João Nunes da Silva
Doutor em Comunicação e cultura contemporâneas, mestre e m Sociologia e Professor da UFT- Campus de Arraias.
Nos dias 9 a 11 de outubro do corrente ano estive em Divinópolis, juntamente com os professores Alessandro Pimenta e Chico Leite, para realizar atividades de extensão referente ao Projeto Cine Clube nas Comunidades do Campo. Fomos exibir um filme sobre Direitos Humanos numa escola que fica num assentamento, Riacho Seco. Antes, porém, tivemos a oportunidade de visitar as instalações da escola; na oportunidade interessava-me bastante conhecer a biblioteca. Lá me deparei com um amontoado de livros numa área aberta. Intrigou-me aquela situação.
Vários questionamentos me vieram à cabeça, principalmente sobre livros, leituras e sua importância. Diante da situação me vieram à mente essas linhas; fiquei pensando sobre a leitura e sua relevância para todos. Aí me lembrei dos meus anos de experiência na educação; já são quase vinte anos no ensino superior.
![João-Nunes-da-Silva-1b “QUEM MAL LÊ, MAL OUVE, MAL FALA, MAL VÊ” João-Nunes-da-Silva-1b “QUEM MAL LÊ, MAL OUVE, MAL FALA, MAL VÊ”](http://www.atitudeto.com.br/wp-content/uploads/2015/10/João-Nunes-da-Silva-1b.jpg)
Após todos esses anos, uma pergunta continua insistente: Por que será que a maioria dos estudantes, inclusive da Universidade, tem tanta relutância para fazer alguma leitura? São poucos os alunos que demonstram ter realizado a leitura do texto indicado para a aula; essa realidade envolve os alunos de todos os períodos, desde o primeiro ao último.
Todas as disciplinas, principalmente as relacionadas às ciências sociais e humanas, exigem leituras, analise e interpretação de textos; inclusive tem uma disciplina chamada Leitura e produção de Textos, além das metodologias cientificas, só para citar algumas, que exigem leituras, bastantes leituras.
Pois bem, acontece que a grande luta que tenho travado diariamente nas salas de aulas é fazer com que o estudante faça a leitura do texto que indicamos para discutir na aula. Com raras exceções, o resultado na hora é um silencio total quando pedimos para falar sobre o texto.
Percebe-se, inclusive, que alguns alunos ficam até com raiva diante da pergunta básica. Aí vêm aquelas desculpas que não fazem o menor sentido, a não ser revelar a forte rejeição ao ato de ler e, por sua vez, a preguiça e a ignorância.
Na escola que visitei no assentamento me deparei com uma frase escrita numa cartolina, já desgastada pelo tempo, sobre a leitura. A frase, segundo constava, é atribuída a Monteiro Lobato. A frase dizia: Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê. Fiquei com isso na cabeça e pensei: essa é a mais pura verdade.
Ah, como seria bom que todos os estudantes soubessem de fato a importância da leitura, e do prazer que ela proporciona, além de abrir os olhos para o mundo a sua volta!
De fato, quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.
Significa que aqueles que não lêem se limitam à mediocridade; não conseguem perceber um palmo além do nariz. Quanto menos leitura, mais mediocridade.
A falta de leituras torna o individuo um limitado, um verdadeiro ignorante. Assim, o estudante que não lê está fadado à ignorância e ao fracasso.
Num ambiente universitário, como numa sala de aula, se tem a oportunidade de socializar leitura, de abrir a mente para o mundo. É sem dúvida uma oportunidade indispensável; mas, o que acontece é o de sempre: pouquíssimos lêem, ou, quase ninguém ler. Já tive várias situações nas quais nenhum aluno leu o texto. É lamentável.
Quem não lê passa pelo mundo e não ver; fica no senso comum e, muitas vezes, destilando ignorância e rancor. A falta de leituras entorpece o ser humano, faz dele uma máquina ou uma peça de reposição.
Quem fica só no senso comum devido à falta de leituras críticas, não tem capacidade mínima para argumentar, problematizar, propor, projetar e, principalmente, não serve para a sociedade; torna-se, dessa forma, um ser limitado a sua ignorância e sua miopia.
Pergunto-me como pode um estudante concluir um curso sem fazer o exercício da leitura. Por isso nos defrontamos com tantas aberrações nas falas, na escrita e no comportamento de muitos.
A disposição para a leitura favorece o cérebro, impede que ele se atrofie; também afasta os fantasmas e as ilusões. O hábito da leitura é indispensável ao ser humano e a vida em sociedade.
Quem ler exercita a capacidade de escutar, aprende a ver e a falar somente o necessário. Aprende a escrever, pois, enriquece seu vocabulário e, com isso, a escrita se torna cada vez mais fluente; aprende a raciocinar logicamente, a contextualizar e a buscar respostas coerentes diante das diferentes situações.
Quem não lê não sabe falar, nem ouvir, e muito menos escrever.
Existe a leitura do mundo e a da escrita; a do mundo é aquela adquirida pela experiência e pela sensibilidade, conforme ensinou o Mestre Paulo Freire, todavia, uma depende da outra.
É pela leitura que nos tornamos verdadeiros cidadãos.