João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, mestre em Sociologia e Professor da UFT – Campus de Arraias.Trabalha com projeto em cinema e educação.
O impeachment da Presidente Dilma trará algum alívio para o Brasil? Seguramente que não. Nem uma mente de sã consciência dirá que o impeachment trará algo de bom par ao país, a não ser os poucos que serão beneficiados; mas, certamente, esse impedimento de uma presidente eleita com mais de 54 milhões de votos tem tudo para trazer os maiores males possíveis; a começar pelo arranjo feito entre Cunha, réu no STF, e Temer, além de grande parte de deputados denunciados na Lava Jato, mas que continuam impunes.
Na verdade o parlamento brasileiro, de forma vergonhosa, votou pela admissibilidade do impeachment sem que a Presidente de fato tenha praticado crime suficiente para ser afastada. Assim, o que se fez de fato foi uma eleição indireta (na democracia?) sem que o povo tivesse a oportunidade de sequer saber de fato do que se trata.
Por mais que tentem explicar, cada vez mais fica evidente que a oposição, com apoio da grande mídia e com a conivência do judiciário, está conseguindo o que de fato é um golpe. Podemos denominá-lo de golpe branco, ou golpe institucional, o que se esta sucedendo no Brasil, pois é tudo em nome da lei.
Já não é preciso o barulho dos tanques e dos quepes nas ruas, pois, encontraram um meio digamos quase que sutil de derrubar uma presidente da Republica, que foi por meio da judicialização e, mais especificamente, das manobras judiciais. “Os quepes e os tanques foram trocados pelas togas”, conforme afirmou o filho do ex presidente João Goulart.
E as consequências dessa bazófia serão dolorosas, principalmente para a classe popular, para a educação e para a saúde; é que não resta dúvidas que a cartilha que reza as intenções de Temer e companhia não tem praticamente nada a oferecer aqueles que pertencem a parte inferior da piramide social. A palavra central dessa cartilha é privatização.
Por isso podemos afirmar com segurança que há um golpe em curso não apenas porque não há justificativas plausíveis para tirar a Presidente da Republica, mas principalmente porque o golpe será para a maioria simples que vive lutando para garantir o sustento de cada dia e que precisa de melhores condições para atender as outras necessidades básicas como saúde e educação.
Sim, o golpe é contra a maioria dos brasileiros que viu ir para o ralo todos os votos que elegeram a Presidente Dilma. Sim, foram tudo para o ralo em nome de Deus, da família, do periquito, do papagaio do corretor de imóveis, do torturador e etc e tal.
A vitoria do domingo fatídico, 17 de abril, que vai ficar na história como um dos mais vergonhosos da nossa Republica, foi a vitória da corrupção; a começar pelos que julgaram, uma vez que uma verdadeira quadrilha compostas por vários réus e denunciados em esquemas de corrupção julgaram uma presidente que não cometeu crime.
Diante de tantas aberrações é de se perguntar como o brasileiro simples pode algum dia acreditar nas nossas instituições comandadas por representantes parciais? Como pode um grupo de criminosos julgar uma inocente? Como pode a hipocrisia vencer e todos assistirem de braços cruzados o circo armado para a derrubada de uma representante legitimamente eleita para governar o país?
Depois de todo o circo de horrores, que já se tornou noticia no mundo, temos a criminalização dos movimentos sociais, a homofobia, o sexismo, a misoginia, a intolerância e a insensatez, entre outras mazelas, tomando corpo na sociedade brasileira; enquanto isso um congresso formado por uma maioria fascista e hipócrita legisla em nome do povo e contra o povo.
E o STF está aí para legitimar toda essa tormenta em nome da lei e da ordem? A história cobrará, sem dúvidas.