“A cultura também envolve o modo como pensamos o mundo e agimos nele, nas relações sociais e, mais ainda, significa que as nossas idéias de alguma forma se materializam, criam modos de viver, influenciam e recebem influências dos outros”, João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Cultura é um termo que parece simples, mas não é como geralmente costumamos imaginar. Com a antropologia entendemos que cultura não apresenta uma definição precisa e suficiente para reunir uma compreensão totalizante do que desejamos ou entendemos sobre o seu significado.
Não é por acaso que a ciência antropológica se encarrega de estudar exclusivamente a cultura e sua influências nas diferentes sociedades e na nossa vida.
Deixando de lado o que pode se mostrar mais complexo na antropologia para se referir à cultura, podemos defini-la como tudo aquilo que o ser humano cria para viver.
Assim incluímos tudo o que não é natureza, por exemplo: o modo de se alimentar, de vestir-se, de trabalhar, de se relacionar com as divindades ou com a espiritualidade, que é uma maneira de utilizar as crenças.
Também com essa definição de cultura incluímos o uso do conhecimento, a educação, a ciência, os negócios, o comércio, as viagens, as pinturas, o esporte, entre outras coisas.
Essa definição simples de cultura nos permite ir bem longe, o máximo possível, para entender, ou pensar melhor sobre o mundo em que vivemos e, principalmente, refletir sobre a educação em nossos dias, seus impactos e influências no cotidiano das pessoas e grupos sociais.
A cultura também envolve o modo como pensamos o mundo e agimos nele, nas relações sociais e, mais ainda, significa que as nossas idéias de alguma forma se materializam, criam modos de viver, influenciam e recebem influências dos outros.
Com isso podemos dizer que a cultura apresenta uma estreita relação com a ideologia, que é a forma como as idéias das pessoas, dos grupos, comunidades e instituições orientam suas ações, moldam e até provocam fortes impactos sobre os outros. Isso inclui os indivíduos e suas particularidades assim como, numa perspectiva macro, a sociedade mundo, os diversos países com suas histórias entrelaçadas com outros povos, especialmente se pensarmos como aconteceram às colonizações e o que pensavam os homens que planejaram e colocaram em prática suas idéias sobre o mundo, sobre as coisas e sobre os outros.
A educação, por exemplo, é uma forma institucionalizada, no caso da formal, de se fazer cultura; isto é, de se colocar em prática idéias de como vemos ou temos de mundo e, de certa forma, formatar essas idéias a partir do momento em que elas são materializadas na sociedade.
A educação formal, na perspectiva dos mandatários, aqueles que chegaram ao poder pela exploração, existe praticamente de forma exclusiva para atender o mercado de trabalho; nesse caso, a educação coisifica tudo, transforma tudo em negócio, passa a ser objeto de consumo e para o consumo. E tudo isso para manter a maioria sobre controle a partir dos interesses e necessidades dos grupos econômicos.
Se pensarmos melhor nessa forma de educação, podemos questionar sobre sua utilidade, para que ou para quem serve e como nos colocamos diante dela. Pensar, por exemplo, até que ponto isso é bom ou é ruim para cada um de nós, para nossa particularidade e individualidade e para a vida em sociedade.
Uma vez que a cultura está ligada diretamente à coletividade, podemos concluir que nem tudo o que é cultura é positivo até mesmo para quem pertence a uma dada cultura. Por exemplo, uma cultura que se mostra machista é positiva para quem, senão para os que se beneficiam com o machismo?
Essa é uma forma de vê a cultura. Observe como é ampla a idéia de cultura.