“O espectador sensível não deixa de ir às lágrimas ao ver o filme, especialmente pela forma como a narrativa o envolve, de modo a fazer sentir uma sensação terrível de impotência diante do jogo de cartas marcadas da frágil democracia brasileira”, João Nunes da Silva.
por João Nunes da Silva *
Pietra Costa é uma jovem cineasta que tem deixado sua marca com o documentário Elena (2012), obra que conta a história de sua irmã, suas angustias e aflições. Agora Pietra mostra sua força com seu novo documentário: Democracia em vertigem.
Lançado recentemente na Netflix, o filme mistura memórias da cineasta com momentos históricos da política brasileira; mais precisamente trata da democracia no Brasil, tão atropelada, confusa e tão ameaçada.
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Basicamente a intenção clara é apontar elementos que demonstrem como a democracia no Brasil sempre foi algo pensado sob a ótica das elites que se estabeleceram no poder e, consequentemente, inventaram uma ordem “democrática” tutelada pelo militarismo.
Para contar sobre a incipiente democracia brasileira a narrativa inclui os governos Lula e Dilma; sobre a presidenta Dilma o tema central é o processo de impeachment que a arrancou do poder, fruto de um conluio entre as velhas raposas da política brasileira, depois que o infantil Aécio não aceitou ser derrotado nas eleições de 2014.
O espectador sensível não deixa de ir às lágrimas ao ver o filme, especialmente pela forma como a narrativa o envolve, de modo a fazer sentir uma sensação terrível de impotência diante do jogo de cartas marcadas da frágil democracia brasileira.
Pietra soube juntar importantes momentos do processo de impeachment: os principais atores e o jogo sujo envolvendo os principais representantes da política brasileira.
A sensação de estranhamento do espectador é inevitável em momentos como o em que a cineasta, também narradora e protagonista da história nos mostra o quão vil é o jogo político encabeçado pelas elites políticas e econômicas responsáveis pela imensa desigualdade social e que não estão dispostas de forma alguma a permitir o mínimo de justiça social e muito menos de democracia propriamente dita.
Munida de documentos históricos da história brasileira, como os áudios reveladores de como o golpe que derrubou a Presidente Dilma foi tramado, não deixam dúvidas da participação efetiva do conluio mídia, legislativo e judiciário no embasamento do que resultou na tragédia em que nos encontramos hoje.
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A democracia brasileira, por fim, não deixa de ser uma mera vertigem, tendo em vista que os velhos coronéis são os mesmos que instituíram a “democracia” ao seu gosto: militarizada e torpe, e que mantém nas rédeas o jogo político, garantindo, assim, seus interesses e privilégios. Essa é uma das leituras que o filme favorece.
Não deixe de assistir e de fazer sua análise.
- João Nunes da Silva é Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT. Trabalha como projeto em cinema e educação