“Por mais que pessoas cometam seus erros, seguramente, não é destilando mais ódio que vamos ter uma sociedade melhor e mais segura. É preciso pensar seriamente sobre o destino do nosso país, principalmente sobre o cinismo que tomou conta dos nossos governantes e dos demais representantes dos três poderes” João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Nos primeiros dias do ano de 2017 aconteceram verdadeiras tragédias no país: a chacina de Campinas, quando um homem matou doze pessoas e em seguida cometeu suicídio, chamou a atenção pelo ódio estampado na carta do assassino, principalmente contra as mulheres e contra os direitos humanos.
Logo em seguida explodiram os massacres nos presídios de Manaus, seguido de Roraima; ambos resultaram em 89 mortos. Depois desses dois episódios, aconteceram rebeliões em outros presídios.
Sobre o ocorrido em Manaus o Presidente que chegou ao poder por meio de manobras judiciais e com o apoio de deputados, senadores e da grande imprensa, se referiu as chacinas como um “acidente pavoroso”; como se não bastasse, o secretario nacional da juventude, Bruno Júlio, do PMDB, defendeu a chacina ocorrida. Em sua fala ele afirma que “ tinha é que ter uma chacina por semana”.
Ainda quando surgiram as primeiras notícias do massacre no presídio, o governador do Amazonas falou para a imprensa que “não havia nenhum santo entre os mortos no presídio”.
Se os massacres demonstram uma barbaridade, pior é saber o que pensam as autoridades constituídas e a maioria das pessoas sobre o ocorrido. Tornaram-se lugar comum falas contra os direitos humanos, sempre que acontece algo como chacinas e massacres de presidiários.
Para quem tem a coragem de observar os comentários nas redes sociais sobre essas tragédias verá que a maioria se mostra favorável a coisas do tipo que aconteceram; e ainda destilam todo um discurso de ódio contra os que atuam em defesa dos direitos humanos; o pior é que a maioria é vítima do sistema e não percebe.
Os massacres nos presídios jamais podem ser tratados como “acidentes”, conforme se referiu Michel Temer. Não dá para imaginar como um acidente um massacre que matou 56 pessoas, no caso de Manaus, sejam elas presidiárias ou não, culpadas ou não.
O que se mostra mais lamentável é como a onda de fascismo tem se tornado cada vez mais forte na sociedade desde que surgiram as primeiras manifestações para tirar do poder uma presidente eleita democraticamente e que não cometeu nenhum delito.
Por mais que pessoas cometam seus erros, seguramente, não é destilando mais ódio que vamos ter uma sociedade melhor e mais segura. É preciso pensar seriamente sobre o destino do nosso país, principalmente sobre o cinismo que tomou conta dos nossos governantes e dos demais representantes dos três poderes.
Os massacres ocorridos somente sinalizam o barril de pólvora que é o sistema carcerário e a falta de vontade para buscar uma solução. Por outro lado, demonstram a ineficiência das políticas de segurança nacional e principalmente no que diz respeito aos presídios.
Nota-se claramente que nossos políticos e governantes não querem resolver o problema, mas sim manter uma população excluída e desumanizada, enquanto uma elite se beneficia da miséria da maioria.
A percepção que os nossos governantes têm dos presidiários é corroborada com o que a maioria ignorante pensa sobre direitos humanos e cidadania. Num país onde educação é considerada pelos nossos governantes como objeto de consumo e não um investimento e que a maioria se mantém na ignorância, não há como esperar uma visão diferente.
A manutenção da ignorância legitima as barbáries demonstradas ainda pela forma como a maioria percebe tragédias como as que têm acontecido no Brasil nos primeiros dias do ano.