“A narrativa do filme procura mostrar o problema da educação, que é estrutural, mas exatamente a partir da perspectiva de que o professor pode ser o cara responsável por toda possibilidade de transformação da escola; é como se todo o problema da educação estivesse de fato no professor e não na estrutura construída e mantida para reproduzir as desigualdades sociais”. João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Miracema-TO.Trabalha com projetos em cinema e educação.
Geralmente filmes sobre educação apresentam aquela receita básica segundo a qual depreende-se que o problema da educação está no professor que não encontrou ainda a metodologia certa para lidar com a educação e com os alunos.
Se fizermos um checklist dos filmes relacionados à educação, até hoje, dificilmente veremos algum que mostre uma perspectiva crítica sobre a educação a partir da estrutura da sociedade estabelecida pela classe hegemônica; talvez o documentário francês Entre le mures(Direção de Laurent Cantet (2009)- Entre os muros da escola – na versão portuguesa, se aproxime dessa possibilidade. Acho que é o mais convincente nesse nessa perspectiva.
Recentemente tive a oportunidade de assistir mais um desses filmes, no caso: O melhor professor da minha vida (Direção de Olivier Ayache-Vidal, lançado em no corrente ano.
A narrativa do filme procura mostrar o problema da educação, que é estrutural, mas exatamente a partir da perspectiva de que o professor pode ser o cara responsável por toda possibilidade de transformação da escola; é como se todo o problema da educação estivesse de fato no professor e não na estrutura construída e mantida para reproduzir as desigualdades sociais.
O melhor professor da minha vida apresenta claramente uma sociedade dividida em classes na qual a escola privada é a melhor, enquanto que a pública carece de tudo, inclusive de professores com incapacidade para lidar com uma turma multicultural e indisciplina cujos alunos estão na escola pra tudo, menos para estudar.
O professor escolhido para ser “o cara” que vai “transformar tudo” é exatamente um que veio de uma escola privada e que traz consigo todo um receituário para a educação pública no subúrbio de París.
Trata-se de François Foucault, de 40m anos, renomado professor de língua francesa, de um Liceu perto do Pantheón de París. Ele aceita o desafio e vai trabalhar pelo menos por um ano no subúrbio da capital européia conhecida pela Treliça Torre Eiffel; e como era de esperar, lá enfrenta todas as dificuldades possíveis para realizar o seu trabalho; todavia, consegue de alguma forma “controlar” os alunos, coisa que a maioria dos professores da escola não consegue.
Tirando esse receituário que já se tornou lugar comum em filmes sobre educação, o filme aponta pontos importantes para refletir sobre o problema da educação.
O melhor professor da minha vida Favorece uma leitura sociológica e chama a atenção para refletir sobre os diversos problemas da educação no mundo sob a ótica da sociedade capitalista na qual o papel da escola é exclusivamente para preparar máquinas para a manutenção do sistema conforme as regras estabelecidas pelo mercado.
Por fim, podemos afirmar a partir desse filme que a educação formal, de forma geral, continua a serviço da desigualdade; não favorece a crítica e a reflexão e prepara uma massa dócil para atender as exigências do mercado sob a tutela da classe dirigente que se perpetua no poder enquanto mantém a maioria na servidão.