João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação
O consumismo está intimamente relacionado ao individualismo; na verdade, podemos dizer que está na razão direta do individualismo, pois, é alimentado pelos mecanismos do sistema instituído sob a égide do liberalismo.
O consumismo é uma praga, pois, é tão complexo que se aumenta de forma desregrada põe em risco o próprio sistema que tanto valoriza o individualismo. Isso mesmo; a economia pode descambar se aumentam as dividas de crédito e a inadimplência.
Você deve está se perguntando: mas o que isso tem a ver com o individualismo? Segue alguns elementos para a reflexão.
Utilizo aqui o termo individualismo principalmente relacionado à conduta crescente dos indivíduos, de forma cada vez mais exagerada, de agirem como se não existisse uma coletividade maior que chamamos de sociedade. Dessa forma, ignoram as questões políticas e sociais as quais estão em todo o momento relacionadas a cada um.
Questões como saúde, educação, segurança, saneamento básico, moradia, emprego, entre outras, estão na ordem do dia e não podemos ignorá-las. Uma prova desse individualismo perverso é a corrupção, que está praticamente em todos os segmentos e instancias da sociedade.
O individuo que vende o seu voto está dando o aval para a corrupção, assim como o aluno que cola, que pede para que assinem seu nome numa lista de freqüência sem que tenha ido à aula; esses são apenas alguns exemplos dentre os vários possíveis.
Esse tipo de individualismo significa o salvem-se quem puder e o resto que se exploda. É a natureza da sociedade capitalista e mesquinha.
Na sociedade do consumo o individuo tem a ilusão da felicidade com a possibilidade de comprar mais e mais e de se exibir para os outros como forma de poder e de status; ilusão, pois, à medida que compra necessita comprar mais.
O individualismo ignora até mesmo que muitos dos seus problemas são sociais; isto é, gerados pela sociedade, mais precisamente pelos valores ultrapassados, pela má fé política, pelo mau gestor que ele mesmo escolheu, pela ausência de políticas públicas sérias, entre outros problemas sociais.
Diante dos problemas enfrentados, a lógica individualista recorre ao consumo, como uma fuga, ou mesmo a alguma religião para que Deus resolva os seus problemas; o dos outros que eles mesmos procurem resolvê-los.
Nesse caso, a religião passa a ser um refúgio individualista, enquanto os problemas sociais seguem e os malfeitores continuam sua escalada de corrupção e de ameaças a quem se coloca contra seus interesses.
A religião passa a ser objeto também de consumo; sim, pois, cada um freqüenta a igreja como vai ao supermercado comprar o seu produto preferido; sim, é comprar mesmo, pois até a promessa passa a ser uma forma de chantagem: Deus meu, o Senhor me faça isso que eu farei tal coisa; por exemplo, darei esmola durante um ano. Quer dizer, você tá comprando Deus? Se ele é bondade e amor, por que então você o chantageia?
Outro exemplo esdrúxulo de individualismo é quando os pais sempre ausentes, com tanto compromisso para atender seus egos, ignoram o cotidiano dos filhos sem serem capazes sequer de um carinho, aí quando os filhos cobram, ou até mesmo algum cai no mundo das drogas, se saem com uma dessas frases: mas, eu não sei o que aconteceu com ele, a gente comprava tudo que ele queria, dava de tudo.
O sociólogo polonês Zigmunt Bauman, em sua obra Vida para o consumo destaca que o consumo não é problema, pois, consumimos desde que nascemos e iremos consumir até o ultimo momento de nossas vidas; por exemplo, precisamos morar, comer, beber, estudar, se divertir, entre outros prazeres e necessidades; a questão é o consumismo desenfreado, que excede a necessidade e acontece para a ostentação do luxo e em grande escala de descarte.
Com o consumismo, tudo o que se compra em pouco tempo se torna lixo e nessa onda, alguns indivíduos confundem as coisas e acham que podem comprar tudo, inclusive todas as pessoas e coisas: a educação, por exemplo, tem sido mais um objeto de consumo do que para o conhecimento; em geral muitos estudam para terem um diploma e não para obter o conhecimento propriamente dito.
Sobre o tema educação e consumo trataremos em outro artigo.