Pesquisadores tocantinenses fizeram um estudo onde apontam que o Programa de Residência Médica em Saúde da Família e Comunidade contribui para melhoria da qualidade nos serviços da Atenção Básica de Saúde. O estudo apresenta subsídios para a tomada de decisão dos gestores públicos de saúde no âmbito da Atenção Básica e reforça a importância da integração entre Ensino, Serviços de Saúde e Comunidade. O trabalho é fruto do fomento do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt) e faz parte do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS): gestão compartilhada em saúde do Ministério da Saúde com execução no Estado.
Da redação
O projeto do PPSUS tem como tema Gestão do Trabalho e Educação em Saúde, é coordenado pelo Prof. Doutor em Ciências – Ensino de Biociências e Saúde, o médico Neilton Araujo de Oliveira, e tem como vice coordenador o Prof. Doutor em Medicina Tropical, Marcos Gontijo da Silva, ambos vinculados à Universidade Federal do Tocantins (UFT). O assunto resultou na dissertação de mestrado em Ciências da Saúde da fisioterapeuta Sávia Denise S.C Herrera, professora da Universidade de Gurupi (UnirG) onde demonstrou a teoria na prática, no município de Gurupi-TO. O projeto contou ainda com a participação de acadêmicos de Medicina da referida instituição.
O objetivo desta pesquisa é comparar a qualidade dos serviços de Atenção Básica do SUS nas unidades de saúde com ou sem o Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade (RMSFC) no município de Gurupi-TO. A ação foi realizada em 12 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da rede urbana do município com 107 servidores de saúde como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, que responderam ao questionário de avaliação e monitoramento de serviços de Atenção Básica QualiAB. “Constatamos diferença significativa da qualidade da assistência entre as UBS com e sem a RMSFC, o que contribuiu para o desenvolvimento do Plano de Melhoria do Programa de Residência Médica e aponta a necessidade de novas estratégias de trabalho a Secretaria Municipal de Saúde da cidade”, explicou Oliveira, coordenador do projeto.
Resultado do Estudo
O trabalho possibilitou ao município, a obtenção de dados analíticos quanto à viabilidade de ampliação do Programa em territórios em que existam Instituições de Ensino Superior ou a oferta do curso de Medicina, além de produzir indicadores relevantes para a gestão no âmbito da Atenção Básica local e estadual, a fim de contribuir com o conhecimento científico e acadêmico, preconizado no âmbito do SUS. O projeto permitiu ainda o desenvolvimento de um sistema computacional com domínio sauderesponde.com.br que está em fase final de ajustes e possibilitará um mapeamento dos serviços da Atenção Básica de Saúde dos municípios que têm ou não, Programas de Residência Médica em Saúde da Família e Comunidade com a finalidade de fazer comparativo da qualidade dos serviços prestados.
A avaliação da qualidade dos serviços de saúde é fundamental para reforçar os pontos positivos e ainda repensar os que não estejam em funcionamento conforme os preceitos do SUS. Atualmente, a avaliação QualiAB é a ferramenta validada e recomendada por especialistas para uso no Brasil por ser uma abordagem avaliativa focada no cotidiano dos gerentes e profissionais atuantes no atendimento, tomando por objeto a organização do processo de trabalho enquanto base material definidora dos atributos de qualidade do serviço. O QualiAB aborda dimensões estratégicas do trabalho como condições objetivas necessárias para a implementação das finalidades técnicas da atenção básica, podendo ser bastante útil na avaliação das Unidades Básicas de Saúde devido a diversidade estrutural dos serviços.
“No campo acadêmico, o projeto financiado pelo PPSUS possibilitou a publicação de vários artigos científicos, realização de oficinas, participação de congressos com apresentação de trabalhos científicos, além de ter favorecido, à UnirG, novas estratégias para melhoria da prática de ensino e pesquisa para o desenvolvimento do programa de residência médica em saúde da família e comunidade. Os resultados foram apresentados à gestão municipal de saúde de Gurupi e à Comissão de Residência Médica (Coreme), da Instituição de Saúde, com calendário para discussão de ações a serem tomadas em conjunto”, explicou a Prof. Ma. Sávia Herrera.
