“O meu pai deu duas viagens no Belém (PA) e levou seis meses e, as vezes, os homens iam a as mulheres tinham pulado do córrego e já tinha outro”, relata o véio Jove, 96 anos, sobre as viagens feitas para comprar sal e café. Ele é morador do Trevo da Praia desde o ano 1943, onde vive ao lado da sua companheira Teodora, 94 anos, desde que mudaram para aquela região quando não existia Gurupi.
por Wesley Silas
Numa época em que as relações sociais estão cada vez mais cômodas e virtuais, o registro da vida do nosso passado serve como reflexão para observamos que no mundo contemporâneo, apesar de sermos insatisfeito e reclamões, temos conforto inimagináveis na vida dos reis do século passado.
Ao contrário da efemeridade das relações cada vez mais individualizada da sociedade, ainda existem pessoas sólidas, a exemplo do casal Jovino Maria da Costa, 96 anos, e Teodora Rodrigues da Costa, 94 anos. Os dois vivem juntos há 74 anos na região do Trevo da Praia, município de Gurupi.
“Meu nome era Jovino Maria da Costa, mas agora é véio (velho) Jove. Estou velho demais, com 96 anos e em julho se nós formos vivos vamos fazer 74 anos de casado”, disse o velho Jove com muito humor e sem “mimimi’ (lamúria).
O velho Jove conta como era a vida dos primeiros moradores da região de Gurupi, quando fazia parte do Norte Goiano e para fazer compras eram obrigados a viajar por semanas em lombo de animais.
“A gente ia comprar sal e café em Barreira (BA) onde andávamos 120 léguas de tropa e levamos para ir um mês e cinco dias. O meu pai chegou a ir em Corumbá (MS) em dois meses para buscar café. O meu pai deu duas viagens no Belém (PA) e levou seis meses e as vezes os homens iam a as mulheres tinham pulado do córrego e já tinha outro”, relatou o velho Jove sobre as condições da vida dos primeiros moradores da região de Gurupi.
Para o leitor ter ideia da distância a distância de Gurupi a Corumbá (MS) chega a 1.800 km em estrada asfaltada e a 70 anos este percurso era feito em trilhas por tropeiros, como a família do veio Jov.
“Quando eu cheguei aqui não tinha Gurupi e foi depois que eu descobrir e nós íamos de tropa comprar sal e café em 1952. Gurupi tinha quatro casas de palhas e conheci o Murilo, o Benjamim Rodrigues e a Eva e o Bião”, resumiu o idoso ao citar os pioneiros que povoou a cidade de Gurupi.
“O que pensávamos ser o futuro está em débito conosco. Para superar a crise, temos de ‘voltar ao passado’, a um modo de vida imprudentemente abandonado”. Frase do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman.
Confira um bate-papo com senhor Jov sem corte e registrado de forma caseira e sem produção: