(Wesley Silas)
Acompanhado da filha Kaukama Avá-canoeiro o índio mais velhos da tribo que atualmente vive de favor em um espaço de 12m x 30m na aldeia de Canoanã, da etnia Javaé, na Ilha do Bananal encontra-se em internado em uma enfermaria no Hospital Regional de Gurupi depois de ser submetido a uma cirurgia e ter saído da UTI.
“Ele foi urinar durante a noite e a nossa casa é muito baixa e ele bateu a cabeça em um pau dentro de casa e ficou tonto, depois ele foi para Formoso do Araguaia onde ficamos seis dias no dia 21 nós viemos para Gurupi”, disse a filha Kaukama.
De acordo com uma enfermeira do Hospital, Tutal Avá-canoeiro foi submetido por uma cirurgia neurológica para retirada de um tumor no cérebro e, apesar da gravidade, não tem tido assistência como deveria da Casa de Saúde Indígena de Gurupi (CASAI). “Hoje mesmo eu liguei na Casaí e eles disseram que não vão comparar fraudas para o índio e afirmaram que eles [Tutal e a filha] têm dinheiro para comprar. Aqui no hospital só temos fralda [geriátricas] do tamanho P que não serve devido ele usar a G. Fica ainda mais complicado é porque ele só fala a língua dele e fica difícil entender o que ele sente e ela [Kaukama] não entende a situação”, disse a enfermeira.
Segundo informações do hospital, depois da cirurgia e de ter saído da UTI, Tutal chegou a ser amarrado em uma cama na enfermaria, pois estava muito agitado, para possibilitar a aplicação de medicamentos. “Ele é uma paciente que não está consciente, está desorientado, confuso e muito agitado”, disse.
Sem a presença da Casaí, o padre Domingos R. Maciel, da Paróquia Universitária São Judas Tadeu, encabeçou uma campanha para arrecadar fraldas para Tutal e as pessoas que queiram doar fraldas geriátricas no tamanho G devem ligar nos telefones (63) 9965-6465 ou (63) 8462 – 5629 ou procurar o hospital e doar em nome da nação Avá-canoeira.
Os avá-canoeiro
No artigo Os avá-canoeiro do Araguaia hoje: uma perspectiva de futuro, a antropóloga Patrícia Mendonça, esclarece que os avá-canoeiro ficaram conhecidos como um povo que resistiu ao colonizador, recusando-se a estabelecer contato pacífico. A perseguição e o extermínio da maioria levaram à sua dispersão e fragmentação em dois grupos. Apesar de eventuais confrontos, uma utilização diferenciada dos recursos naturais permitiu a convivência de um desses grupos, em um mesmo território, com os inimigos históricos javaé, pescadores e agricultores que se utilizavam preferencialmente das lagoas e rios. Devido à intensa perseguição, os avá-canoeiro se movimentavam mais no espaço e haviam abandonado a agricultura, tornando-se coletores e caçadores. Por questões de segurança, priorizavam as matas dos terrenos mais elevados entre os cursos d’água.
Após décadas de violências fomentadas pela sociedade regional e pelo Estado e convivência forçada e inferiorizada em território de etnia rival, a situação dos avá-canoeiro é considerada dramática. Apesar das severas condições alimentares terem sido relativamente atenuadas com o recebimento de aposentadorias e recursos de programas assistenciais nos últimos anos, sua marginalização social é reforçada de vários modos, um deles o não atendimento de seus pleitos em condições de igualdade com outros grupos étnicos.
Os sobreviventes do primeiro contato são apenas três pessoas, mas um grupo de descendentes que continuou se reproduzindo com índios javaé, tuxa e karajá soma hoje cerca de 20 pessoas. Apesar do forte contexto de discriminação, o grupo está em expansão, se autoidentifica como avá-canoeiro e mantém a língua de origem tupi-guarani viva, além de importantes conceitos e práticas culturais que os diferenciam de outras etnias indígenas e dos não índios. (Com informações do MPF).