João Nunes da Silva, doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação.
O Jogo da imitação é um filme resultado de uma parceria entre produtores dos Estados Unidos e Reino unido lançado em 2015 no Brasil cuja direção é do norueguês Morten Tyldum; trata-se também de uma autobiografia do singular matemático Alan Turing, também considerado o pai do que chamamos hoje de computador.
Turing e sua equipe conseguiram com a criação de uma máquina interceptar os códigos de guerra nazista e consequentemente contribuir significativamente para antecipar o final da 2ª Guerra Mundial.
O jogo da imitação foi premiado com Oscar de melhor roteiro, além das indicações para melhor filme e melhor ator. Trata-se de uma obra baseada em fatos reais fundamental para analisar os diversos aspectos que envolvem os grandes conflitos mundiais.
Por se tratar de uma biografia, não poderia deixar de lado fatos importantes da vida do biografado; por exemplo: sua dificuldade de lidar com as pessoas, sua homossexualidade e a repressão que sofreu.
Embora trate da busca incansável do personagem central para conseguir construir uma máquina para quebrar os códigos secretos do nazismo e por fim ao segundo grande conflito mundial, o filme traz à tona a temática do gênero, principalmente da repressão à homossexualidade. As leis inglesas eram implacáveis nesse sentido.
A temática predominante não nos impede de fazer uma leitura crítica sobre a questão de gênero, relações de poder e liderança. Por isso o filme é indispensável para usar em sala de aula e em outros espaços e grupos sociais diversos.
É incrível como a obra se encaixa para os nossos dias, principalmente quando vemos a onda conservadora que tem tomado conta do nosso país desde a última eleição presidencial. Temos presenciado cotidianamente fatos inaceitáveis e absurdos que somente reforçam a ignorância e o desrespeito ao outro e ao diferente.
A ignorância e a indiferença têm levado aos chamados crimes de ódio os quais em geral são motivados pela intolerância religiosa, machismo, homofobia e pelo etnocentrismo.
Os crimes de ódio tem se tornado lugar comum, e esse é um problema sério. Por isso a importância de se discutir essa realidade problemática a partir de obras fílmicas e ancoradas em teóricos que têm contribuído sobremaneira para esclarecer a sociedade, a exemplo de Judith Butler, Michel Foucault, Derrida, por exemplo.
Em O jogo da imitação o sofrimento vivenciado por Alan Turing em razão de sua homossexualidade é ignorado pela sociedade tradicional e hipócrita da época, o que não é muito diferente em nossos dias. Ao mesmo tempo o filme também não se atém a essa questão, tendo em vista que a prioridade está no projeto de Turing, no caso a máquina que levou a quebra do código secreto dos nazistas e, consequentemente, o fim da guerra.
Para instigar o debate em torno de temas como poder, tecnologia, guerra e liderança, o filme de Morten Tyldum é uma ótima opção. A partir dele vários cenários podem ser pensados sobre a nossa sociedade, seus valores e as disputas políticas.
Outra possibilidade é discutir sobre comportamento sob a pressão dos valores de uma sociedade; nesse caso as aulas de Psicologia e de Sociologia ou Antropologia têm um ótimo reforço.
Agora para quem quiser debater sobre tradição, família, Estado a influência e o papel das instituições sociais, nesse caso o filme é indispensável.
Todas as temáticas sugeridas podem ser didaticamente trabalhadas nas salas de aulas das escolas ou universidades. Por isso recomendo, além do entretenimento para quem gosta de um ótimo drama e suspense.