Até 30 de novembro, os artesãos extrativistas filiados às entidades representativas e devidamente autorizados, vão colher a matéria-prima do que, posteriormente, será a base de sustento de centenas de famílias: as peças artesanais de capim dourado.
No Povoado Mumbuca, comunidade remanescente de quilombo localizada no município de Mateiros, os moradores já começaram a ir para as veredas, após três dias de atividades em comemoração ao início da colheita. Diomar Ribeiro, conhecida como Dona Santinha, é uma das figuras mais conhecidas na comunidade com suas músicas tradicionais, que ensina às novas gerações, e explica o que este momento representa. “A gente espera o capim amadurecer, faz uma grande festa, junta os amigos, parentes, para comemorar. Traz alegria a colheita do capim”, apontou.
Há cerca de 15 anos, Emivaldo Rufo Cunha (conhecido na região como “Fei véi”) trabalha com o capim dourado e destaca sua importância não só para ele, mas para toda a região. “Foi o trabalho com o capim dourado que me deu rendimentos. O que eu tenho hoje foi através do capim dourado, trabalhando, fazendo peças. Foi isso que deu sustento não só para mim. Foi um lucro muito grande para o Jalapão. Hoje, as pessoas têm um carro, uma moto, uma casa mobiliada através do capim dourado”, reforçou.
Este ano, o início do período foi celebrado com a 7ª Festa da Colheita do Capim Dourado, evento que reuniu no último final de semana pesquisadores, estudantes, turistas e autoridades. A festa foi realizada pela Associação dos Artesãos Extrativistas do Povoado Mumbuca, com apoio do Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur) e outros parceiros. Membro da organização do evento, Ilana Ribeiro Cardoso, relata que a partir de agora as famílias se dedicarão à colheita para garantir que tenham material para produzir artigos a serem vendidos por todo o ano.
Manejo sustentável
A cada ano, é visível, segundo lideranças da comunidade, a redução na quantidade de capim dourado nas veredas da região. Diante disso, em Mumbuca, os extrativistas têm focado sua atenção à preservação, por meio do manejo sustentável. Emivaldo Rufo fez questão de demonstrar aos visitantes, durante a 7ª Festa da Colheita, como deve ser feita a coleta, desde a forma delicada de retirar o capim até a preocupação em não arrancar a raiz, muito frágil, por sinal.
“Nunca pode arrancar na data errada. Por que a gente arranca ele dia 20 de setembro? Porque já está maduro. Você já pode arrancar e colocar para secar na sombra. Não pode secar no sol”, explicou. Ele também apontou que uma das grandes preocupações dos artesãos é com a ação de atravessadores e reforçou a importância da fiscalização.
Dona Santinha, hoje com 68 anos de idade, relata que começou a colher capim dourado aos 16 e atribui à preocupação da comunidade com a preservação o fato de ainda haver a matéria-prima. “Não acabou ainda por causa do cuidado”, garantiu. Ela enfatiza que, em Mumbuca, essa preocupação é uma constante. “A gente estava esperando esse evento [Festa do Colheita], esperando a hora certa de colher”, pontuou.