João Nunes da Silva é Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT – Campus de Arraias. Trabalha com projetos na área de cinema e educação.
Os últimos acontecimentos sobre o atentado em París, que segundo noticiado até o momento, já resultou em pelo menos 130 mortos, sem dúvida não podem ser ignorados. A comoção e a solidariedade tem sido a tônica nas redes sociais, fato que tem gerado algumas polêmicas, principalmente a partir do momento em que várias pessoas começaram a usar um avatar com as cores da bandeira da França nas redes.
Há poucos dias aconteceu uma tragédia ambiental no município de Mariana, em Minas Gerais, Brasil, na qual toneladas de lama, de rejeitos de mineração de ferro, vazaram de duas barragens da empresa Samarco, empresa essa formada a partir da sociedade entre a Vale e outra, a Anglo –Austrialiana, a BHP Bilinton.
Fala-se que já se trata do maior desastre ambiental provocado pela indústria de mineração do Brasil e que levará décadas, ou talvez centenas de anos para voltar o equilíbrio ambiental na região afetada.
A tragédia em Mariana, e que se estende à outros municípios, não pode ser ignorada; embora não se tenha claro quantas pessoas morreram nessa tragédia, o fato é que mais de 500 ficaram desalojadas e o dano ambiental é, sem dúvida, de grande magnitude.
Mas o que tem a ver a tragédia em Mariana- MG com o atentado em Paris? Essa é uma questão importante a se pensar. A comoção em relação ao caso de París tem sido ampliada com a ênfase que a mídia tem dado ao assunto. Mas é fundamental refletir mais sobre o por que a ênfase ao caso de París para que você não se torne mais um a reforçar idéias extremistas as quais só tem contribuído para piorar as coisas.
Mais importante ainda é buscar elementos que favorecem no esclarecimento das coisas de modo a não reproduzir atitudes e ações preconceituosas e apressadas sobre determinados grupos, etnias e culturas diversas. Tais atitudes têm suas raízes na ignorância, no fascismo na intolerância.
O terrorismo é algo que deve ser combatido, seja ele de onde vier, todavia, é preciso fazer uma leitura atenta quantos a posição dos grupos hegemônicos que tem de alguma forma, conduzido ao estado de coisas no qual vivemos. Para tanto, é recomendável refletir sobre o papel da mídia tradicional e dominante e se perguntar até que ponto os principais órgãos e agencias de imprensa tem contribuído para a intolerância e para o preconceito a ponto de instigar a queda de um governo eleito democraticamente, a perseguição a pessoas e a ideologia, partidos políticos e a minorias sociais.
O estado de extremismo que vivenciamos hoje no Brasil pode levar a situações semelhantes, pois, onde predomina a intolerância, a ignorância e a má fé, tem-se como conseqüência um terreno fértil para atos de natureza perversa tais como os que têm acontecido na França e em outros países.
É salutar se ter cuidado com a intolerância e com a ignorância de natureza diversas, seja política, religiosa, ideológica, ou qualquer outra. Os sinais disso demonstram o que comumente denominamos de “ovo da serpente”.
Mais atenção ainda se deve ter em relação aqueles que enchem o peito para falar de honestidade, de moral e de bons costumes e, muitas vezes, até mesmo de Deus, enquanto na surdina são responsáveis pelas maiores barbaridades e continuam impunes.
Pense bem.