“Com efeito, leitor: engenheiros, meus idealizadores, porquanto, racionalizou, imbicou minha trajetória, tivesse eu assim, ativamente funcionando, engajada, estaria fazendo história edificadora do progresso, desenvolvimento dos inúmeros estados que integro, escoando sua produção, incentivando-a a produzir cada vez mais, ao encurtar distâncias, reduzindo custos. Parada, ou quase parada, não cumpro meu papel, sou encosto, em vez de transportar riqueza, escoar produção, gero despesas de manutenção”. Josias Luiz Guimarães.
por Josias Luiz Guimarães
Você aí leitor, contribuinte de impostos, sou eu a ferrovia Norte-Sul! Nasci, no ideário de Brasil grande, há quase 50 anos, estou pronta, aos trancos e barrancos, há seis anos. Aos trancos e barrancos, porque a minha construção foi envolvida pelo flagelo da corrupção, flagelo que, infelicita a gente brasileira, periga a democracia, obstruindo a imagem de melhor forma de governo do mundo. Embora todos estes percalços, já estou em condições de funcionar, a todo vapor, começando a pagar a dívida contraída na minha feitura, monstrengo, de oito bilhões e meio de reais. Pudera, também, os corruptos e corruptores abusaram de minha condição de grande e grandiosa obra, superfaturando o custo de minha construção. Enquanto inativa, como estou, dou prejuízo anual de três bilhões de reais, funcionando, segundo os cálculos de entendidos no assunto posso faturar, no lugar de prejuízo, três bilhões e meio de reais por ano.
Enquanto o estado-governo protela meu funcionamento, a dívida pública da qual sou parte, pois nada empreendi, ainda, para amortizar os dispêndios financeiros de minha construção, cresce como erva daninha, ou seja, 5% acima da famigerada inflação, ora na casa dos dois dígitos, 11,5%. Embora não convencional, leitor, somando-se um ao outro, se chega a um quadro assustador. Entrementes, tivesse eu, imagine, transportando a riqueza nacional, pois fui feita para isso, poderia, além do mais, agregar ao escoamento da produção, a formação de divisas da qual carece o país, em demasia, na atual conjuntura. Afinal, o alvo mor para o qual fui erigida ferrovia é o de formar imenso corredor de exportação, encurtando distância, viabilizando cultivo agropecuário, tornando competitiva exportação de matéria prima do centro-oeste, norte, em relação aos estados do sul, abrindo uma porta para o mar.
No lugar de caminhar de marcha ré, congestionando o sistema viário do sul, inchando portos, para em seguida, contornar a imensa costa brasileira e alcançar o alto-mar, nas costas do estado do Maranhão, veja aí, a economia de transporte, eu ferrovia Norte-Sul, encurtando o caminho, custo, integrando a grande produção das citadas regiões à navegação marítima na costa norte, onde as embarcações oriundas do sul alcançam o alto-mar.
Com efeito, leitor: engenheiros, meus idealizadores, porquanto, racionalizou, imbicou minha trajetória, tivesse eu assim, ativamente funcionando, engajada, estaria fazendo história edificadora do progresso, desenvolvimento dos inúmeros estados que integro, escoando sua produção, incentivando-a a produzir cada vez mais, ao encurtar distâncias, reduzindo custos. Parada, ou quase parada, não cumpro meu papel, sou encosto, em vez de transportar riqueza, escoar produção, gero despesas de manutenção. Custeando, além do mais, salários graúdos e miúdos, sem produzir na dica de nada, de receita ao meu país, como dito, endividado. Abismal! Uma dívida interna que beira ou ultrapassa, três trilhões, advindo, daí leitor, a minha impertinência em funcionar, a toda brida, conduzir, a todo vapor, bens vitais ao crescimento da economia, ora um tanto em apuros, carecendo de ejeção tonificadora.
O propósito que induziu a minha edificação foi o de reduzir custos de escoamento viabilizando a produção ou mesmo extração de riquezas em regiões estagnadas, à espera de oportunidade de progresso. Então, como vou eu ferrovia, suprir este singular papel, parada? A BR-153, minha vizinha de percurso, encontra-se, há muito, sobremodo congestionada, infernizando, colocando em perigo e, mesmo, ceifando vidas de pessoas que por ela transitam, diuturnamente. Este grande abismo, grande transtorno que se transformou essa rodovia, batizada de Brasília-Belém, quando construída, via pioneira pelo saudoso presidente Juscelino Kubitschek, tendo como feitor, o também saudoso engenheiro Bernardo Sayão, por ironia, foi apelidada, pelos opositores da nova capital: Brasília, de estrada para as onças. Veja só caro patrício, o contraste daquele pejorativo, com a movimentação, congestionamento de agora, carecendo, há muito, de duplicação. Paradoxal, ela, BR-153, ingurgitada, eu, Ferrovia Norte-Sul, parada, no lugar de somar, ajudar a economia crescer, subtraindo-a, com despesas de manutenção.
Assim, como deveria ser próprio de todo contribuinte de tributos, na democracia, inclusive dever, dever de controlar de forma ordeira, valendo-se da cidadania, questionar o governo, no caso, o ministro do transporte, porquanto, eu ferrovia, sou propriedade da sociedade, propugnando pelo seu urgente funcionamento! Senhor Ministro, o cargo que ocupa é permanente, mas você ocupante é provisório. Além disso, você não foi obrigado a aceitar a sua indicação, para tão elevada missão, no entanto, se aceitou, tem que vestir a camisa, arregaçar as mangas, e, fazer a ferrovia funcionar, funcionar mesmo! Escoando a riqueza da imensa região que abarca, desafogando a rodovia Brasília-Belém, em vez de subtrair, como está, somar, aumentando a receita nacional, ora, um tanto, debilitada. Uma vez funcionando, com determinação, ajudar no equilíbrio das contas, o badalado ajuste fiscal, embora, com PIB, há dois anos abaixo de zero, o mais nanico da América, pela primeira vez na história.
De forma que, a Ferrovia funcionando com força de progresso, a Br-153 duplicada com privatização, por tanto, sem maiores custos adicionais, ambas tornar-se-ão braço forte, alavanca motora na retomada do crescimento econômico, deste país, gigante pela própria natureza, como se canta no hino nacional, letra de Manoel Osório, mesmo esbulhado pelos corruptos e corruptores, prospera, alimentando a esperança de sua gente, em sua maioria, ainda, ordeira e laboriosa. Como pode senhor ministro, obra de tamanha envergadura há tanto tempo projetada, uma vez concluída, antes de inaugurada, imensa produção, riqueza, já deveria estar sendo escoada, incentivando o crescimento da riqueza regional, despertando, o ora estagnado, progresso e bem-estar do país, decorrente do atoleiro econômico (estagflação – recessão com redução da economia e aumento do índice de desemprego) suas mazelas, desassossegando nossa população mais sofrida. Faça corrente leitor, forme opinião, mobilizando a nação, pelo funcionamento, com determinação, da ferrovia Norte-Sul e ingente duplicação da rodovia Brasília-Belém.
(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural)