“Enquanto escrevo essas linhas soube da notícia que uma estudante do curso de Serviço Social, Gilmara Oliveira, de Miracema-Tocantins (que inclusive era minha aluna) foi assassinada pelo seu ex-marido que não aceitou o fim do relacionamento”, João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Miracema-TO.Trabalha com projetos em cinema e educação
O machismo e o feminicídio são duas mazelas que estão presentes ainda em nossa sociedade. Ambos estão intimamente relacionados e se complementam.
Para o dito macho o lugar da mulher na sociedade é sempre aquele voltado à submissão; nessa concepção não se aceita de modo algum que a mulher ocupe determinados espaços e que tenha a liberdade para agir; não se aceita inclusive que a mulher receba um salário maior do que o do homem.
Com o machismo não há dialogo, pois, para o dito macho a mulher apenas deve obedecer ao homem, seguir suas diretrizes e ser objeto de cama, mesa e banho.
Essa concepção machista se complementa com o feminicídio, uma vez que o homem ao suspeitar que por acaso a mulher apresente alguma atitude que foge do seu controle logo vê-se ameaçado; aí o macho vira uma fera capaz até mesmo de matar; daí o feminicídio propriamente dito.
O feminicídio de fato é o assassinato de mulheres por homens movidos por ódio baseado no gênero; ou seja, vêem a mulher como uma ameaça. A mulher, nesse caso é assassinada simplesmente pela condição de ser mulher.
Conforme o Dossiê Violência contra as mulheres publicado pela Agência Patrícia Galvão o Brasil apresenta uma taxa de 4,8 assassinatos em 100 mil mulheres; com isso está entre os países com maior índice de homicídios femininos: ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações, segundo dados do Mapa da Violência 2015 (Cebela/Flacso).
Só para se ter uma idéia, considerando dados de 2013, no Brasil diariamente são assassinadas em torno de 13 mulheres por dia. Os principais homicidas são os parceiros das mulheres que em geral não aceitam a não subserviência das mulheres ou o fim de um relacionamento por parte da mulher.
Enquanto escrevo essas linhas soube da notícia que uma estudante do curso de Serviço Social, Gilmara Oliveira, de Miracema-Tocantins (que inclusive era minha aluna) foi assassinada pelo seu ex-marido que não aceitou o fim do relacionamento. Confira mais sobre o assunto aqui.
Essa é apenas mais uma demonstração de que a situação da mulher no Brasil se compara a um estado de guerra.
Ressalta-se que o machismo em nossa sociedade tem suas raízes desde a sua formação e vem sendo alimentado por uma estrutura institucional retrograda e também machista.
Algumas religiões, como a cristã, por exemplo, atribuem à mulher o lugar de existirem simplesmente para servirem aos homens; isto é, as mulheres, nessa concepção retrógrada existem para serem objetos para os homens.
Até mesmo o cinema, se observarmos atentamente logo percebemos que em geral a maioria das mulheres nos filmes tem como principal função servir aos homens, de modo que em nenhum momento se admite sua autonomia em relação ao homem.
O machismo, o sexismo, a homofobia, o feminicídio, dentre outros, são fruto de uma sociedade doente.