Depois de lutar contra um câncer, Luis Barbosa Aguiar, conhecido como Bozó, faleceu na tarde desta quinta-feira, 20, no Hospital Oswaldo Cruz em Palmas.
por Wesley Silas
Filho de família pioneira em Gurupi, o jornalista Luis Barbosa Aguiar, 55 anos, era esposo da advogada e procuradora do Estado, Irana de Sousa Coelho Aguiar. Ele deixou duas filha, a mais nova a advogada Patrícia e a médica Vanessa.
O corpo do jornalista será velado na OAB de Palmas e também sepultado na Capital às 10h da manhã, desta sexta-feira, 21.
Juntamente com o jornalista Júnior Veras, Bozó como era tratado pelos amigos foi um dos pioneiros no jornalismo com formação acadêmica em Gurupi, onde criaram o jornal Folha da Cidade. Com a saída de Veras, Bozó continuou com o desafio com o Folha da Cidade durante 27 ano, e depois partiu para o web jornalismo criando o site Diário do Tocantins.
Luiz Barbosa Aguiar era jornalista graduado pelas Faculdades Integradas de UBERABA – MG no CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, com sua formação em JORNALISMO reconhecida pelo MEC em primeiro de janeiro de 1986. Como Profissional atuou nos setores de marketing político, assessoramento, criação de projetos e programas de comunicação institucional e agenciamento de notícias. Durante 27 anos editou o Jornal Folha da Cidade criado no então Norte Goiano, hoje Estado do Tocantins. Participou de lutas como Diretas Já, Criação do Tocantins e da última gestão da CONORTE.
O trabalho jornalistico de Luis Barbosa Aguiar recentemente chegou a ser homenageado pela revista Lead do Curso de Comunicação Social da UnirG que levou uma entrevista com Bozó. Na matéria os acadêmicos Leonelson Alves e Gabriel Gonçalves, descrevem Luiz Barbosa Aguiar como um personagem importante da história do jornalismo de Gurupi e do Tocantins.
“Ele, que é chamado pelos amigos de ‘Bozó’ (em referência ao famoso personagem jornalista de Chico Anísio) é filho de pioneiros na região e, como boa parte dos jovens gurupienses nos idos anos 70 e 80, saiu para buscar fora da cidade a formação em nível superior. Luiz queria ser jornalista. E conseguiu”, descreve o texto, conforme a íntegra abaixo:Antes de ingressar na faculdade de jornalismo em Uberaba, fez alguns meses de cursinho em Goiânia como era praxe, afinal, tinha que vencer a concorrência no vestibular. Mas deu tudo certo e nos primeiros anos da década de 80 lá estava o jovem Luiz Aguiar realizando seu sonho.
Outro gurupiense chegou logo em seguida com o mesmo objetivo. Junior Veras, mais um integrante de família tradicional do Norte Goiano e com muitos laços em Gurupi, iniciou jornalismo em Uberaba um semestre depois de Luiz. Eles são os protagonistas do início da história do jornal Folha da Cidade e testemunhas (como profissionais e cidadãos) de uma das passagens mais importantes da história tocantinense: a criação do Estado. Tudo registrado nas páginas do Folha da Cidade.
Em 1984, em período de férias da faculdade, eles decidiram criar um jornal. “Queríamos colocar em prática o que estávamos aprendendo”, diz Luiz. Lançaram, então, a primeira edição do jornal ‘Gurupi’. Sim, este foi o nome dado ao jornal da dupla. Descobriram logo em seguida que tinha existido um jornal com esse nome. “Era do pai do deputado Toinho Andrade, que fizera jornal algum tempo antes da gente”, diz Luiz. Decidiram trocar o nome e nasceu o Folha da Cidade.
A sociedade deles era para fazer o Folha da Cidade quando estivessem em Gurupi. “Não tinha periodicidade. A gente vinha de férias, vendia os anúncios, ia até Goiânia e lá imprimia o jornal. Em seguida retornava para fazer a distribuição”, diz. Para os dois jovens, era a oportunidade ideal, pois não havia jornal circulando na cidade. “Percebemos também que além de Gurupi poderíamos cuidar da região. Daí começamos a cobrir as cidades mais próximas, além de ampliar nosso mercado publicitário”, informa Luiz.
