“Agora sim, nessa “terra arrasada” estamos à mercê de procuradores e de juízes que nunca na vida souberam na prática o que significa pobreza e miséria. E nessa “terra arrasada’ atuar como deuses é o que não falta, principalmente quando se tratam de representantes que não foram eleitos pelo povo e agora decidem o destino de todos. Pois é, as lições de Montesquieu, famoso teórico da divisão dos poderes na época do Iluminismo, claramente parece não fazer sentido por essas terras tupiniquins”, João Nunes da Silva.
João Nunes da Silva
Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. Trabalha como projeto em cinema e educação
Hoje eu me pergunto: para onde vamos como país? Eu nem falo de nação, pois esta significa uma abstração, embora não deixe de fazer sentido quando os seus elementos identitários se mostram presentes de tal forma que unem um povo e dão a ideia de pertencimento; por exemplo: nossas riquezas naturais e culturais, nossa garra, nossa diversidade, entre outras coisas.
Fico pensando que tipo de pertencimento a nossa elite colonialista e mesquinha imagina ter, quando todos os seus valores estão voltados para outros países, enquanto ignora, rebaixa e seus representantes entregam nossas riquezas, sufocam os mais frágeis e ainda insistem em fazer todos acreditarem que possuem um projeto de país. Sim, possuem um projeto no qual poucos se beneficiam enquanto a maioria é mantida na miséria. Isso não pode ser chamado um projeto de país.
Como questiona uma das músicas do Legião Urbana: que país é esse?
Sim, eu pergunto aos senhores que golpearam uma presidente eleita legitimamente, que país é esse que querem?
Hoje definitivamente estamos à mercê de um sistema judiciário que, em nome do combate a corrupção atua seletivamente para proteger um grupo, enquanto suas ações legitimaram um golpe, chamado de impeachment e colocou o país numa situação de instabilidade, além de ter enfraquecido parte de nossas maiores empresas, e de ter como legado a criminalização da política e instigado o ódio.
E tudo acontece em nome da ordem e da lei contando com a liderança constante de uma imprensa que age definitivamente contra o país e que há tempos atua na contramão dos interesses e necessidades da maioria da população trabalhadora e pobre.
As ações seletivas de parte do judiciário, especialmente do MPF e da PGR, têm demonstrado mais uma perseguição, quando não uma irresponsabilidade e má fé dos que se acham acima da lei. Sim, porque procuradores e juízes também não estão acima da lei, pelo menos quando há democracia de fato.
Numa verdadeira democracia aqueles que julgam também podem ser julgados (e por isso que existe o Conselho Nacional de Justiça – CNJ). Aqueles que julgam não devem, portanto, agir claramente de forma seletiva e contraditória, principalmente quando o que está em jogo é o futuro do país.
Após a chamada “delação do fim do mundo” de uma das maiores empresas de infraestrutura, a Odebrecht, definitivamente, o nosso sistema político foi implodido. Estamos no que metaforicamente chamamos de “terra arrasada”, mas, com um diferencial, uma vez que quem está pagando a conta de tudo é quem mais precisa de apoio; mais uma vez, a população pobre e trabalhadora é quem paga o pato.
Agora sim, nessa “terra arrasada” estamos à mercê de procuradores e de juízes que nunca na vida souberam na prática o que significa pobreza e miséria. E nessa “terra arrasada’ atuar como deuses é o que não falta, principalmente quando se tratam de representantes que não foram eleitos pelo povo e agora decidem o destino de todos. Pois é, as lições de Montesquieu, famoso teórico da divisão dos poderes na época do Iluminismo, claramente parece não fazer sentido por essas terras tupiniquins.
Agora eu pergunto: que país é esse onde os direitos trabalhistas agora representam meros sonhos, tendo em vista que a CLT se tornou apenas uma referencia?
Que República é essa onde se decidem os destinos do país por meio de vazamentos seletivos de delações enquanto os verdadeiros culpados julgam e criminalizam seus opositores ou quem questiona?