A Defesa Civil vai vistoriar, nos próximos 45 dias, os cerca de 70 prédios ocupados no centro da cidade de São Paulo, que abrigam aproximadamente 4 mil famílias, de acordo com o prefeito Bruno Covas.
por Redação
A declaração foi dada em coletiva de imprensa, após o incêndio e desabamento do edifício localizado no Largo do Paissandu, na madrugada de hoje (1º), que estava ocupado por cerca de 120 famílias. O objetivo é identificar se os prédios ocupados apresentam riscos. A partir das vistorias, Covas disse que a prefeitura definirá o que fazer nesses locais.
“Em alguns casos, nós temos falta de documentação, o que não significa que há iminência de risco, portanto queremos fazer o levantamento para ver em quais a gente precisa atuar em curtíssimo prazo para que eventualidades como essa não aconteçam. A partir do levantamento é que nós vamos estabelecer um plano de ação”, disse o prefeito.
Segundo Covas, neste ano, foram feitas seis reuniões entre a secretaria municipal de Habitação e moradores do edifício que desabou, com a finalidade de negociar uma desocupação. Covas admitiu que, na avaliação da prefeitura, o prédio não estava adequado e não tinha as “condições necessárias” para moradia daquelas pessoas.
No entanto, não foi oferecida uma opção de moradia aos ocupantes, somente a possibilidade de recebimento do auxílio aluguel e inserção das pessoas na fila de programas habitacionais.
Atualmente, o deficit habitacional do município de São Paulo é de mais de 360 mil unidades habitacionais. “Isso [negociações] não é por acaso, é porque a gente sabia que aquele não era o local adequado para recebimento daquelas famílias e uma eventualidade poderia acontecer”, disse.
Hoje foram cadastradas 118 famílias, um total de 320 pessoas, que moravam no prédio incendiado. Aquelas que não tinham para onde ir, foram levadas pela prefeitura para o Núcleo de Convivência Prates e o Centro de Acolhida Pedroso. Segundo a secretaria municipal de Assistência Social, há 107 centros de acolhida na cidade que podem receber os desabrigados.
O prefeito afirmou que, em até 48 horas, a prefeitura vai disponibilizar a lista de cadastrados para o governo do estado de São Paulo comece a pagar o auxílio-aluguel.
No entorno do Largo do Paissandu, cinco prédios estão interditados devido ao desabamento. Informações sobre as ruas que permanecerão interditadas podem ser obtidas no site da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Se meu filho não gritasse, a gente ia morrer, diz moradora de prédio
Se meu filho não gritasse, a gente ia morrer tudo lá dentro”, disse Ana Paula Arcanjo dos Santos, 46 anos, que morava com sete filhos e tomava conta de dois netos no prédio que desabou nesta madrugada após um incêndio, no Largo do Paissandu, centro da capital paulista. Ela contou que as pessoas começaram a descer pelas escadas após seu filho sair avisando os moradores sobre o incêndio.
“Nós estávamos dentro de casa, estávamos brincando eu, minha nora e meu filho. Foi na hora que eu e ele escutamos um barulho. Pensamos que era tiro, mas não era tiro. Era o vidro que estava explodindo. Depois explodiu um botijão de gás, foi na hora que saímos correndo, e o fogo começou a alastrar”, disse. Os moradores, recordou, desceram as escadas correndo, num cenário de desespero: “Meu filho começou a chutar os barracos para todo mundo acordar.”
Segundo Ana Paula, moradores idosos não conseguiram deixar o prédio. “Tem muito idoso que ficou lá dentro, muito idoso”, lamentou.
Todos da família passam bem, mas perderam tudo, inclusive documentos. “Eu perdi tudo. Eu saí com a roupa do corpo, nós ganhamos roupa aqui na rua, nós saímos descalços. Meus filhos estão todos ali, com o pé todo preto e descalço. Não sei o que eu vou fazer, os documentos da minha filha também, não peguei nada”, acrescentou.
Vidros quebrando
O zelador Josimar Lopes de Lima mora com a família no prédio em frente ao que desabou. Ele contou que acordou por volta das 1h30 de hoje com o barulho de vidro quebrando. “Eu acordei assustado e fui para a sala. Quando cheguei à sala, olhei para baixo, no quinto andar, a metade do andar, estava pegando fogo, no prédio da frente. Eu chamei minha esposa, falei para ela ligar para os bombeiros”, destacou.
Josimar chegou a pegar uma mangueira de incêndio e jogar água na tentativa de apagar as chamas, mas não aguentou a alta temperatura. Quando percebeu que o fogo se espalhava pelos andares do edifício em frente ao seu, ele decidiu sair do prédio em que morava com os filhos e a esposa. Pouco depois, seu prédio também teve focos de incêndio em três andares: sexto, sétimo e décimo.
Ana Cristina Macedo, 43 anos, morou durante oito meses no local, em 2016 e 2017. Ela contou que os andares no edifício eram divididos em seis cômodos ou mais por madeiras. Cada um desses cômodos abrigava uma família. “Morei oito meses. Tem um ano em que saí. Era muita bagunça, os madeirites eram todos bagunçados, era tudo de madeira”. Ela contou que pagava R$ 220 por um dos cômodos.
Fonte: Agência Brasil