“Com a secularização do mundo moderno, a igreja perdeu muito da sua autoridade. Poucos ainda valorizam o que a igreja tem a dizer sobre como devem organizar a vida. No Brasil, o descrédito aumenta devido à expansão da chamada teologia da prosperidade. A identificação da igreja com setores reacionários da política se mostra, igualmente, danoso”, Ricardo Gondim.
Ricardo Gondim
Há consenso de que as religiões organizadas passam por uma crise. Com a secularização do mundo moderno, a igreja perdeu muito da sua autoridade. Poucos ainda valorizam o que a igreja tem a dizer sobre como devem organizar a vida. No Brasil, o descrédito aumenta devido à expansão da chamada teologia da prosperidade. A identificação da igreja com setores reacionários da política se mostra, igualmente, danoso.
A questão mais profunda sobre essa crise, entretanto, tangencia tanto suas ideias doutrinárias, teológicas, como sua postura. A maneira pela qual que as igrejas lidam com suas verdades acaba por influenciar – e retroalimentar – o desgaste. Como se percebe isso?
- No estilo.
Sempre que algum grupo precisa valer-se de gritos, esbravejamentos, iracundisses, para se impor, ele já sabe que está sob suspeita nas verdades que anuncia. E essa suspeita acaba por aumentar a brecha que o separa do mundo.
- Na prioridade.
Sempre que detalhes menores, com minúcias morais e preciosismos comportamentais ganham proeminência, acima da busca da justiça social, o grupo perde relevância. Nenhuma agenda merece maior atenção que a da solidariedade universal e da inclusão do marginalizado.
- Na superficialidade.
Sempre que um grupo se contenta com chavões, vinhetas, jargões, frases de uma piedade enjoativa, ele pode até crescer numericamente, mas perde em essência. Grupos assim acabam respondendo perguntas que ninguém mais faz e sem resposta para as novas indagações.
- Na encenação.
Sempre que um grupo prefere a exteriorização exibicionista de sua espiritualidade em detrimento da discrição, do recato, ele sucumbe ao danoso pecado da demagogia.
Não é preciso muito para que a religião se preserve em tempos periclitantes. Nesta geração, que dá menos pelotas para testemunhos de fé, basta que os religiosos saibam: credibilidade tem a ver com jeito de viver e não com a estreiteza do discurso. Se a fé não se nutrir de vida, ela morre por dentro e por fora.
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim é escritor e teólogo, presidente da Convenção Betesda Brasil. E-mail: [email protected]