“Na cartilha do estoicismo senequiano, a raiva existe e é sentida, no entanto, sua administração só é possível por meio da virtude que nos leva a rejeitar as paixões ou sentimentos externos.
No agir dos estoicos, a raiva não é um impulso cego involuntário, mas fruto de um julgamento de intenções naturais que nos cabe a estabelecer uma postura que a contenha de forma lúcida, racional e inteligente”. Emílio Lopes.
Por: Emílio Lopes
Se você procura um modo de vida ou um modo de estar no mundo diante de tantos desafios e limites impostos pela lógica pragmática do mundo atual, então precisa conhecer o estoicismo de Sêneca.
O filósofo que tinha a piedade do truculento imperador romano, Nero, não criou o estoicismo, mas foi o que mais contribuiu para sua popularização no cenário greco-romano, fazendo dessa doutrina antiga uma receita apropriada em tempos tão conturbados e cheio de imprevisibilidades.
A filosofia de Sêneca já foi chamada de “Zenonismo”, em homenagem ao fundador Zenão de Cítio (Século III a.c). Ela é tão importante que nos fortalece de virtudes fazendo-nos entender ou aderir ao que chamavam no passado de “calma estóica”.
A raiva, o estresse, a tensão, a ira, a fúria, como conter essas sensações e buscar a calma, a serenidade e o equilíbrio em meio a tanta competitividade entre humanos? O estoicismo que buscou explicar a raiva pode ser uma opção.
A corrente de pensamento que coloca a virtude como suficiente para atingir a felicidade, tem no aristocrata (ele era rico), Sêneca, seu maior expoente e propagador, sendo ela, uma grande aliada para os tempos caóticos da sociedade.
E por que recorrer a filosofia e tal corrente reflexiva em dias atuais com a rejeição de parte da sociedade para o pensamento e a reflexão? Para obter tal resposta, é necessário ir além do nome estoicismo e do seu brilhante filósofo, Sêneca.
A maioria dos filósofos que analisam o estoicismo desse filósofo, citam a raiva no trânsito para exemplificar nossa reação diante de desafios presentes no dia a dia de muitos de nós, humanos, assim como outros problemas que exigem total controle emocional.
A raiva tem sido o comportamento mais presente no nosso dia a dia. E mesmo que muitos tenham o devido auto controle emocional, a grande maioria se depara com inúmeras situações de ira, de humor aflorado e de destempero comportamental em meio aos desafios diários.
Em um livro intitulado “Da Ira”, Sêneca tratou desse tema classificando-o como “A mais terrível e furiosa das emoções”, assim ele descreveu. Mas recusava-se a vê-la como uma explosão irracional e incontrolável.
Na cartilha do estoicismo senequiano, a raiva existe e é sentida, no entanto, sua administração só é possível por meio da virtude que nos leva a rejeitar as paixões ou sentimentos externos.
No agir dos estoicos, a raiva não é um impulso cego involuntário, mas fruto de um julgamento de intenções naturais que nos cabe a estabelecer uma postura que a contenha de forma lúcida, racional e inteligente.
A Jornalista especializada em Filosofia, Margot Cardoso colunista da página Vida Simples, afirma que Sêneca discorda “que a raiva seja irracional e incontrolável, pelo contrário: a “raiva é muito racional”.
Em um brilhante documentário, FILOSOFIA: um guia para a felicidade, feito no ano 2000, para a BBC de Londres, o filósofo suíço, Alain de Botton com base em seu livro “As Consolações da Filosofia”, afirma que Sêneca responde que as motivações fornecidas pela raiva não são necessárias, pois a virtude é suficiente na guerra, na defesa de si próprio e mesmo na punição aos ofensores.
Botton, ainda nesse mesmo documentário analisa Sêneca informando que a ira e as frustrações ocorrem porque criamos uma expectativa de uma vida quase perfeita e nos surpreendemos tendo “essas reações irracionais aos revezes”.
Porém, continua ele, as dificuldades e fracassos são inerentes à própria vida. Para o filósofo romano antigo, se não podemos mudar as coisas, podemos mudar a nossa atitude diante dos problemas que são inevitáveis.
* Emílio Lopes é historiador e escritor tocantinense.