Cristiano Cabral
Sábado, 08, fomos convidados para uma reunião com o Secretário estadual de cultura e então deixamos nossas casas, sono, trabalho para discutir em reunião “oficial” as necessidades do setor. E a mesa composta por autoridades, era no final do encontro a única voz naquela manhã, isso mesmo, a nenhum artista foi dada a fala.
Assistimos belas apresentações e pomposos discursos mas quando o Secretario Estadual disse que estava disponível para ouvir e discutir ideias com a comunidade artística foi rapidamente interrompido pelo convite para o breakfast.
Acreditem é sempre bom rever os colegas, porque na correria do dia a dia nos desencontramos, e comer bons salgadinhos de graça (a analogia com o pão e circo não foi proposital). Mas só havia monólogos. E o diálogo, objeto maior da reunião?
A tarde, por articulação dos próprios artistas e boa vontade do Secretário Estadual, realizamos um encontro, um bate papo franco nas dependências da Câmara de Vereadores onde todos os que estavam pela manhã foram convidados. Alí, falamos por nós, sem intermediários nem apresentações que maquiassem a verdadeira situação que a arte em Gurupi se encontra, de esquecimento e ameaças veladas.
Discordo de alguns argumentos apresentados porque a secretaria municipal não tem a “chave” do cofre, mas concordo que boa vontade e articulação resolveriam a maioria das necessidades apontadas naquela tarde.
Concordo, que a postura do gestor público cultural não deve ser o da auto promoção, o que mais espetáculos realizou, mas o de grande fomentador e articulador para que estes espetáculos aconteçam. O gestor cultural não deve ser o grande executor mas o principal representante junto ao poder público das necessidades do segmento que representa, trabalhando na definição e implantação de políticas culturais. Como ensina Francisco Weffort “Quando você desenvolve a cultura, multiplica o espaço para vozes que refletem sobre os problemas da sociedade”.
Saímos da reunião com algumas reivindicações atendidas de imediato, boas propostas apresentadas e o esclarecimento transparente por parte da Gestão Estadual de Cultura sobre o que não é possível no momento, sem enrolações nem promessas, preto no branco. Um avesso da realidade que temos em nosso município, onde as ações da gestão cultural deveriam ter como destinatário o interesse público e não iniciativas particulares visando a manutenção de uma representatividade que a cada dia parece esvaziar-se por falta de apoio dos seus representados (artistas).
Esclarecendo um último ponto, não, a comunidade artística não está desunida como alguns políticos e uns três “puxa genitálias” querem que o povo acredite. Quando nos encontramos, discutimos sim e aliás discutimos muito, mas nossos embates se quedam no campo das ideias. E se discutimos tanto é porque queremos o melhor para este segmento social tão importante, queremos o melhor porque nosso fazer repercute na vida de centenas de crianças, adolescentes e adultos. Mas não nos digladiamos nas ruas.
Por fim, como diria André Malraux “A cultura não se herda, conquista-se”. Neste sentido, está passado da hora de avançarmos com políticas culturais sérias e isto somente será possível com o estabelecimento de um diálogo franco onde todos os segmentos artísticos e a respectivas comunidades que representam tenham voz e vez na política cultural Gurupiense.
Cristiano Cabral
Diretor do Grupo de Teatro GUETU
Apaixonado por arte e por Gurupi