João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT- Campus de Arraias.
A votação de domingo,17, da Câmara Federal sobre o processo de Impeachment da Presidente Dilma vai ficar na história como um absurdo, uma vergonha para o país.
Um processo capitaneado por um réu no STF por corrupção, foi acatado por 367 deputados federais que pareciam mais que estavam num programa infantil do tipo Show da Xuxa.
O Brasil já virou piada no mundo com essa votação, dada a falta de justificativa para afastar a presidente e o comportamento de conivência com a corrupção e os corruptos que assaltaram o poder. Os jornais New York Times (EUA), Der Spiegel (Alemanha), Irish Times (Irlanda), Le Monde (França), The Washington Post (EUA), Le Parisien ( França), Financial times (Reino Unido), The Times (Reino Unido), Reuters ( Reino Unido), El País (Espanha), The Wal Street Journal (EUA), entre outros, além de vários telejornais do mundo, se mostram abismados com a situação do Brasil, especialmente da baixaria que demonstrou o congresso Nacional nesse último domingo quando aprovou o impeachment sem base legal.
O que ficou patente, e não dá para esconder mais, é que um colegiado de bandidos aprovou julgou e condenou uma inocente. Mas o que chamou mais a atenção foi o baixo nível que demonstrou a grande maioria dos parlamentares.
Quase todos os que votaram sim ao impechment justificaram seus votos em nome de Deus, da família, da bandeira, do papai, da mamãe, do tio, da avó e, pasmen, pelo fim da corrupção.
O fato é que o sim ao impeachment é na verdade um golpe sob o manto da constitucionalidade; é golpe porque não tem base legal, como jáfoi demonstrado claramente pelo Advogado Geral da União e pelos juristas sérios desse país e do mundo; o próprio ExMinstro do STF, Joaquim Barbosa, foi enfático na sua posição, foi vergonhoso; a decisão não tem base legal.
Mas como se não bastasse a noite foi brindada com a tenebrosa fala do Deputado Jair Bolsonaro que, ao justificar seu voto elogiou um dos maiores torturadores da história da Ditadura Militar, o coronel Ulstra. Esse torturador foi responsável por mais de 60 mortes nos porões da ditadura e por mais de 500 torturas, dentre elas Dilma Rousseff quando tinha ainda 22 anos e defendia a democracia.
A fala de Bolsonaro foi um soco na democracia, um verdadeiro desrespeito, uma demonstração de apologia a tortura e ao crime. Após esse fato hediondo diversas pessoas, grupos e instituições que defendem a democracia entraram com uma petição a PGR para que o deputado Jair Bolsonaro seja punido com a perca do mandato.
A votação do impeachment da presidente, portanto, foi, sem dúvida um circo de horrores. Daí que precisamos falar de nossos representantes pelo país a fora. Não é possível que a cada eleição a sociedade escolha tão mal seus representantes.
Precisamos também de uma reforma eleitoral urgente, pois o nosso sistema representativo já demonstrou com todas as letras que não corresponde as demandas da sociedade. Mas, sobretudo, precisamos de uma educação de qualidade, que ofereça condições para a crítica e para a reflexão, não apenas para produzir máquinas.
É preciso pensar nisso tudo com urgência, até porque o golpe consumado levando Temer à presidência não trará solução para o país, pelo contrári, será doloroso o nosso futuro. O mundo está de olho e não concorda tanto com as barbaridades apresentadas.
A credibilidade do Brasil no mundo é quase zero a partir desse fatídico 17 de Abril de 2016, que 367 deputados pôs em risco definitivamente a nossa democracia, a rota para o futuro do país é sombria. O impeachment passando no senado significará que nossas instituições estão em ruinas, a insegurança jurídica se mostrará um fato.
Tempos duros com o avanço do fascismo e os mais prejudicados, como sempre, será a classe popular.