AS PAUTAS
Como Luiz e Veras faziam tudo no jornal e não tinham empregados, eles também definiam o que seria notícia. Escreveram, como é próprio ao jornalismo, sobre o que mais importava à época. BR-153 e os dilemas de única artéria a cortar a região; as mudanças culturais e econômica na região com a chegada de novos moradores; a explosão agrícola; as sucessões políticas na região, o nascimento da Fafich; a Ferrovia Norte Sul, que naquela época já era notícia (e até os dias de hoje, por nunca ter sido colocada efetivamente para funcionar); as preocupações com a ecologia etc.
Sobre a Fafich, Luiz conta a interessante passagem quando Jacinto Nunes, então prefeito, resolveu comprar a Faculdade de Valter de Paula, que tinha acabado de se instalar na cidade, para transformá-la em uma fundação municipal: FEG (Fundação Educacional de Gurupi), que iria dar os primeiros passos no complexo educacional que hoje se transformou a Universidade UnirG. “Tudo isso faz parte da história da cidade e esteve nas páginas do Folha da Cidade”, afirma Luiz.
As questões financeiras pareciam não ser problema na época, pois qualquer anúncio no jornal o valor estipulado ficava em torno de um salário mínimo, cerca de Cr$ 98.000,00. A grande dificuldade do jornal era a falta de periodicidade. Às vezes saía mais de uma edição em um mês e em outros já não havia. O Folha da Cidade distribuía os exemplares gratuitamente, como era comum entre os periódicos naquela época.
A CONCORRÊNCIA E UM NOVO GÁS
No início dos anos 90, Luiz já estava sozinho na direção do Folha. Veras tinha se revelado com muita aptidão para o telejornalismo e foi trabalhar como repórter da TV Anhanguera, que era o sonho de qualquer jovem jornalista ansioso para mostrar trabalho no Estado. “Foi um baque. Veras sempre foi um amante da televisão. Ele ainda tentou ser vereador em Gurupi, por influência do pai, mas não obteve sucesso”. Veras hoje trabalha com assessoria de imprensa e mora em Palmas, como Luiz Barbosa.
Nessa época, início dos anos 90, Luiz estava mais preocupado em ajudar politicamente um grupo com o qual sempre esteve ligado: o PMDB. E foi com ele que Luiz chegou a Palmas após a vitória de Moisés Avelino nas eleições para o Governo do Estado, em 1991. Sobre essa sua ligação com a política, Luiz dá uma lição importante. Para ele não há neutralidade no jornalismo. Ele, com o seu Jornal, nunca foi neutro e sempre esteve de um lado. Sofria, claro, as críticas de quem pensa o jornalismo de outra forma, mas carrega seus argumentos até hoje: ‘Não há ninguém neutro’. É no que acredita Luiz Barbosa.
Quando um panfletinho começou a circular em Gurupi, em janeiro de 1990, Luiz percebeu que precisava retomar o Folha da Cidade para garantir seu espaço. O Cocktail, apesar de não ter nem tamanho de jornal em 1990, começou a chamar atenção pela ousadia e popularidade. “Fui atrás de melhorias nos nossos textos, qualificando-os mais, atingindo mais públicos distintos”, diz. Os anos 1990 e 2000 foram de intensas disputas por território entre os dois jornais: Folha da Cidade e Cocktail.
O LUIZ BARBOSA DE HOJE
Morando em um luxuoso condomínio da capital, Luiz Barbosa Aguiar, de 55 anos, guarda com carinho a história do jornal que foi a sua vida como profissional. Ele tem noção da importância que o Folha da Cidade teve (e tem) para a história recente da comunidade regional, e critica a falta de preocupação da municipalidade para resgatar essas publicações e deixar para que as pessoas possam fazer consultas. “Eu acho que a prefeitura ou a universidade poderiam digitalizar todas as edições que tenho guardadas, e facilitar o acesso para a pesquisa de quem tiver interesse agora e no futuro”, critica o empresário. Para Luiz Barbosa esta falta de preocupação com a memória tem causado enormes prejuízos à sociedade como um todo.
Atuante nas redes sociais, Luiz é crítico ardoroso dos sindicatos que representam a categoria dos jornalistas no Tocantins e no País. Para Luiz, a péssima condição a que estão sujeitos os profissionais deve-se ao relaxamento dos dirigentes sindicais. “Deixaram o Supremo acabar com o diploma e atuam muito pouco para manter os salários dignos dos profissionais”, finaliza.