurupi. E centenas de outras obras, que deram suporte administrativo, para os seus sucessores transformarem Gurupi, como um pólo progressista do Sul do Tocantins”, Moura Lima.
* Moura Lima
(REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADOS ESTE AUTOR E O TÍTULO).
Gurupi faz 60 anos, e o Brasil comemora o centenário do nascimento de Santos Dumont – O Pai da Aviação. Por que não relembrar o nome do maior prefeito da história de Gurupi, e que era também um comandante aviador? Mas, para refrescar a memória da geração atual e do futuro, apresso-me em fazer esse breve registro histórico, como uma testemunha presencial da trajetória luminosa do Comandante Jacinto Nunes.
O Comandante Jacinto Nunes foi uma expressiva figura política do Norte de Goiás, hoje Tocantins, que conquistou os seus contemporâneos pela grandeza de seus atos, pela honradez, respeito e firmeza de caráter, unida à elegância moral e política, que lhe ornavam a alma. Todos esses traços marcantes de sua personalidade são uma herança direta da sua bagagem genética, que procede do ilustre e honrado clã dos “Nunes da Silva”, da antiga Vila de Nossa Senhora da Natividade. E a maior figura do clã, na linhagem superior, foi o Coronel Fulgêncio Nunes da Silva, extremoso chefe político do bulhonismo em Natividade, deputado e senador pela Província de Goiás, no século XIX. Homem de estirpe superior que impunha respeito pela sua autoridade moral como chefe político. Mandou em Natividade por mais de trinta anos.
Na sequência cronológica das suas raízes genealógica, outros familiares robusteceram a ascendência, como veremos a seguir. Major Júlio Nunes da Silva também foi deputado pela Província goiana. Coronel Deocleciano Nunes da Silva, chefe político nativitano, atuou como promotor nos trágicos episódios, que ficaram conhecidos em todo o Brasil como “barulho” do Duro, hoje Dianópolis, onde foram mortas no tronco, a sangue frio, várias pessoas pelos jagunços fardados da oligarquia dominante de Goiás e, no rol do massacre, morreu brutalmente o Coronel Joaquim Aires Cavalcante Wolney,em 1918. Zacarias Nunes da Silva, estimado e festejado Mestre-escola, e, também, mestra Eva Nunes da Silva, que morreu com 103 anos. Um fato pitoresco do clã, de família longeva, ora em análise, foi o da matriarca Genoveva Nunes da Silva, que, ao completar o centenário de nascimento, lhe nasceram os dentes, numa terceira dentição. A veneranda anciã ficou famosa na recuada época, por ter se convertido ao protestantismo, causando assim, com seu prestigio, um estrago devastador na católica Natividade escravocrata, que foi argamassada com o suor dos escravos. Para se ter uma idéia, o protestantismo naquela época longínqua do tempo era considerado seita herética, mensageira do diabo. A ilustre e destemida dona Genoveva morreu lúcida, nos seus 104 anos bem vividos e cheios de dignidade, e, de uma vida exemplar.
Voltando ao nosso biografado, o saudoso comandante aviador Nunes,como veremos, foi um administrador honesto, que se pautava pelo zelo da coisa pública, como um bem maior da coletividade. Um exemplo a ser seguido pela geração atual, que, lamentavelmente cambaleia como um espantalho numa República agonizante que se vai a passos largos, a cada dia, aos poucos, mergulhando no lamaçal da corrupção galopante, com o péssimo exemplo dos figurões-mores dos escalões superiores que passaram a adotar o código de Ali Babá e os seus 40 ladrões!
O povo encolheu e se anestesiou, sem ânimo, para a indignação, quer nos parecer que a máxima do Marquês de Maricá se materializou, de vez, nos horizontes da pátria: – “Um povo corrompido não pode tolerar governo que não seja corruptor”.
O Comandante aviador “Nunes”, como ficou conhecido entre nós, nasceu em Conceição do Norte, na época Goiás, hoje Tocantins, em 9 de agosto de 1927. Fez os estudos preliminares em sua terra natal, Natividade. E mais tarde ingressou na Escola de Sargento da Aeronáutica, onde concluiu o curso, na graduação de Sargento. Casou-se com Dolores Nunes, futura deputada federal, e mudou-se para Gurupi, onde fundou a empresa GUTA-GURUPI TAXI AÉREO, que prestou relevantes serviços ao Norte de Goiás e Sul do Pará.
Foi eleito Prefeito de Gurupi, de 1982 a 1988. Na sua brilhante e histórica gestão, construiu o Aeroporto de Gurupi. Fundou a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – FAFICH, hoje, UNIRG. Construiu a Usina de Beneficiamento de Leite de Soja. Fundou e implantou o Parque Agroindustrial de Gurupi. E centenas de outras obras, que deram suporte administrativo, para os seus sucessores transformarem Gurupi, como um pólo progressista do Sul do Tocantins.
O Prefeito Jacinto Nunes será lembrado nas páginas da história como o maior Prefeito da nossa terra, em razão de ter realizado com sucesso, uma administração competente, que implantou a envergadura invejável da estrutura administrativa de Gurupi. Já o Prefeito João Cruz, seu ex-vice – Prefeito será lembrado como o Prefeito que modernizou e transformou Gurupi na Capital Universitária do Sul do Tocantins.
O Comandante Jacinto Nunes, por onde passou, deixou o traço indelével de sua competência e inteligência fulgurante. A sua vida foi um exemplo de honestidade, quer como homem público, quer como e empresário. Não se curvava às atitudes hipócritas e cavilosas dos politiqueiros da politicalha. Vejamos um exemplo. Governo pisava de leve no solo gurupiense. O senhor Íris Resende, então governador de Goiás, para pirraçá-lo, colocou uma faculdade em Porangatu, pulou Gurupi e colocou outra em Porto Nacional. O Comandante Jacinto não aceitou a humilhação, e no silêncio da noite trabalhou; ao romper do dia, para o espanto e desespero do governador, estava criada a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Gurupi-FAFICH, e, consequentemente, criado o primeiro curso de Direito do Norte de Goiás. Foi o Comandante Nunes, acima de tudo, e por tudo, um homem honrado, que soube inscrever seu nome na história de Gurupi e do Tocantins. Foi um sonhador. Viu e anteviu o progresso da cidade. Gurupi foi o seu poema administrativo, o seu universo, a sua realização de administrador competente e honesto.
Portanto, a chama idealística deixada pelo saudoso Comandante Jacinto Nunes, ainda continua nas mãos do povo e de sua herdeira política, sua filha Deputada Josi Nunes, que vem demonstrado garra e coragem na representatividade do povo tocantinense.
O Comandante Jacinto Nunes faleceu depois da criação do Estado do Tocantins, em acidente de carro na Belém-Brasília, nas imediações da cidade de Fátima, em 01 de dezembro de 1988.
Se para o pensador reflexivo – a história do mundo é, na verdade, uma biografia oculta dos grandes homens, pode-se afirmar, sem medo de errar, que, para estudar o perfil histórico de Gurupi, torna-se obrigatório buscar, em primeiro plano, a biografia do Comandante Jacinto Nunes.
*Moura Lima é advogado, Pós-graduado em Língua Portuguesa. Escritor, Romancista, contista, é ensaísta, e membro fundador da Academia Tocantinense de Letras; pertence também à Academia Piauiense de Letras. E-mail: [email protected]