“O resultado direto do neoliberalismo é o desemprego e o sucateamento da saúde e da educação publicas; mas tudo acontece em nome da ordem social para garantir que nenhum privilégio conquistado pela burguesia, surrupiado por meio exploração pelos liberais, seja ameaçado e chegue ao fim; essa conta, como sempre, fica para os trabalhadores”. João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação
A sociedade, desde o século XVIII, com a ascensão da burguesia ao poder, que pôs fim ao antigo regime, foi estabelecida sob a ótica do Liberalismo. Esse modelo consiste na defesa intransigente do indivíduo e da propriedade privada, especialmente dos meios de produção.
Não resta dúvida de que alguns princípios do liberalismo são importantes; por exemplo, a defesa da liberdade é algo indispensável à vida do ser humano na sociedade. Também não se pode negar a preocupação trazida pelos liberais com a necessidade de um Estado de Direito capaz de atender os anseios do povo; nesse caso os liberais, formados principalmente pela burguesia, se consideravam também povo; é que no Antigo Regime ela também não tinha direito a voto; não havia sequer a consolidação do termo cidadania de forma ampliada, de modo que todos fossem contemplados pela lei maior, a Constituição.
Considerando esses aspectos citados anteriormente, não resta a menor dúvida que a mudança trazida com a Revolução Francesa foi fundamental para se colocar em prática uma nova sociedade; melhor dizendo, uma melhor relação entre Estado e sociedade; com isso, todos poderão reivindicar seus direitos escolhendo os seus representantes para que governem legislem de fato para todos, sem exceção.
O liberalismo surge com toda força, principalmente limitando o poder do Estado para que não interfira na economia e deixe que o mercado sabe muito bem fazer o melhor em nome do individuo e da liberdade.Surge uma nova perspectiva de mundo com o avanço das idéias liberais
Se antes o Estado absolutista sufocava o povo, impedia os comerciantes de desenvolverem suas atividades de forma livre e sem tantos impostos, agora chegou a vez da iniciativa privada, pois, assim é que deve ser a relação Estado e sociedade, na concepção liberal: uma relação que favoreça a liberdade máxima para o mercado, inclusive em relação aos serviços essenciais como saúde, educação, segurança, previdência, tudo agora fica sob a livre escolha do mercado; o Estado, por sua vez, deve se encarregar de atender as necessidades do mercado, legislando de forma que garanta definitivamente a livre iniciativa em nome da lei e da ordem.
Esse é o liberalismo que se impôs no mundo desde então; mas na prática as coisas não foram tão boas assim, principalmente para os trabalhadores em geral. A ganância dos liberais capitalistas colocou em risco o próprio sistema que se instituiu sob a ótica do capital; a miséria dos trabalhadores em todo o mundo evidenciou os abusos do liberalismo tão defendido pelos burgueses; até hoje essa história não mudou.
A partir dos anos 1970 surgiu a idéia de neoliberalismo; isto porque com as crises econômicas geradas pelas próprias condições e praticas dos liberais, aconteceram duas grandes guerras mundiais, a quebra das bolsas de valores nos Estados Unidos em 1929, que resultou na chamada grande depressão, depois teve a crise do Petróleo já nos anos 70 e o mundo se dividia pela Cortina de ferro com o surgimento de dois blocos políticos e econômicos: o capitalismo e o socialismo; Estados Unidos e União Soviética dividiam as concepções de mundo.
Já nos anos 1960 revoluções socialistas, como a cubana, lideradas por Che Guevara e Fidel Castro, influenciavam significativamente novos movimentos revolucionários em varias partes do mundo; os liberais capitalistas estavam assustados com a onda socialista e com a idéia de Estado Social ou do Bem Estar Social.
O Estado benfeitor considerava a idéia de um estado providencial, portanto, voltado para assegurar os serviços essenciais e políticas sociais mais justas; mas as crises econômicas e políticas, especialmente a crise do Petróleo nos anos 1970 fizeram com que os liberais exigissem a volta do Estado Mínimo, aquele dos velhos tempos; com isso a bandeira central passou a ser a privatização e a diminuição do Estado, especialmente no que tange as conquistas dos trabalhadores adquiridas com o Estado social.
Surgem as ditaduras civis militares para, como sempre, colocar as coisas em ordem; pipocam ditaduras em várias partes do mundo; a América Latina, então, quase toda ficou sob o jugo do militares e com todo o apoio da burguesia, da classe media e de setores da Igreja católica. Perseguição e repressão aos militantes de esquerda se tornaram comuns; torturas e assassinatos foram institucionalizados; o Brasil viveu mais de vinte anos de chumbo e, mesmo com a volta a democracia o sistema jurídico e policial se manteve quase o mesmo.
Com o neoliberalismo grande parte dos direitos sociais vai a baixo: a maioria dos direitos trabalhistas, as políticas sociais de inclusão, saúde publica e educação para todos, dentre outras conquistas; agora vale os interesses privatistas e a população se torna alvo de manobras políticas para o desmantelamento do Estado e sua conseqüente desobrigação social; volta então o eco capitalista liberal; o indivíduo e a propriedade como mote e salvem-se quem puder.
O resultado direto do neoliberalismo é o desemprego e o sucateamento da saúde e da educação publicas; mas tudo acontece em nome da ordem social para garantir que nenhum privilégio conquistado pela burguesia, surrupiado por meio exploração pelos liberais, seja ameaçado e chegue ao fim; essa conta, como sempre, fica para os trabalhadores.
A ascensão do neoliberalismo chega ao seu auge tendo a frente figuras como Margaret Thatcher (Inglaterra) e Ronald Reagan (Estado Unidos) nos anos 1980. A “Dama de ferro” chegou a dizer que não existe essa de sociedade, o que existe é o indivíduo, portanto, cabe ao indivíduo toda a liberdade; ela só fez de conta que esqueceu que esse indivíduo para ela significava apenas os ricos.
O mundo se globaliza, as distâncias entre os povos se encurtam, pelo menos do ponto de vista da comunicação e das tecnologias de ponta; tudo ocorre sob a direção dos capitalistas; as grandes corporações tomam conta da maior parte da vida das pessoas no mundo; saúde, alimentação, vestuário, esporte, lazer, educação, cultura, arte etc.; não fica nada que não tenha a marca da globalização capitaneada pelas grandes corporações; até mesmo faculdades e universidades passam a ser grandes negócios; é o chamado deixa fazer, deixa passar, o tão cantado laissez faire dos liberais em todo o vapor.
Enquanto tudo isso acontece as desigualdades sociais só aumentam; toda a riqueza produzida não trouxe consigo a diminuição da pobreza e da miséria, mas aconteceu exatamente o contrário.
Hoje toda essa onda conservadora liberal se torna mais forte e, além disso, o fascismo e o fundamentalismo são grandes serpentes que já saíram dos ovos. No Brasil o nosso congresso é a representação máxima do retrocesso posto em prática com o golpe em curso.