(João Gomes da Silva) O amor como atributo divino nem sempre pode satisfazer os humanos nas suas formas apequenadas de pensar e querer. Primeiro, porque quando o amor é exercido na sua máxima expressão não manipula nem é manipulável. Não joga com interesses mesquinhos e horroriza a mediocridade.
No texto bíblico (I João 4: 8 b), está escrito que Deus é amor. Ora, se Deus é amor, logo não pode odiar, pois se assim o fizesse estaria manchando a sua essência que é contrária ao ódio. Entretanto, a religião encarregou-se de construir a imagem de um Deus que odeia seus inimigos humanos, praticando contra eles verdadeiros massacres em detrimento de grupos ditos privilegiados.
Essa ideia do Deus vingativo proporcionou à religião o equivocado convencimento de poder praticar todas as maldades conhecidas (além de outras que continuam desconhecidas), e tudo em nome de Deus e com a sua suposta aprovação. Então, diante desse ponto de vista, pode-se dizer que Deus não é amor, pois o amor não exclui, nem seleciona privilegiado.
Se Deus é amor não pode atrair a obediência de suas criaturas pela conveniência atrativa da compensação, pois o amor não pode ser recompensado pelo jogo de interesses materialistas. Mas a religião construiu esse caminho equivocado, onde os transeuntes oram em gritos e lágrimas a um deus compensador e imediatista. Compensador financeiro, sentimental, que força as convivências mesmo contra a vontade do “outro” e move o braço antes paralisado, quando alguém bombardeia o céu com orações e oferendas.
Já foi dito que a forma mais cruel de se subjugar uma pessoa é exercendo poder sobre ela a partir de suas necessidades essência. Ora, se isso é repugnante aos humanos, imaginem em relação a Deus. Se Deus é amor ele não pode, de jeito nenhum, desfrutar da minha aceitação e serviço pela dominação. O amor não domina nem submete ninguém à subserviência.

Por derradeiro, se Deus é amor como creio que é, suas intervenções na vida humana ocorrem não por interesse conveniente, mas pelas nossas necessidades, sem esperar de nós compensações matérias, pois o amor só é compensado pelo amor. “A ninguém devais coisa alguma a não ser o amor”, afirmou o Apóstolo Paulo. Quem segue a Jesus rumo ao calvário leva consigo a cruz, o silencio e a ausência de interesses mesquinhos, pois ao pé da cruz não há intervenção.
Convém lembrar o que Jesus disse na cruz, antes departir para um plano superior: – “Deus meu, Deus meu! Por que me desamparastes? Tendo depois alcançado a glorificação e todo o poder nos céus e na terra. Pois é ali, e depois dali, que o amor se manifesta na sua mais alta expressão.
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João Gomes da Silva é escritor e teólogo, presidente da Igreja Betesda de Gurupi e titular da Academia Gurupiense de Letras. E-mail: [email protected]