João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias.
Li recentemente uma notícia num influente jornal do país sobre mudanças na lei referente aos cursos de formação de professores. A discussão se refere à questão da teoria e da prática nos cursos da área de educação, como o de Pedagogia, principalmente.
É certo que é preciso equilíbrio entre teoria e prática, bem como, não deixa de ser verdade que há situações em que a teoria se mostra muito mais presente do que a prática. Não dá para se pensar numa formação de professores, ou de profissionais da educação, quando incluímos os gestores, coordenadores e similares, simplesmente baseado em teoria e, também, apenas focado na prática sem a capacidade de critica e de problematização da realidade.
Quando se exagera na prática, a situação também fica complicada, pois, é necessário, para uma boa prática, que o profissional tenha conhecimento suficiente para saber como lidar com as diversas situações que vai encontrar quando está em ação, seja numa sala de aula, na direção de uma escola, na secretaria ou na assessoria.
Diante desse dilema entre teoria e prática, o que fazer então com a nossa educação? Acredito que há que se buscar o equilíbrio entre ambas, de modo que não se dê vazão a uma situação na qual “nem tanto o mar, nem tanto a terra” seja o que se apresente no cotidiano da educação, especialmente quando estamos falando de sala de aula ou de escola básica.
Se ainda encontramos cursos de formação de professores que apresentam um currículo cuja teoria se mostra predominante, evidentemente que encontramos aí um problema; todavia, qual o problema mesmo? Como mensurar esse problema? Significa que os formandos dos cursos de formação de professores estão “viajando na maionese”? Estão apenas “enchendo lingüiça”, uma vez que não se oferecem oportunidades maiores para estágios e outras disciplinas práticas? Talvez seja esse um dos problemas, porém não é somente esse o caso.
Não se pode conceber que um curso de formação do professores fique apenas no blá, blá, blá, como se costumam dizer por aí. É preciso sim aliar a teoria com a prática. Para tanto, poderíamos considerar o equilíbrio de disciplinas teóricas e práticas; nesse caso, já teremos um bom começo.
Mas, a questão não é tão simples assim. Não é simplesmente tirando algumas disciplinas teóricas que teremos a solução da educação; afinal, os professores precisam saber como lidar com conteúdos, com os alunos e com a realidade que a escola e o cotidiano da sala de aula exigem e precisam também de um conhecimento crítico e reflexivo capaz de dá conta da realidade e dos desafios que se apresentam.
É fato que, com a Ditadura Civil Militar (1964-1985), a formação tecnicista se tornou predominante, de modo que os cursos, durante um longo tempo, apenas se baseavam em uma formação prática em detrimento de uma formação crítica e cidadã. Por isso que após a Ditadura a coisa parece ter pendido mais para a teoria, em alguns casos, pelo menos em parte. Mas não é que exista apenas teoria; o fato é que se precisava corrigir o processo de robotização levado a cabo pelos ditadores.
Hoje, sem dúvida, se faz necessário o equilíbrio entre teoria e prática; temo que se dêem mais uma vez uma guinada para o tecnicismo e, consequentemente, para a alienação, pois, a formação de professores no Brasil ainda carece de importantes mudanças e não teremos melhoras apenas por meio de decretos e leis. É importante o diálogo e o debate no sentido de se e construir juntos uma educação melhor capaz de favorecer a formação de sujeitos críticos e competentes.