“Nessa segunda- feira será o final dessa farsa e o início de fato da tragédia da maioria dos brasileiros com as políticas defendidas pelos defensores do impeachment; o Brasil, com o impeachment, jamais será o mesmo; será um pais quebrado, desmoralizado, com instituições frágeis, com uma justiça seletiva e com um congresso que decidiu condenar uma inocente”. João Nunes.
João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação.
O Brasil está vivendo dias difíceis, solapados pela crise política e econômica nos últimos anos; a econômica é fruto da política dos que não aceitaram a democracia com o resultado das urnas. Está em jogo o futuro do país, mais precisamente o futuro do trabalhador, do povo simples e ordeiro que cotidianamente labuta por melhores condições de vida.
Esta semana que inicia chega ao final o processo de impeachment instalado há mais de cem dias; de um lado os políticos conservadores, que conseguiram instalar um processo político para a derrubada de uma Presidenta eleita por mais de 54 milhões de votos, sendo que mais de 100 milhões de voto foram confirmados nas urnas eletrônicas nas últimas eleições presidenciais de 2014, não valerão mais nada; do outro lado está uma governanta que pode ser condenada por um crime que não cometeu, assim como Jesus que foi crucificado sem cometer crime algum.
Desde a última eleição para presidente que o terceiro turno já fora sinalizado, quando o candidato tucano já deixava claro que não aceitaria o resultado das eleições caso ele fosse o derrotado; a velha frase “se ganhar não governa” foi dito em alto e bom som por parte da oposição na época das eleições; e foi o que de fato aconteceu; primeiro tentaram desqualificar as urnas eletrônicas, depois a briga foi para o TSE – Tribunal Superior Eleitoral, como forma de barrar a posse da Presidenta eleita, em seguida, com a posse, todas as medidas possíveis foram utilizadas para impedir a governabilidade, principalmente com as chamadas pautas bombas votadas no Congresso Nacional, como forma de inviabilizar qualquer possibilidade de fôlego da governante máxima. A idéia, como fora dita pelo Senador Aluysio Nunes ( PSDB) é vê-la sangrar até o fim.
Por fim chegou a vez do processo de impeachment instalado por Eduardo Cunha, depois que percebeu que o PT e o governo não o apoiaria com suas manobras para se livrar da cassação o mandato, uma vez que já era denunciado por corrupção.
O congresso votou no fatídico dia 17 de abril a admissibilidade do impeachment da Presidenta Dilma; foi um verdadeiro circo de horrores no qual os nossos parlamentares chegaram ao mais baixo grau do que podemos chamar de civilização; todo o processo foi instalado por um notório corrupto e com o aval de mais dezenas de deputados denunciados por corrupção.
O processo foi avante com o apoio da mídia tradicional e coma conivência de setores do judiciário que decididamente se colocaram em marcha para a derrubada da Presidente e para inviabilizar um partido político, o PT, que foi demonizado pela mídia e pela classe média, aquela que foi às ruas para pedir até mesmo a volta da Ditadura enquanto está numa democracia e com liberdade para protestar.
O processo de impeachment foi instalado contra uma presidente que não cometeu crime algum; e o pior, está sendo julgada por um grupo de parlamentares que inegavelmente se mostra mais sujo do que pau de galinheiro; uma presidente eleita democraticamente poderá ser banida definitivamente do governo porque vários políticos denunciados por corrupção são os juízes e querem o poder para manter a situação a seu favor; por isso que esse processo de impeachment é uma farsa em nome da lei, da ordem, da institucionalidade e da democracia
Nessa segunda- feira será o final dessa farsa e o início de fato da tragédia da maioria dos brasileiros com as políticas defendidas pelos defensores do impeachment; o Brasil, com o impeachment, jamais será o mesmo; será um pais quebrado, desmoralizado, com instituições frágeis, com uma justiça seletiva e com um congresso que decidiu condenar uma inocente.
Desmoralização é a palavra correta para falar do Brasil se o impeachment passar. O mundo interior já sabe que esse processo só faz sentido para os que não aceitaram a derrota nas urnas nas últimas eleições presidenciais.
O famoso escritor Luis Fernando Veríssimo definiu, em artigo publicado neste domingo, o processo de impeachment como uma ópera bufa na qual os palhaços somos todos nós brasileiros, especialmente os que foram as urnas para votar nas últimas eleições para Presidente da República em 2014. Para ele, “nossa situação é como a ópera “Pagliacci”, uma tragicomédia, burlesca e triste ao mesmo tempo. E acaba mal”
Até mesmo àqueles que foram ás ruas e que bateram panelas, do alto dos edifícios, em seus apartamentos, pela saída da Presidenta, também muitos não tem noção de que a conta do prejuízo também chegará para eles, caso o impedimento da Presidenta passe numa Assembléia formada por apenas 81 senadores.
Sim, mais de cem milhões de votos agora não valerão mais nada, pois, um terço dos 81 senadores, isto é, apenas 54 senadores, o que é ainda mais assustador decidirá o futuro do nosso país e de nossa frágil democracia.
A saída da Presidenta, caso aconteça, não será sua derrota, mas sim será a declaração do suplício da população empobrecida, que pagará a conta mais cara ainda do que já paga para viver, principalmente com a perda dos seus direitos e de políticas sociais básicas como saúde, moradia, educação, entre outras.
A ordem do progresso defendido pelas elites será a desordem do país e a via crucis da maioria da população com o processo de privatização em curso para a manutenção das desigualdades sociais, essa que de fato pagará o pato.
A ver.