A Administradora do Núcleo de Execução Estágio em Saúde (Nees) da UnirG, Luana Katiúcia de Oliveira Medrado, ressalta a importância da ação. “O projeto saiu do papel e ganhou funcionalidade, principalmente devido às parcerias firmadas que possibilitou aprendizado, aperfeiçoamento e prática da profissão médica aos acadêmicos durante a residência na Atenção Básica de Saúde, além da sinergia com os profissionais de saúde. Contou com a participação de diversos residentes com e sem bolsa de iniciação científica, com envolvimento de mais de dez professores”, ressaltou.
O médico voluntário do projeto, Rafael Vilela, que atua com Medicina da Família e Saúde, em Gurupi, revelou que o projeto trouxe excelentes resultados, devido a possibilidade de apontamento de melhoria dos serviços oferecidos à comunidade, bem como a importância da troca de experiências com os residentes. Já o acadêmico de medicina da UnirG, Júlio César Souza, afirmou que o projeto abriu seus olhos para a iniciação científica e mostrou a importância da residência médica que favorece a prática profissional e a vivência dos desafios diários.
“A aplicabilidade desse projeto é um dos casos de sucesso do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS) que vem sendo apoiado pelo Governo do Tocantins por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt). O modelo de gestão compartilhada adotado, envolveu gestores, profissionais de saúde, pesquisadores, acadêmicos e representantes da sociedade civil. O projeto contribuiu ainda para o aumento da produção científica e favoreceu o subsídio para a tomada de decisão do gestor de saúde, ” relatou a Assessora Técnica de Programas e Projetos de Saúde da Fapt, Adriana Arruda.
Dados histórico
A meta é que os programas de residência médica garantam meios de aprendizado e aplicabilidade no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2013 foi instituída a Estratégia de Qualificação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) incentivando a expansão dos Programas de Residência em Medicina de Saúde da Família e Comunidade (PRMSFC) no Brasil. A sua implementação é recente no Estado do Tocantins, contando apenas com três programas ativos, onde um destes situa-se na região sul na cidade de Gurupi-TO em que foi executado o projeto com acadêmicos de medicina da UnirG no período de dezembro de 2018 a dezembro de 2020. Diante da pouca quantidade de especialistas médicos em saúde de família e comunidade tem-se a expectativa de que estes programas representam possibilidades de promoção de melhorias da atenção integral e continuada à saúde da população, com enfoque na família e nos núcleos sociais que constituem a comunidade.
Importância da Residência Médica
A formação do médico-residente é desenvolvida fundamentalmente em serviço nas Unidades de Saúde, através do atendimento ambulatorial, programas de saúde, trabalhos comunitários realizados pelas equipes e dos estágios em áreas complementares. O programa teórico é realizado em atividades de núcleo de conhecimentos e práticas específicas e, por campo, de conhecimentos e práticas comuns a todas as profissões da área da saúde que atuam, com participação de atividades em conjunto com os profissionais da equipe de estratégia de saúde da família.
No primeiro ano do programa o residente atende toda a população da área, independente do problema de saúde que se apresentam, realiza visitas domiciliares, desenvolve atividades em grupos e de educação em saúde, estágios no HRG (Hospital Regional de Gurupi), na UPA (Unidade de Pronto atendimento) e ambulatório do UNIRG. No segundo ano segue a ênfase em atividades ambulatoriais das especialidades clínicas, saúde mental e gestão.
Desta forma os PRMSFC visam capacitar e formar profissionais médicos integrados em equipes multidisciplinares inseridos nas comunidades sob seus cuidados, desenvolvendo suas ações em bases epidemiológicas, com o propósito de implantar medidas que promovam a rotina organizacional e aplicabilidade dos programas de saúde, proporcionando maior resolubilidade dos problemas de saúde. Estes Programas contribuem para o aumento do quantitativo de médicos especialistas atuando com qualidade no âmbito da atenção básica e na região Norte onde há uma carência de profissionais.