“Não foi apenas o poder econômico que deixou de ser dominado pelos pioneiros, mas também o poder político de representatividade. Se for levar em conta as 139 prefeituras, boa parte estão sendo ocupadas por pessoas “mais preparadas”, nem que seja para corrupção, que vieram de outras regiões e chegaram ao poder depois de conseguirem adquirir o patrimônio deste povo e agora dominam a descendência dos que povoaram a região e deram nomes às ruas, enquanto resta a muitos nativos a suportarem o traumatismo cultural”, Wesley Silas.
por Wesley Silas
Desde o descobrimento e as invasões escritas na história do Brasil, as pessoas que deram nomes aos rios, aos lugares, ruas e criaram as raízes culturais dos diversos lugares, são colocadas na marginalidade da história e pagam o preço imposto por um sistema que grande parte da geração dos primitivos, não tiveram oportunidade de avançar no conhecimento que a sociedade contemporânea os impõe à sobrevivência. Com isso, criou-se uma sociedade fácil de ser manipulada pelas “cabeças iluminadas” da política e, neste ano, corre o risco de entregar o Estado nas mãos de pessoas que não conhecem a história e sentimento deste povo deprimido e enganado, que carece de melhorar a autoestima, provavelmente pela falta de oportunidade da educação, onde a pobreza e a miséria impera, onde os dados do TSE mostram que 43,44% dos 1.037.063 eleitores, dividem graus de instruções entre ensino fundamental incompleto, lê e escreve e analfabetos.
No contexto histórico, por exemplo, basta observarmos a situação caótica dos índios das diversas aldeia e etnias que hoje sofrem com os problemas levados pelos brancos, como alcoolismo e doenças. Os Avá-canoeiros, depois de serem classificados como comedores de carne humana, são vítimas de uma guerra de extermínio, estão em extinção e ainda são obrigados a viverem na aldeia Canoanã, dominada pelos seus antigos inimigos da nação Javés.
Voltando ao período mais recente da história, há algo também parecido nas cidades deste novo Estado, onde muitos descendentes de pioneiros não tiveram a oportunidade de se qualificarem profissionalmente e com baixa produtividade no campo e pouca renda foram obrigados a venderam suas terras a preço de banana, provocando êxodo rural e hoje vivem nas periferias das cidades. Sem estudo e formação técnica, muitas dessas pessoas agora peões dos grandes investidores que compraram suas terras e ganham fortunas com elas usando a tecnologia e o conhecimento. No contexto urbano, outros que viviam no Centro da cidade, pelas circunstâncias, foram parar nos conjuntos habitacionais e sustentam a família com um salário mínimo, ou menos, deixando seus filhos entregues à marginalidade, ociosos e sem perspectiva de vida. Coisas que ninguém do poder faz questão de ver…
Contudo, há um lado positivo que foram às oportunidades, apesar de tardia, nos últimos anos algumas pessoas tiveram a chance de se libertarem ao se qualificarem tecnicamente ou ensino superior. Enquanto, do outro lado da moeda, boa parte deste povo vive como a figura do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, conforme foi citado no livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro, em que ele considera que, apesar da riqueza de observação de Lobato, a caricatura de Jeca Tatu é visto como o piolho da terra, preguiçosa e cheio de verminose e incapaz de aceitar qualquer proposta de trabalho.
“O que Lobato não viu, então, foi o traumatismo cultural em que vivia o caipira, marginalizado pelo despojo de suas terras, resistente ao engajamento no colonato e ao abandono compulsório de seu modo tradicional de vida”, Darcy Ribeiro (1995).
Como podemos ver, não foi apenas o poder econômico que deixou de ser dominado pelos pioneiros, mas também o poder político de representatividade, pois não se vence eleição sem dinheiro. Depois que desmembrou de Goiás, se for levar em conta as 139 prefeituras do Tocantins, parte delas hoje estão sendo ocupadas por pessoas “mais preparadas”, como são os casos dos doutores médicos, advogados e engenheiros que vieram de outras regiões e chegaram ao poder depois de conseguirem adquirir o patrimônio e ler a fraqueza deste povo. Enquanto muitos vivem do saudosismo, não refletem que a história deste lugar foi feita pela simplicidade de suas descendências que povoou a região e deram nomes às ruas. Não se trata de pensamento Xenofóbico, mas apenas um reflexão.
Chegado ao período eleitoral, oxalá que povo e a classe política despertassem à construção de um projeto político inclusivo para que os nativos tenham oportunidades de se libertarem por meio da educação e qualificação técnica e assim possam corrigir e entender o traumatismo cultural x saudosismo do passado. São pessoas que foram jogadas para as periferias e muitas delas adentrarem nas estatísticas recentes como promotores da violência, talvez por padecerem de formação intelectual, carecem de identidade cultural e não podem mais embarcarem em projetos alheios aos que poderiam lhes dar chances de sobrevivência com decência, sintomaticamente efeitos de um sociedade de aparência de ideias arcaicas onde os fracos foram iludidos com discursos modernos inviáveis, inversos à valorização e resgate de suas raízes e de atacar a raiz dos problemas sociais e econômicos.