“Quando não se tem noção de política, de justiça e de ética a pessoa se amesquinha e não vê um palmo diante do seu nariz. Tal pessoa ignorante acredita no que passa na TV, principalmente no noticiário como se fosse a verdade única e absoluta: ela não sabe que também é manipulada”. João Nunes
por João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação.
A ignorância diz respeito à falta de conhecimento ou da funcionalidade de algo, por exemplo, dos acontecimentos contemporâneos; essa é uma das principais definições que podemos encontrar no Dicionário online de português. Mas, além disso, se refere, também, a grosseria.
Em geral encontramos pessoas que são ignorantes nos dois aspectos, até mesmo porque quando falta conhecimento, numa discussão, por exemplo, algumas pessoas apelam para a grosseria como forma de ganhar no grito.
Toda pessoa tem seu grau de ignorância, pois, nunca se sabe de tudo e quando sabemos muito sobre algo, na verdade, nunca sabemos o bastante; e mesmo quando sabemos muito sobre algo significa que falta conhecimento sobre várias outras coisas. Não por acaso que consta sobre Sócrates que ele afirmou a celebre frase “Sei que nada sei”, quando foi perguntado qual era o homem mais sábio do mundo.
A certeza de que não sabemos nada dá margem para aprender cada vez mais; já o contrário, quando o sujeito acha que sabe muito, deixa de aprender mais por acreditar que já sabe o suficiente.
Considerando a falta de conhecimento sobre o mundo contemporâneo, é sobre esse assunto que apresento aqui minhas considerações, principalmente sobre a forma como a ignorância é alimentada para beneficiar poucos em nossa sociedade.
A falta de leituras e a indisponibilidade, ou falta de vontade mesmo, para conhecer, para dialogar e para ouvir, fazem de uma pessoa um perfeito ignorante; mas o pior dos ignorantes é exatamente o fato de achar que se basta e que já conhece o suficiente. Na verdade são pessoas fisiológicas em grande medida, pois, na falta de conhecimentos suficientes para entabular uma conversa predomina o instinto, o emocional, o despreparo e o desrespeito ao outro.
Nos últimos dias temos presenciado uma enxurrada de ignorância de tudo, principalmente no que se refere à política e até mesmo da vida, do viver em si.
A maior prova da ignorância está no preconceito, o que se mostra como demonstração maior da pequenez humana.
A ignorância não distingue classe; há muitas pessoas que tem dinheiro, não tem classe e muito menos conhecimento; a prova disso está na classe média brasileira que destilou tudo o que foi capaz de mostrar da sua ignorância desde as últimas eleições presidenciais, principalmente o preconceito e o discurso de ódio.
A principal ignorância da classe média é achar que tem classe; ela se acha melhor do que os demais e atua como um capataz que mesmo sendo manipulado pelo sistema acha-se melhor enquanto está a serviço do patrão.
Mas o que mais estranha mesmo é a falta de conhecimento de si mesmo e do mundo no qual se está inserido; é essa ignorância que faz o individuo sem noção defender os interesses mais mesquinhos possíveis sem saber que é a principal vítima da mesquinharia.
Quando não se tem noção de política, de justiça e de ética a pessoa se amesquinha e não vê um palmo diante do seu nariz. Tal pessoa ignorante acredita no que passa na TV, principalmente no noticiário como se fosse a verdade única e absoluta: ela não sabe que também é manipulada.
Esse tipo de ignorante faz parte da massa; ele acha que não precisa pensar porque tem quem pense por ele e acredita nos especialistas da TV sem sequer saber por que acredita; esse tipo de indivíduo é apenas uma simples marionete do sistema e quando tem oportunidade atua como algoz dos seus pares, assim como o capitão do mato e o capataz a serviço da escravidão da qual participam e também são vítimas.
A manutenção da ignorância interessa para aqueles que se mantém dela; ou seja, para quem domina o sistema vigente a ignorância da maioria é fundamental, pois só assim se controla mais e melhor; por isso que não interessa para a maioria dos governantes que se tenha uma educação que funcione para todos com qualidade suficiente para oferecer conhecimento crítico e não apenas técnico ou pragmático.
O conhecimento crítico é o que liberta, pois oferece condições para questionar e refletir sobre o sentido e o funcionamento das coisas; com esse tipo de conhecimento é difícil a manipulação.
O preço da ignorância é a opressão não percebida e perpetuada; tal ignorância é alimentada pela ausência de leitura e por uma escola que desumaniza quando não oportuniza a crítica e a reflexão; como conseqüência tem-se o crescimento do ódio, do fascismo, da maldade e da perversão.
Sobre o conhecimento crítico trataremos mais em próximo artigo