“O analfabetismo político ecoa em todos os cantos; os mais ignorantes e também afeitos a corrupção enchem o peito para dizer que a política está repleta de corruptos, mas não têm a vergonha de vender o seu voto por qualquer coisa. Esquece que os corruptos foram eleitos em sua maioria por uma massa ignorante, da qual também faz parte, e até pensa do mesmo jeito dos corruptos eleitos, especialmente quando se trata de uso dinheiro público”. João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Hoje vivemos o fenômeno da despolitização como a política do cinismo. Isto significa que se faz política da forma mais rasa possível, mas com o discurso de que não se é político.
Quanto mais se discursa com todo o fervor que não é político, e que se vai prá rua contra a corrupção, contra o aborto, a favor da pena de morte, ou outras coisas do tipo, mas se percebe a política rasa, fascista e perigosa; aquela que não respeita as diferenças e somente aceita a sua opinião como absoluta, verdadeira e indiscutível.
São pessoas desse tipo que defendem a vida, pois, são contra o contra o aborto e, ao mesmo tempo, são a favor da pena de morte. Vê só a loucura e a ignorância.
Foi com o discurso de não político, mas fazendo política, que o Collor foi eleito presidente como o “caçador de marajás”; depois se descobriu suas falcatruas, o que levou ao seu impeachment.
O cinismo do discurso apolítico se alimenta da ignorância e da preguiça da maioria, principalmente em tempos de redes sociais, quando se abriram as portas para todo o tipo de ignorância, de analfabetismo e tem até viralizado na internet.
O analfabetismo político ecoa em todos os cantos; os mais ignorantes e também afeitos a corrupção enchem o peito para dizer que a política está repleta de corruptos, mas não têm a vergonha de vender o seu voto por qualquer coisa. Esquece que os corruptos foram eleitos em sua maioria por uma massa ignorante, da qual também faz parte, e até pensa do mesmo jeito dos corruptos eleitos, especialmente quando se trata de uso dinheiro público.
Mas os que se dizem que não são políticos até defendem uma “escola sem partido” e são contra os direitos humanos e depois batem panelas contra a corrupção e tiram selfs com militares defendo uma ditadura militar quando estão numa democracia. E ainda dizem que não são políticos.
A política faz parte da vida do ser humano na sociedade e, de um jeito ou de outro, enquanto se tem vida, o sujeito faz política, seja para o bem ou para o mal.
O pior é quando se diz que não gosta de política, mas todo ano eleitoral vota nos piores possíveis, principalmente por uma promessa ou por uma quantia qualquer.
A vida é política e todos os dias fazemos política; até na cama, numa relação a dois a política está presente, pois onde há pessoas há interesses e toda relação pode se dá por meio do diálogo, do consenso, da dominação ou da força; em tudo isto está a política.
No trabalho, em casa, no cotidiano em geral, em todos os espaços onde se encontram pessoas, aí está presente a política. Dessa forma, quando nos calamos diante das injustiças, da pilantragem e da rapina, estamos fazendo política; e, nesse caso, estamos do pior lado, aquele que legitima os lacaios e pilantras da pior espécie.
O analfabetismo político é uma das piores coisas da humanidade e o discurso da despolitização significa o esvaziamento da possibilidade da critica e da reflexão; é daí que surgem os fascistas, ditadores, torturadores e similares.
É pelo discurso da não política que os ratos deixam o porão, tomam conta do salão e fazem a festa; enquanto isso os incautos festejam sua própria ignorância e se comportam como se fossem árvores defendendo o desmatamento sem saberem que defendem sua própria destruição.