“Médicos que entregam receitas com letra ilegível aos pacientes podem ser punidos. A medida está no próprio Código de Ética do Conselho Federal de Medicina (CFM), e deve ser remetido ao conselho regional respectivo”. Reclama Jonair Rocha sobre letras ilegíveis nos receituários médicos em Gurupi.
por Jonair Rocha
Letra de médico é, por tradição, difícil de ser compreendida. Mesmo com leis obrigando a utilização de letra legível nos receituários médicos muitos profissionais ainda insistem em não caprichar na caligrafia. Nesses casos, sobra para os atendentes e farmacêuticos a árdua tarefa de desvendar os nomes dos medicamentos.
Alguém conseguiu ler o que está prescrito nesta receita médica?
Vou traduzir:
Naldecom dia
Tomar 02 comprimidos de 12×12 horas por 05 dias..
Expec xarope
Tomar 10 ml de 6×6 horas.l
Benalet pastilha
Chupar uma pastilha de 4×4 horas.
Essa prescrição é só uma amostra de como a caligrafia médica não legível pode trazer uma série de transtornos para os pacientes. De posse dessa receita me dirigi até uma farmácia para comprar os medicamentos.
Confesso que não consegui entender o que estava escrito no receituário. O atendente da farmácia e o farmacêutico também não. Este é apenas o começo dos problemas.
E eles podem ser ainda maiores se o doente comprar e tomar o medicamento, por engano ou irresponsabilidade de quem vendeu o remédio.
O atendente me aviou o primeiro medicamento com sendo Nimesulida. Ora, a Nimesulida é um potente anti-inflamatório não esteroide, que combate as inflamações, dores e febres.
Importante que essa receita foi prescrita à minha esposa após eu levá-la a um Hospital particular o médico que a atendeu diagnosticou o seu quadro como sendo de resfriado ou um princípio de gripe.
Notei que havia algo errado e contestei o atendente, ele ficou em dúvida e resolveu ligar no hospital.
Foi quando após consultar o prontuário, o Hospital elucidou a dúvida do atendente.
Ele me confidenciou ainda, que às vezes o receituário de alguns médicos é levado a várias farmácias para ver se alguém consegue decifrar os garranchos.
A irresponsabilidade de fornecer o medicamento incorreto me deixou indignado, pois o risco é grande.
O atendente agiu corretamente, quando ao não entender o que estava escrito, entrou em contato com o hospital, pois, tomar medicamentos errados pode trazer sérias complicações.
Médicos que entregam receitas com letra ilegível aos pacientes podem ser punidos. A medida está no próprio Código de Ética do Conselho Federal de Medicina (CFM), e deve ser remetido ao conselho regional respectivo.
De acordo com o Código de Ética Médica, no seu artigo 87 “os atestados ou receitas não podem ser fornecidos de forma ilegível.
A obrigatoriedade de letra legível em receituários médicos no Brasil é antiga. Em 1932, o Decreto 20.931, que regulamentou a profissão de médico, já trazia em seu artigo 15, a determinação de escrever as receitas por extenso e de maneira legível. Em 1973, a Lei 5.991, que dispunha sobre o controle sanitário de insumos farmacêuticos, reforçava em seu artigo 35 que “somente será aviada a receita que estiver escrita à tinta, em vernáculo, por extenso e de modo legível”.
Trata-se de dispositivo ético a ser respeitado por todos os médicos, sob pena de sofrerem punições éticas por prejuízos causados a seus pacientes, já que o mesmo deve conter a conduta a ser adotada para o correto tratamento do mesmo.
Podemos ir mais além, tenho conhecimento de vários profissionais de Medicina que fazem as receitas e os pedidos de exames digitados e impressos em Gurupi.
Em alguns estados do País já existem leis estaduais que obrigam as receitas médicas e os pedidos de exame ser digitados no computador e impressos pelo médico no momento da consulta, acompanhados de sua assinatura e carimbo, nos hospitais públicos e privados, ambulatórios, clínicas e consultórios médicos e odontológicos particulares.
Jonair Rocha é Médico Veterinário, Professor e Perito Criminal.