No artigo, Henrique Matthiesen cita a seguinte fala de Leonel Brizola: “Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré; como é que não é jacaré?” Em seguida, ele considera: “Neste pântano de espertezas, sutilezas e embustes, os jacarés são habilidosos, donos de retóricos e soluções simples — conversadores, verdadeiros charlatões oportunistas. Mestres do aleive, comportam-se com ar professoral, mesmo sendo ignorantes em temáticas que eles convêm. Na arte de ludibriar ou de ensinar o vigário a rezar missa, o jacaré metafórico de Brizola sempre tem uma observação, uma contribuição, um lisonjeio para aplicar seu bote”.
Por Henrique Matthiesen
Um dos atributos essenciais de uma grande liderança política de massas é saber se comunicar. Como dizia o velho guerreiro Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica.”
Leonel Brizola era uma destas lideranças que tinha o dom e a maestria da comunicação utilizando inúmeros recursos linguísticos para se fazer entender e para atingir as mentes e os corações do povo brasileiro.
Um destes recursos, manuseado com proficiência por Brizola, era a metáfora: figura de linguagem em que se transfere o nome de uma coisa para outra e assim é possível estabelecer uma relação de comparação.
Inúmeras vezes, Brizola usou e abusou da metáfora, tornando-se uma referência neste recurso. Algumas de suas metáforas ficaram célebres por sua astúcia, inteligência e simplicidade.
Certa vez, para dizer que alguém era desonesto ou simplesmente corrupto, ele utilizou a metáfora do jacaré, que ficou famosa e que se aplica de forma certeira em muitos casos contemporâneos.
Brizola disse:
– “Se algo tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré, corpo de jacaré e cabeça de jacaré; como é que não é jacaré?”
Seja na realpolitik, nos bastidores do “poder” ou simplesmente no cotidiano, o que não falta é jacaré.
Neste pântano de espertezas, sutilezas e embustes, os jacarés são habilidosos, donos de retóricas e soluções fáceis — conversadores, verdadeiros charlatões oportunistas.
Mestres do aleive, comportam-se com ar professoral, mesmo sendo ignorantes em temáticas que lhes convêm. Na arte de ludibriar ou de ensinar o vigário a rezar missa, o jacaré metafórico de Brizola sempre tem uma observação, uma contribuição, um lisonjeio para aplicar seu bote, prestando-se a situações ignominiosas para seu êxito ou manutenção do status quo. Afinal, o jacaré não deixa de ser jacaré nunca.
Cuidado: muitas estéticas floridas e articuladas escondem essências pantanosas e enganadoras, cheias de jacarés.
Brizola também dizia: “Cuidado, povo brasileiro…”
Henrique Matthiesen
Formado em Direito – Pós-graduado em sociologia