João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação
“Numa má educação as conseqüências para a saúde humana também não são poucas, pois, o estresse, a síndrome de pânico, os problemas físicos e emocionais se somam a outras infinidades de problemas. Tudo isso é a reprodução do sistema que a educação deveria ter por obrigação buscar mecanismos para evitar, mas faz exatamente o contrário”.
Confesso que sou bastante crítico em relação à educação formal; aliás, não vejo que essa forma de educação possa libertar o ser humano das amarras da sociedade baseada no consumo; pelo contrário, esse tipo de educação está mais para escravizar do que para libertar.
O problema é que a educação formal, como o próprio nome já denuncia, é uma fôrma que molda o indivíduo para um tipo de sistema. Nessa perspectiva, a tendência é controlar, atrelando a pessoa humana às necessidades do trabalho.
Nesse tipo de educação são criados mecanismos de manipulação e não de libertação. A questão é que a pessoa passa grande parte de sua vida no processo de educação formal; isso significa que pelo menos quinze anos da vida de cada um de nós é utilizada para atender as necessidades impostas pelo sistema. Nas linhas a seguir vamos entender melhor o que isso significa.
Primeiramente pensemos como nasceu a educação formal e quais suas intenções, depois é importante considerar a educação na sociedade moderna, seus impactos e desafios.
Na sociedade ocidentalizada a educação para o trabalho nunca foi libertadora.
Pois bem, a educação formal é uma forma de preparar o indivíduo para a vida em sociedade, mais precisamente tendo como foco o trabalho como elemento central. À medida que essa preparação acontece, têm-se os valores e idéias que são inculcadas nos formandos como essenciais. Mas aí é importante perguntar de que idéias se tratam e porque ou para quem se fazem importantes.
É claro que não estou afirmando aqui que estudar não seja importante; estou apenas chamando a atenção para o tipo de formação que temos e a forma como lidamos com ela; isso sim é fundamental para não cair em suas armadilhas.
A educação deve sim ser fonte de libertação humana e não de prisão. Preparar o ser humano para o trabalho não poder ser a única coisa a ser pensada na educação; afinal o ser humano nasce para a vida e não para ser escravo; a escravidão é desenvolvida por meio de mecanismos ideológicos e pela força de uns poucos sobre a maioria Isto se chama também de dominação; os fatos não negam isso.
Quando a educação é pensada apenas sobre essa ótica do trabalho, o que acontece é a consolidação da escravidão humana. E quando se reproduz esse sistema, quer dizer, esse modo de pensar o mundo, tendo a educação como centro ideológico, logo se tem um ciclo vicioso por meio do qual apenas uns poucos se dão bem nessa história.
Para o sociólogo francês Louis Althusser (1918-1990) a educação constitui no principal Aparelho Ideológico do Estado a serviço da reprodução das desigualdades sociais. Isso significa que nessa lógica não há conhecimento, mas treinamento, ou um mínimo de formação para perpetuação de um sistema de manipulação humana.
Essa forma de educação em vez de emancipadora se torna alienadora, de modo que até mesmo quem se adaptar ao sistema não consegue pensar fora dessa lógica e passa a reproduzi-la par atender as suas necessidades alinhadas ao sistema que o moldou; para os que se destacam se utiliza o pomposo nome de meritocracia.
A meritocracia nada mais é do que uma falácia governativa, empresarial, criada pelos que se consolidaram ao longo do tempo por meio da colonização e da espoliação; a escravidão, o massacre dos povos indígenas, são exemplos dessa dissimulação que colocou a maioria das pessoas numa situação de estresse e de humilhação. Para o tipo de dissimulado que defende isso se tem a frase: “Não reclame, trabalhe”.
Quer dizer, a principal característica da educação nessa lógica é a despolitização do ser humano; você não pode reclamar, mas sim apenas cumprir; é o que está por trás da defesa da escola sem partido.
Nesse tipo de educação está a lógica da despolitização e da educação como consumo; não se espera muito conhecimento, mas sim mentes e corpos dóceis para a perpetuação do sistema no qual poucos, repito, se dão bem. Isso porque o sistema foi pensado para poucos e não para a maioria, muito menos para a totalidade das pessoas.
A educação passa a ser também uma forma de consumo, e no sentido literal da palavra com o processo de privatização; isso é bom para os poucos que mandam, porque assim terão também pouca concorrência e a eliminação dos conflitos de classe.
Para quem controla esse sistema educacional, a escola está a serviço das empresas e não da vida, do conhecimento aprofundado e da emancipação humana.
A conseqüência direta dessa educação para a submissão da maioria (podemos chamar de má educação) é a deslealdade, a chantagem, o mau uso dos recursos públicos, a corrupção, as mentiras e falsidades dos grupinhos que se formam, dentre outras mazelas que permeiam os bastidores do sistema capitalista e que está presente no cotidiano das empresas.
Numa má educação as conseqüências para a saúde humana também não são poucas, pois, o estresse, a síndrome de pânico, os problemas físicos e emocionais se somam a outras infinidades de problemas. Tudo isso é a reprodução do sistema que a educação deveria ter por obrigação buscar mecanismos para evitar, mas faz exatamente o contrário.
O que temos é uma educação para o consumo, isto é, uma má educação e nesse modelo o próprio ser humano passa a ser objeto de consumo e a primeira coisa que aprende é desumanizar-se; se torna, portanto, uma mercadoria no sentido mais perverso da palavra, um objeto de compra e venda onde o conhecimento é trocado pela auto-alienação.