“O político por vocação é um apaixonado por um grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforma”, Heráclito Ney Suite.
Prof. Esp. Heráclito Ney Suiter *
A política é uma das mais nobres vocações. A palavra vocação tem origem no latim “vocare”, e que dizer “chamado”. É um chamado interior de amor, um chamado de amor por um ‘fazer’, mesmo que não se ganhe nada por isso.
A palavra ‘política’ tem base no grego polis, e significa cidade. Na Grécia Antiga, a cidade era um espaço seguro, sob a ordem e a tranqüilidade, aonde os homens podiam se dedicar na busca da felicidade. No pensamento helênico, ao político cabia cuidar da polis, ficando a vocação política a serviço da felicidade dos moradores da cidade.
Já os hebreus, por se tratarem de um povo nômade, pastores com origens nos desertos do Oriente Médio, não tinham a concepção da busca da felicidade através das cidades; eles sonhavam com jardins.
Para os hebreus, D’us não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se você perguntar a um profeta hebreu “o que é a política?”, ele com certeza responderia que é “a arte da jardinagem adaptada às coisas públicas”.
O político por vocação é um apaixonado por um grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim!
Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar crônicas e poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastão – lhes o grande jardim para todos.
Conheci e conheço muitos políticos por vocação, uns já foram embora, mas partiram lutando para formar jardins, outros, mesmo com idade avançada, não perderam a vontade de formar jardins, suas vidas sempre foram e continuam a ser um motivo de esperança(…)
Há uma diferença entre vocação e profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação, mas sim no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um apaixonado.
O vocacional é como um homem que faz amor pela alegria de amar. Já o profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.
O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, tenha que aumentar ao seu redor o deserto e o sofrimento.
Assim é que se difere o verdadeiro político do falso político. O primeiro pensa em eternidades, já o segundo, em ‘minutos’.
Quem pensa em minutos não tem paciência para semear árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.
Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão.
Se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram a coragem, o amor e a paciência de semear árvores cujas sombras nunca se assentariam (…)
– Pós-Graduando em Comunicação em Crises nas Organizações Públicas e Privadas;