João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, mestre em Sociologia e professor da UFT –Campus de Arraias.
No dia 1° de dezembro tive a oportunidade de ministrar uma palestra sobre as transformações da sociedade e a educação; o evento ocorreu na câmara de vereadores de Arraias-TO e foi organizado pela Escola Municipal Brigadeiro Felipe como parte da XV Semana da Educação organizada pela citada unidade escolar.
Na oportunidade fiz um breve histórico dos principais acontecimentos que provocaram sérios impactos na sociedade, tanto positivos quanto negativos. Assim discorri sobre a organização da polis grega no período helenístico e sua influência na sociedade até a atualidade.
Em seguida destaquei o período medieval e a forma como o cristianismo moldou o pensamento grego, especialmente as idéias de Platão e de Aristóteles para assim dar forma ao projeto da Igreja Católica no que se refere ao domínio do corpo e da alma por meio do teocentrismo e, por sua vez, das estratégias de inibição e até mesmo de anulação daqueles que se colocavam contrários aos ensinamentos dessa instituição tendo como principal meio a chamada Inquisição.
Continuando essa perspectiva histórica foram lembradas as grandes transformações do Ocidente a partir do Renascimento, evento que marca o fim do pensamento Medieval e inicia o que conhecemos hoje por modernidade.
A seguir destaca-se o Iluminismo, com a prioridade na Razão, evento esse que marca uma significativa produção nas diversas áreas, com destaque para vários pensadores, dente eles rassaltam-se Locke, Rousseau, Montesquieu.
Com o Iluminismo a sociedade conhece novas idéias que vão se materializar na prática a partir do século XVIII, principalmente com as grandes revoluções, como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial; acontecimentos que abriram caminho para o surgimento e desenvolvimento do Capitalismo e suas contradições.
Com o capitalismo o trabalhador passa a ser também uma mercadoria que produz mais mercadorias e se encontra submetido a um regime de alienação e de dependência.
A partir do século XX temos o fortalecimento do capitalismo e, também, suas contradições não impedem o colapso econômico e social materializado com as duas grandes guerras mundiais, a queda da bolsa de valores, a grande depressão americana, mais precisamente nos anos 1930.
As duas grandes guerras deixaram o mundo em situação calamitosa. A partir da Segunda Guerra Mundial o mundo conhece os horrores dos regimes totalitários como o Nazismo, o Fascismo e o Stalinismo. Nesse mesmo contexto a Razão instrumental iluminista é usada para a guerra; grandes, máquinas mortíferas são usadas na terra, no ar e no mar com o único objetivo de matar seres humanos.
O mundo conhece também os horrores das bombas atômicas jogadas em duas cidades japonesas (Hiroshima e Nagasaki). É a ciência em nome da destruição e do poder.
Diante dessas catástrofes não naturais nos perguntamos sobre o papel da ciência e da educação e o que fazemos da educação hoje. Ou melhor: que tipo de educação temos e que tipo de fato queremos e precisamos.
A educação formal, desde os seus primórdios foi colocada a serviço do mundo do trabalho; isto é, dos interesses daqueles que comandam o mundo do trabalho; fato que relega o ser humano a uma mera máquina, conforme já denunciava a obra prima de Charles Chaplin Tempos Modernos. O gênio do cinema mudo denunciava nos anos 1930 a ambição do capital escravizando o ser humano pela máquina e pela idéia do consumismo.
As transformações do trabalho exigiram passo a passo o atrelamento dos sistemas educacionais à serviço do sistema de produção para o lucro e para o consumo. Em nenhum momento o ser humano foi tido como primordial; mas, para gerar mais lucro e poder.
Tivemos a pedagogia Tradicional, na qual o mestre está acima do aluno e este é apenas um deposito de matérias; melhor dizendo, um banco de dados, conforme lembrou o mestre Paulo Freire.
Depois vem a pedagogia Renovada; essa vem com grandes novidades tendo o estudante como o centro, aquele que pode usar da razão e da experiência que o mundo capitalista exigia em sua fase de ouro. Mas a pedagogia Nova não resolveu, pois, o dinheiro e a ganância por mais atrelou o conhecimento produzido e aí, mais uma vez, a educação se volta para servir o sistema.
Na seqüência vem uma terceira pedagogia: a tecnicista; essa surge no período das ditaduras civis e militares(anos 1970, principalmente) e impõe que a maioria deve aprender somente o necessário para manter o sistema; nada de questionar e de refletir; por isso impuseram o fim da Filosofia e da Sociologia nas escolas, essas consideradas disciplinas subversivas porque ensinavam a pensar. E para que pensar?
Na contracorrente vem as pedagogias libertadora e libertária enfrentando todo tipo de discriminação, mas insistentemente coloca em pauta a necessidade de humanização e de combate às desigualdades sociais.
Hoje, com a globalização e as tecnologias temos quase tudo para nos aproximarmos mais, para conhecer e para transformar o mundo para melhor, todavia, não é isso que vemos.
A educação mais uma vez se mostra a serviço do sistema em detrimento do ser humano em sua integralidade.
A saída então estará na arte? De que forma? Ou seria arte e educação?
O mundo mudou muito, mas ainda não aprendemos a viver juntos, tarefa que escola se mostrou, pelo menos até o momento, ineficiente.
Qual o papel mesmo da educação?