“Por mais que os representantes dos três poderes digam que estamos numa normalidade e que nossas instituições funcionam normalmente, o fato é que estamos numa democracia mitigada: a justiça só tem sido válida para um lado, enquanto o outro lado é criminalizado“. João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Miracema-TO. Trabalha como projeto em cinema e educação
Vivemos momentos difíceis e preocupantes. Nossa democracia está ameaçada. O Fascismo se apresenta cada vez mais evidente, a olho nu.
As eleições de 2018 estão sendo realizadas sob polêmicas e controvérsias: um candidato que provavelmente venceria as eleições, até mesmo no primeiro turno, foi retirado do processo eleitoral de maneira questionável. Até mesmo o Comitê da ONU já se posicionou a respeito, mas foi ignorado.
O judiciário prendeu Lula sem provas suficientes e não permitiu o que a Constituição cidadã garante em seu artigo 5º, LVII: que todo cidadão não pode ser condenado sem que se esgotem todos os recursos; ou seja: ninguém pode ser preso sem provas.
Antes das eleições tivemos um impeachment sem provas. Sim, o impeachment é legal na Constituição, mas para se afastar uma Presidente sem provas suficientes o outro nome disso é golpe. Até hoje o mérito não foi julgado.
Agora prenderem o candidato que venceria as eleições; acharam pouco e proibiram seu direito a entrevistas e a visitas normais. Por mais que tentem esconder, Lula é hoje um preso político; com isso ferem a democracia e a Constituição.
Por mais que os representantes dos três poderes digam que estamos numa normalidade e que nossas instituições funcionam normalmente, o fato é que estamos numa democracia mitigada: a justiça só tem sido válida para um lado, enquanto o outro lado é criminalizado
Um candidato com um programa claramente fundamentado na exclusão e nos princípios fascistas, ameaça a democracia e até intimida o STF e o TSE caso não vença as eleições.
Esse mesmo candidato, quando da votação do impeachment da Presidente Dilma, elogiou escancaradamente um dos maiores torturadores no período militar; isso foi dito diante dos outros parlamentares e das câmeras de TV para todo o mundo vê e ouvir. O próprio judiciário sequer mencionou o caso.: só esse caso já demonstra ameaça a democracia e aos Direitos Humanos.
A constituição vem sendo rasgada, ignorada, até mesmo por representantes do judiciário. Um filho do candidato que defende as armas afirma que “basta um soldado ou um cabo para fechar o STF”; incrivelmente isso ecoa como se fosse uma brincadeira.
Em resposta a Presidente do TSE ameniza a ameaça ao afirmar que a declaração de Eduardo Bolsonaro pode ser compreendida como inadequada. Não Ministra, a declaração é crime; é uma ameaça declarada às instituições e á democracia.
Um candidato ameaça claramente eliminar aqueles que consideram inimigos. Foi dito em carros de som, em comícios e ainda com faixas e cartazes que “petista bom é petista morto”. Mas o judiciário acha isso normal?
A ameaça é explícita e assassinatos já ocorreram, como foi o caso do Mestre de capoeira Moa do Catendê, na Bahia, morto, logo após o 1º turno, porque ter declarado voto ao PT.
Não, nós não estamos numa normalidade
A Constituição e a democracia estão sendo afrontadas. Vivemos numa democracia mitigada e o horizonte se mostra sombrio.
O que ocorre aos olhos do judiciário é visto como normalidade.
Na Itália o fascismo começou e se instalou também à luz da justiça.
Enquanto isso a ignorância serve de esteira para a barbárie anunciada.