João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação.
Pessoa é um termo institucional que está diretamente ligado ao sentido social; um documento, um registro, por exemplo, indica que tal pessoa pertence a alguma família e assim será reconhecida socialmente. A pessoa pode ser física ou jurídica. Uma empresa, por exemplo, pode ser uma pessoa jurídica, assim como um time de futebol, uma grande corporação, até mesmo um banco, por exemplo.
A pessoa humana é outra coisa, é dotada de capacidade de sentir, de pensar e de agir e estabelece suas relações sociais por onde passa. Cada pessoa humana tem uma infinidade de perspectivas. Sempre que falamos em pessoa humana queremos enfatizar o ser humano em si em meio à sociedade.
No mundo da sociedade dos indivíduos a pessoa humana tem perdido cada vez mais lugar para a pessoa jurídica, especialmente quando se tratam de empresas que fazem parte da vida das pessoas em geral, sem que as mesmas se dêem conta do estrago que podem ou estão a fazer.
Uma empresa de telecomunicações, por exemplo, é uma pessoa jurídica; mas se você que tem um telefone e por algum motivo precise fazer alguma reclamação, como uma conta que veio errada, ou coisa do tipo, certamente terá grandes dificuldades para falar com alguém para solucionar o seu problema; primeiro porque falará com máquinas e, depois, se alguém atender será como pessoa jurídica e em geral tratará você como um cliente e não como um ser humano, que é muito diferente.
A pessoa é diferente do indivíduo e da subjetividade; o indivíduo é a parte da sociedade e subjetividade é algo que pertence ao sujeito; sempre que falamos de subjetividade queremos tratar da infinidade de necessidades de uma pessoa humana, como a de pensar, sentir, sonhar, se comportar, entre outras coisas mais que pertencem principalmente ao âmbito da personalidade e, portanto, da psicologia.
Na sociedade onde predomina a coisificação do ser humano, que diariamente é tratado como objeto do sistema, a subjetividade é também algo complexo, deixado muitas vezes de lado, ou, considerada quando convém para o sistema das organizações. Por exemplo, o mundo do marketing, da publicidade e da propaganda utiliza da psicologia para manipular suas emoções e assim torná-lo ainda mais vulnerável as necessidades do consumo.
Vejamos um exemplo: o que tem a ver um uma cerveja com uma mulher? Por que então temos tanta propaganda de cerveja com uma mulher como centro?
A imagem da mulher, numa sociedade machista, reflete o desejo do macho de possuí-la e assim de sentir-se importante por beber uma cerveja cuja propaganda traz uma mulher belíssima, sedutora e que ainda o convida na TV para que você aprecie a cerveja.
No imaginário, isto é, na subjetividade do individuo, ou de uma pessoa humana, mais precisamente de um macho, a cerveja assim como a mulher é para degustar, ou melhor, para satisfazer suas necessidades; observe bem até que ponto chegou o mundo do consumo capitalista: a mulher não é vista como humana, mas como algo a ser provado e, portanto, a satisfazer as necessidades fisiológicas e sociais. É isso que os comerciais passam diariamente nos principais meios de comunicação.
Agora no que diz respeito à subjetividade num sentido mais amplo, que envolve as necessidades sociais, psicológicas, políticas e culturais de cada pessoa humana, aquilo que envolve miríades de outras necessidades do sujeito na sociedade, essa questão é mais complexa e não interessa para o mundo coisificado; apenas interessa para o mundo das organizações como negócio.
As subjetividades humanas em geral só são vistas em parte e quando interessa a satisfação das necessidades do sistema. Por exemplo, as empresas, salvo algumas exceções, passaram a se preocupar com as condições de trabalho quando perceberam que estava em jogo a produtividade; nesse caso, se interessaram por pesquisas relacionadas ao comportamento nas organizações.
As subjetividades dizem respeito ao modo próprio de ser, o que pode conter aspectos positivos e negativos. Em geral quando alguém se refere a subjetividade se espera a compreensão do seu jeito de ser.
Numa sociedade onde predomina a indiferença e a impessoalidade os jeitos próprios de ser são ignorados pela maioria que compõe a massa dos indivíduos. Nesse sentido a tendência da maioria é seguir o padrão estabelecido pelo mercado e assim os problemas se sucedem.
Sobre esse assunto podemos encontrar vários filmes que tratam das exigências da sociedade do consumo na sociedade, a exemplo de Advantageous (Direção Jennifer Phang, 2015) Sobre esse filme trataremos no próximo artigo.