João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos na área de cinema e educação.
Chatô – o rei do Brasil é uma cinebiografia crítica do magnata das comunicações Assis Chateubriand, responsável pela criação dos diários associados e pela primeira emissora de TV do Brasil, a antiga Tupi. O filme se baseia na obra homônima de Fernando Morais e conta com a direção de Guilherme Fontes.
A produção de Chatô iniciou ainda 1995 e somente em novembro de 2015, depois de muita polêmica, é que o filme finalmente chegou às telas de cinema.
O filme prioriza o tom da comédia para contar a história do pioneiro da TV no Brasil; Mas, como grande parte das biografias o contexto histórico e social que envolve o biografado é fundamental, o filme de Guilherme Fontes apresenta importantes elementos sobre a história da imprensa no Brasil e seus bastidores envolvendo profundas nuances das relações de poder.
O tom de humor escrachado demonstra uma crítica perspicaz das relações entre imprensa e política, principalmente dos interesses nefastos presentes desde o nascedouro da grande mídia no Brasil. Chantagens, mentiras, insinuações e ameaças são reveladas, quando se tratam de interesses particulares envolvendo as comunicações e sua relação com a sociedade.
Com o filme Chatô se torna impossível não fazer referência a atualidade, especialmente em se tratando de política e de mídia.
O filme é indispensável para refletir sobre a imprensa no Brasil e seu papel perante a sociedade, especialmente para se pensar sobre a influência dos meios de comunicação de massa frente a uma população cuja maioria se mostra declaradamente aversa á leitura, a crítica e a reflexão; imagine então no contexto em que viveu Assis Chateubriand, anos 1930-1960?
Como não pensar na pressão dos grandes grupos de comunicação diante das suas estratégias e posicionamentos no momento atual da política brasileira? Aí podemos, também, lançar nosso olhar sobre os bastidores do poder, o comportamento da sociedade, especialmente sobre as formas de enfrentamento as tentativas de manipulações por parte dos diferentes grupos econômicos.
De modo mais específico o filme permite a crítica social sobre os embates estabelecidos entre direita e esquerda e ainda não deixa de chamar a atenção para o fato de que enquanto uma grande parte da população se mostra apática perante o discurso midiático, como se não tivesse nada a ver com o que se passa nos bastidores do poder, o jogo continua e as cartas e manobras estão sendo feitas tal qual acontecia no contexto em que vivia Chateubriand; somente uma diferença fundamental se apresenta na atualidade que é o papel das redes sociais como um importante ator social perante a realidade, tanto de um lado quanto de outro.
Recomendo Chatô, o rei do Brasil não apenas para quem faz comunicação, mas para todos; especificamente, creio que esse filme não pode faltar nas salas de aulas de escolas de ensino médio e nas universidades, principalmente para os cursos de comunicação, ciências sociais, história e administração.