“A demonstração clara do espetáculo midiático protagonizado no dia 14 está na total falta de provas e na postura messiânica do Procurador. Com certeza, nesse dia qualquer estudante iniciante de Direito viu o que jamais pode ser feito por um representante da justiça quando se trata de acusar alguém”. João Nunes da Silva
João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor adjunto da UFT- Campus de Arraias. Trabalha com projetos em cinema e educação.
A apresentação da denúncia do Ministério Púbico Federal contra o ex Presidente Lula no dia 14 do corrente mês foi um verdadeiro espetáculo midiático no sentido mais literal da palavra. O fato chamou a atenção de todos, dotados de um mínimo de bom senso, que a justiça brasileira virou uma piada de mau gosto.
E o pior é que os principais responsáveis para zelar pela justiça, pela democracia e pela constituição se mostram os primeiros a desrespeitar o Estado de Direito brasileiro.
A denúncia espalhafatosa, feita pelo jovem Procurador responsável pela Força tarefa da Operação Lava Jato, peca pela falta de provas contra Lula e pelo excesso de politização e espetacularização.
Munido de um Power Point o representante do MPF se encantou com os holofotes da mídia e fez um show pirotécnico de forma a responsabilizar o ex-presidente como principal culpado pela corrupção na Petrobrás e apontado como o chefe da quadrilha, nas palavras do Procurador.
O fato demonstra claramente o desrespeito ao Estado de Direito, pois, um dos principais representantes da justiça preferiu o partidarismo e a politização, do que atuar pelo menos conforme os preceitos jurídicos e baseados na cientificidade e no respeito às leis.
A ação espalhafatosa do representante do MPF coloca em xeque até mesmo a Operação Lava jato quando deixa de agir sob o prisma da justiça para abraçar a politização e a subjetividade.
![João-Nunes-1 Provas, convicção e messianismo João-Nunes-1 Provas, convicção e messianismo](http://www.atitudeto.com.br/wp-content/uploads/2016/09/João-Nunes-1.jpg)
Ficou demonstrado que não importa as provas, mas sim a convicção, principalmente quando se tem o auxílio de um Power point para criminalizar alguém em atendimento aos interesses e desejos do conservadorismo, da mídia partidarizada e do fanatismo.
A demonstração clara do espetáculo midiático protagonizado no dia 14 está na total falta de provas e na postura messiânica do Procurador. Com certeza, nesse dia qualquer estudante iniciante de Direito viu o que jamais pode ser feito por um representante da justiça quando se trata de acusar alguém.
A estratégia do power point já foi usada até pelo governo americano, quando na época da Guerra contra o Iraque o Secretario de Estado Colin Powell, na ausência de provas de que Sandam Husseim estava fabricando bombas químicas optou por apresentar um tubo de ensaio que estava em suas mãos, além de desenhos e gráficos que não comprovavam absolutamente nada em relação as armas químicas e também não diziam nada que justificasse a Invasão dos Estados Unidos no território iraquiano; mas assim foi feito.
Toda a pirotécnica midiática utilizada pelo secretario Colin Powell deu base para que Bush iniciasse a guerra no Iraque, mesmo que os cientistas que estavam a serviço das Nações unidas não tivessem encontrado nada que indicasse a preparação de armas químicas por parte do Iraque. A guerra aconteceu e nada se comprovou, a não ser as barbaridades praticadas pelos soldados estadunidenses contra os prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Grhaibi, no Oeste do Iraque.
A prisão de Abu Ghraib se tornou conhecida internacionalmente depois que foram vazadas fotos de prisioneiros iraquianos sendo torturados por soldados americanos durante a guerra do Iraque (cf. http://www.infoescola.com/historia/prisao-de-abu-ghraib/.
Todas as atrocidades praticadas pelos soldados americanos com os prisioneiros civis e militares iraquianos durante a guerra aconteceu em nome da paz, da democracia e do antiterrorismo. Detalhe: os Estados Unidos têm fabricado inimigos com vistas a convencer a população para colocar em prática sua estratégia belicista; tudo isso alimentando o medo e a sensação de insegurança dos próprios americanos.
Essa mesma estratégia tem sido colocada em prática contra os governos especialmente na America latina. Para isso tem recebido apoio da elite conservadora e conta com o aparato jurídico e midiático para alcançar seus objetivos.
No Brasil o golpe parlamentar efetivado e a caçada às lideranças como Lula se mostram claramente estratégias elaboradas, especialmente porque conta com o apoio constante dos grandes grupos midiáticos para criminalização de políticos e militantes de esquerda. Para isso conta com algo que é fundamental para atender seus objetivos que é a ignorância da maioria da população.
A substituição das provas pela convicção para condenar sumariamente quem é considerado culpado, antes de qualquer possibilidade de defesa do réu, viola gravemente o Estado de Direito, o que evidência um Estado de exceção; quando os inimigos são perseguidos pela lei e os amigos são blindados, mesmo que se mostrem claramente os crimes praticados por esses, temos então uma situação de perigo para todos; se um ex-presidente é considerado criminoso sem que para isso se tenha um prova sequer, imagine para um cidadão comum, principalmente se for pobre, como é o caso da maioria dos brasileiros?
Tal situação evidencia perseguição típica de regimes ditatoriais; nesse caso a democracia se torna apenas uma lembrança e um desejo dos perseguidos.
A atitude dos principais representantes do MPF em relação a acusação ao ex-presidente Lula constitui uma ignomínia; se a Constituição e o Estado de Direito devem ser respeitados, porque a lei não é praticada para todos? Qualquer cidadão sabe e vê que as ações da Lava Jato se tornaram seletivas e tem se mostrado indiscutivelmente voltada para um único objetivo: a prisão de Lula: com isso se abre espaço para a criminalização da esquerda e para colocar em prática uma agenda que jamais seria aprovada pela maioria da sociedade. Tal agenda corresponde às políticas de privatização e a flexibilização das leis trabalhistas; o que corresponde à perda dos principais direitos adquiridos pelos trabalhadores a custa de muita luta, suor e sangue.
A postura adotada pelo Procurador contra Lula se mostra também de um messianismo tosco, o que torna mais preocupante ainda. Quando os principais representantes do Direito deixam de lado o ordenamento jurídico e tomam decisões claramente políticas e salvacionistas, típicas de líderes messiânicos, estamos então em grande risco, pois o Fascismo se mostra claramente nessas práticas.
Escolhe-se um alvo como criminoso sem que para isso se tenha as provas do crime. Isso é claramente uma justiça quixotesca e ditatorial.
Por fim, uma pergunta que não pode calar: Por que a justiça só serve se for contra um único partido? Não estou aqui dizendo que partido A ou B só tem santo, estou apenas lembrando por que delações contra partidos como o PSDB não são alvo de investigação? Que tipo de justiça é essa?